E também conduziram outros dois, que eram malfeitores, para com ele serem mortos. E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. E disse um dos malfeitores a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.
Lucas 23:42-43, Lucas 23:32-33
A vida na periferia não era nada fácil. Bandidos, mendigos, prostitutas, povo pobre, miserável, entregue à própria sorte, entre a morte cotidiana e a morte em vida, promovida pelos opressores. A vida nos guetos de Israel era vida penosa, como cheiro de morte ao fim do dia.
A fome assolava aquele lugar de desertos. Terra árida, incultivável e quando cultivada, não rendia a quem cultivava a totalidade do fruto da terra.
Nesta terra, não se plantava para comer, mas para pagar as dívidas, os impostos, pagamento feito aos opressores que a cada dia exigiam mais e mais.
Nessa terra, nesse estado triste de vida, nasce um garotinho, filho do gueto. Sua mãe já não sorria quando nascia um filho, pois no gueto onde vivia, a fome e a dor da vida já lhe cobravam um preço alto de mais. Seu coração doía por saber que seu filho era só mais uma boca faminta para alimentar.
Nascido assim, pobre, miserável, o que este garoto precisava era de amparo. Precisando de uma mão que o ajudasse, encontrou várias mãos que o impediam de ser alguém além do gueto em que viva.
A sociedade religiosa e hipócrita de Israel, ansiava por um messias que os libertassem da opressão e não tinha tempo de olhar para os oprimidos da nação.
Fingindo-se de cegos, viravam os rostos e, olhando para outro lado, ignoravam quem vivia no gueto.
O menino nascido no gueto, mesmo com fome, segue sua vida. Cresce, sai e casa, vai brincar nas ruas. Pés no chão, nariz escorrendo, brinca com a vida para tentar esquecer a vida que não brinca com ele, mas que o fere, maltrata e segrega.
A dor do vento frio que toca seu corpo, não é maior que a dor da fome que lhe corrói o estômago, que não é maior que a dor da alma por se sentir desprezado no gueto.
Para solucionar a fome, vagando nas ruas, ele aprende a roubar. Luta uma luta de quem precisa sobreviver no gueto, lugar da sua vida quase morta.
O garoto cresce, se torna jovem, se transforma em um homem, mas sua vida não muda. Vida desumanizada pelas elites de Israel e pela opressão romana.
Usando de armas, quem sabe uma faca, pedra, ou punhal, aterroriza a população do gueto. Assalta casas, estupra mulheres, se torna um odiado malfeitor, a quem todos desejam a morte.
Não vai longe, é preso, julgado, condenado a morte. Mas que morte? Que morte pode se dar a alguém que já nasceu indesejado e morto?
Sua mãe, tal como no nascimento, chora a morte anunciada. A mesma morte anunciada no dia do seu nascimento.
Condenado à cruz, com outros dois condenados, cercados por uma multidão que os atormenta, fazendo de suas mortes um espetáculo, de súbito o homem do gueto percebe uma diferença no seu companheiro de morte. Ele não condena ninguém, antes, aceita sua morte como fato definido em sua vida.
Retruca com o outro malfeitor, afirma que são merecedores de um castigo que o outro homem não é. Vira-se para o outro condenado e diz: “lembra de mim quando você entrar no seu reino”.
Como resposta, recebe o convite de estar naquele mesmo dia com o mestre no paraíso.
Três homens do gueto morrem na cruz naquele dia cinzento. No mesmo dia cinzento, mais uma mãe chora. Não é somente a mãe dos homens da cruz que chora, mas a mãe de outro pobre garotinho que nasce no gueto, para viver mais uma história de morte em vida.
In The Ghetto As the snow flies On a cold and gray Chicago mornin' A poor little baby child is born In the ghetto And his mama cries 'cause if there's one thing that she don't need it's another hungry mouth to feed In the ghetto People, don't you understand the child needs a helping hand or he'll grow to be an angry young man some day Take a look at you and me, are we too blind to see, do we simply turn our heads and look the other way Well the world turns and a hungry little boy with a runny nose plays in the street as the cold wind blows In the ghetto And his hunger burns so he starts to roam the streets at night and he learns how to steal and he learns how to fight In the ghetto Then one night in desperation a young man breaks away He buys a gun, steals a car, tries to run, but he don't get far And his mama cries As a crowd gathers 'round an angry young man face down on the street with a gun in his hand In the ghetto As her young man dies, on a cold and gray Chicago mornin', another little baby child is born In the ghetto As his mama cries | No Gueto A neve cai Numa fria e cinza manhã de Chicago Um pobre garotinho nasce No gueto E sua mãe chora Porque se existe uma coisa que ela não precisa É outra boca faminta para alimentar No gueto Gente, vocês não entendem? A garoto precisa de uma mão de amparo Ou um dia ele se tornará um jovem irado Olhe para você e para mim Nós estamos tão cegos assim ou simplesmente viramos nossos rostos e olhamos para o outro lado? O tempo passa E o pobre garotinho com o nariz escorrendo Brinca na rua enquanto o vento frio sopra No gueto E a fome aperta Então ele começa a vagar nas ruas à noite E aprende a roubar E aprende e lutar No gueto Então em uma noite de desespero O jovem foge Compra uma arma, rouba um carro, Tenta fugir, mas não chega longe E sua mãe chora Enquanto uma multidão se amontoa em volta de um irritado jovem homem Caído na rua com uma arma em suas mãos No gueto E enquanto seu jovem morre Numa fria e cinza manhã de Chicago Outro pobre garotinho nasce No gueto E sua mãe chora |
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