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Eclasiastes de Salomão e banda Marmelade

Elementos da revelação e do relacionamento de Deus na cultura humana .[1]

Introdução

O cristianismo, ao longo de sua história, teve que conviver com as realidades múltiplas da cultura de cada lugar por onde ele se aportou. De modo tenso, em grande parte da história, o cristianismo se impôs como a única forma de se chegar ao Sagrado. Nesse sentido, o cristianismo ditou normas, as quais não sendo seguidas, gerava aqueles que não as seguiam algum tipo de desconforto, exclusão e em muitos casos, tortura e morte.

É preciso então, compreender como a cultura de um povo pode ser um fator de aglutinação e não de dispersão da mensagem do evangelho ensinado por Jesus de Nazaré. A aproximação do ser humano do Sagrado exige-lhe que sepulte seu contexto cultural? A cultura é em si mesma profana?

Tentaremos ao longo desse artigo, discutir sobre essas questões sobre a relação da cultura com o Sagrado e o ambiente de fé religiosa, notadamente o cristianismo. Não é nossa pretensão, enxergar nessas poucas linhas a solução para tão grande discussão, mas um início de uma reflexão que enxergue a fé e a cultura como não sendo, necessariamente, auto-excludentes.

  1. Sobre o conhecimento humano de Deus[2]

O conhecimento de Deus pelo ser humano é, antes de tudo, uma ação que está permeada de tentativa e fracasso. Conhecer com a mente finita aquele que é infinito é por si só, uma tarefa que não logrará êxito.

Então, o que se quer dizer quando alguém diz que conhece a Deus, ou quando alguém faz um convite para o conhecimento de Deus? Do ponto de vista cristão, conhecer Deus através dele mesmo não é o melhor caminho. José Maria Castilho, em sua obra “Deus e a nossa felicidade” declara que “para conhecer a Deus, não se pode começar por Deus em si mesmo”[3]. Nesse sentido, dizer que se conhece a Deus por sua própria experiência é, na realidade, dizer que conhece uma imagem que se faz de Deus.

A revelação de Deus para a humanidade, essa sim, faz todo o sentido. Nela, não há chances de equívocos, pois quem se auto-revela também se auto-conhece, não havendo, portanto, oportunidade para uma revelação de segunda classe. Então, para que o Homem conhecesse Deus, Ele mesmo teve que se revelar.

Essa revelação é feita no contexto cultural de um povo. Primordialmente, o povo de Israel. Tentar compreender Deus e suas manifestações no meio deste povo, desvinculando-o do ambiente cultural de Israel, é no mínimo gastar tempo com divagações que não levarão a lugar algum.

Tomando como exemplo as festas em Israel, poderemos perceber a estreita relação entre a cultura do povo e seu relacionamento com Iahweh, o Deus de Israel. Existem três festas mais significativas em Israel: a Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos. Estas festas serviam para mostrar a união do povo e o livramento que Iahweh lhes dera. Na obra “A Palestina nos tempos de Jesus, de Saulnier e Rolland, temos uma declaração sobre as festas.

Três festas exercem, em Israel, um papel importante; são momentos em que o povo faz questão de se reunir para manifestar a solidariedade que une seus membros e para celebrar as grandes intervenções do Senhor, libertador de seu povo: são as três festas de peregrinação, Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos (ou Tendas). “Três vezes por ano, declara o Deuteronômio, todos os vossos varões se apresentarão diante do Senhor vosso Deus no lugar que ele tiver escolhido: na festa dos Ázimos, na festa das Semanas e na festa das Tendas” (Dt 16,16). Essas festas parecem ser, no início, celebrações ligadas ao ritmo da natureza: na primavera, os nômades oferecem à divindade os primogênitos do seu rebanho (páscoa) e os camponeses sedentários, as primícias da colheita da cevada (festa dos ázimos); a festa das semanas situa-se no verão, no fim da colheita do trigo e a das Tendas, no outono, no fim da colheita das frutas. No decurso dos séculos, essas festas foram “historicizadas”, quer dizer, é ligado a cada uma delas um acontecimento histórico.[4]

É importante perceber, que as festas principais foram, como dizem os autores, “historicizadas”. Nesse sentido, compreendê-las com somente uma festa religiosa, retira delas esta característica relacional com a história do povo de Israel. Por outro lado, mesmo sendo festas de caráter religioso, não há como separá-las da história e da cultura desse mesmo povo.  Este é um pequeno exemplo de como não é possível desvincular o conceito teológico sobre o Sagrado, das relações cotidianas de um povo.

Sendo então a revelação de Deus, algo que tenha início no próprio Deus, podemos considerar como sendo esta revelação a mais adequada possível. Dizendo de outra forma, um ser que se conhece por completo, tem o poder de se revelar completamente, pois não tem limites em si mesmo, nem para quem ele se revela. Entretanto, é em para quem ele se revela que residem as limitações. Nesse sentido, Deus ao se revelar em sua plenitude, não o faz a partir de si mesmo, mas a partir de categorias conhecidas pelo ser humano.

Este conhecimento então, não está para além do que é natural, pois se não fosse assim, o homem natural, com sua mente limitada não o compreenderia. É no dia a dia, nas relações com a natureza, nas manifestações de sua própria criação que Deus se revela ao homem. O Salmista enfatiza muito bem isso.

Os céus contam a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra de suas mãos. Um dia entrega a mensagem a outro dia, e a noite a faz conhecer a outra noite. Não há termos, não há palavras, nenhuma voz que dele se ouça; e por toda a terra sua linha aparece, e até aos confins do mundo a sua linguagem. Ali pôs uma tenda para o sol, e ele sai, qual esposo da alcova, como alegre herói, percorrendo o caminho. Ele sai de um extremo dos céus e até o outro extremo vai seu percurso; e nada escapa ao seu calor. [5]

Para um homem primitivo, sem nenhum conceito teológico-sistemático sobre Deus, as respostas sobre a divindade eram dadas a partir daquilo que ele já conhecia. Ele já conhecia os céus e o firmamento. Bastava-lhe despertar para perceber essas manifestações da natureza. Este conhecimento é difundido dia após dia em discursos da natureza – um dia entrega a mensagem a outro dia.

Esse conhecimento não é limitado ao lugar de existência do Salmista, mas é difundido por toda a terra, indo até “os confins do mundo”. Nesta revelação, percebida pelo escritor do salmo, ele transforma os grandes astros em personalidades – Noivo em sua carreira – onde nada escapa de sua manifestação.

Essa percepção de Deus não é uma iniciativa humana. Castilho enfatiza isso, quando declara que “se tentarmos começar (explicar) por Deus mesmo, com o intuído de entendê-lo e explicá-lo, estamos sempre fadados ao fracasso”.[6]

Sendo essa revelação oriunda da própria divindade, esperar que ela seja limitada, é acreditar numa divindade limitada. Considerando a experiência com a divindade judaico-cristã, percebê-lo limitado é um paradoxo. Sendo essa revelação plenificada na encarnação de Deus, compreendemos que é impossível que ela seja minimizada pela cultura de um povo.

Na tentativa de separarmos a plena revelação de Deus da cultura de um povo, corremos o risco de uma tríplice diminuição. Diminuiremos Deus, que não é suficiente para se revelar na cultura de um povo. Diminuiremos a encarnação de Deus – Jesus, que mesmo sendo homem estaria separado das realidades do seu povo. Por fim, diminuiremos a própria cultura do povo, que tem intima relação com sua divindade, seja nos tempos da revelação parcial ou nos tempos da revelação plena.

  1. Sobre a salvação e a cultura  

Por muito tempo se pensou que fé e cultura eram auto-excludentes. Esse pensamento gerou um conceito errado sobre o que é santo e profano. Dessa forma, passou-se a creditar a cultura uma conotação profana e as relações com o Sagrado uma conotação Santa.

Tendo sido a revelação do Deus de Israel estabelecida no ambiente de Israel, essa revelação não esteve nunca isenta da cultura desse povo. Essa revelação, levada à outros povos, estabelece-se da mesma forma.

Aos primeiros cristãos, foi dito que eles testemunhassem do Cristo em Jerusalém, em toda a Judéia, Samaria e aos confins da terra. Nesse testemunho precisaram tanto enfrentar a morte, quanto ensinar o que o Cristo lhes ensinara. Esse ensinamento, em suas próprias terras, teve como pano de fundo a cultura do povo de Israel. Até esse momento não havia nenhuma mudança.

Com o surgimento das perseguições aos cristãos, eles tiveram que avançar em territórios não conhecidos, com culturas diferentes das suas originais. Desta forma, a propagação da mensagem do evangelho e a difusão da fé cristã tiveram que se encontrar com outras manifestações culturais e sociais. De fato, não haveria a possibilidade da fé e da salvação ser plenamente difundidas se fosse de outra forma. Miranda descreve sobre a relação da salvação com a cultura:

A autocomunicação de Deus, embora tematizada em outra cultura, deverá receber nova compreensão e nova expressão, se quiser ser para os membros dessa cultura o que ela de fato é: um evento salvífico. Isto significa que será acolhida, experimentada, expressa, vivida e proclamada com elementos próprio dessa cultura. Só assumindo os sentidos padrões, valores, orientações, sensibilidades, conscientemente, verbalizados ou inconscientemente embutidos nas práticas sociais de um grupo humano, a iniciativa salvífica divina poderá ser captada como Boa-Nova, como salvação, como plenitude para os membros desse grupo.[7]

É preciso então refletir sobre a participação da fé cristã na cultura de um povo. Ao se envolver com uma cultura diferente da original, dos tempos apostólicos, a fé cristã não precisou se negar em sua essência. Ao contrário disso, ela foi acrescentando à cultura e sendo acrescentada pela cultura. Miranda afirma que há uma troca entre a cultura cristã evangelizadora e a cultura que recebe as boas novas. A primeira recebe novas perspectivas, conhecimento e práticas de outras culturas, enquanto a segunda pode se apropriar de tudo que a ação de Deus estabeleceu em Jesus Cristo.[8]

Nesse sentido, ao se misturar com a cultura, a fé cristã não está perdendo essência, mas se fazendo mais concreta para a realidade do povo onde ela é difundida. Desta forma, separar a fé da cultura é transformar a fé em algo de menor intensidade e valor. Todavia, é o que se faz hoje no cristianismo. Criou-se uma dualidade onde fé e cultura são auto-excludentes.

Desta forma o humano e suas realidades são tratadas no campo cultural, e a religiosidade, no campo espiritual, como se pudesse fazer uma divisão deste ser tão completo e complexo – o ser Humano.

A experiência de fé está sempre vinculada a uma experiência do Sagrado. Dessa forma, incorreríamos em um erro grave, se tentássemos conceber uma divindade sujeita as mesmas limitações que aqueles seres humanos que com ela se relaciona.  Nesse sentido, a revelação de Deus, na experiência humana não pode ser limitada de modo que não contemple também um entrelaçamento com a cultura do ser que se relaciona com este mesmo Deus que se revela.

O criador criou seres com a capacidade de criar. Nesta co-criação, este ser não somente cria outro ser, mas cria significações para seu cotidiano. Desta forma, sendo a cultura este elemento que perpassa por essa criatividade do ser criado, não há porque desvinculá-la da revelação do ser criador.

A plena revelação de Deus se fez realidade em meio a cultura de seu povo. Entretanto, não é correto afirmar que em todos os elementos culturais há a manifestação do sagrado. Nas culturas ocidentais modernas, temos uma forte tendência individualista, onde o ser prefere ser para si mesmo e não para o outro. Por este prisma cultural, compreende-se que não é possível observar uma plena manifestação de Deus, que sempre quis se relacionar com o ser humano, não sendo, tal como na cultura ocidental, individualista. Sobre esse aspecto destaca Miranda:

[…]a cultura, como vimos, envolve padrões interpretativos da realidade de cunho noético ou afetivo, em geral, inconscientes, mas que fazem as pessoas abordarem por seus prismas a própria realidade. Poderíamos trazer como exemplo, o individualismo cultural reinante na atual sociedade ocidental. Sem dúvida alguma, situa-se em aberta oposição ao espírito evangélico do amor fraterno.[9]

Como podemos ver, há elementos da cultura que não estão necessariamente relacionados com a mensagem revelada. Caberá então uma reflexão, de modo que seja possível à fé se apropriar dos elementos culturais que possibilitem uma melhor propagação das revelações do Sagrado.

  1. Sobre a cultura pop e o texto sagrado de Eclesiastes de Salomão.

A partir deste ponto, tentaremos demonstrar como o ser humano em sua criatividade é capaz de elaborar conceitos de vida, possíveis de serem relacionados com o conceito teológico sobre a fragilidade da vida. Para esta demonstração, abordaremos o texto da música Reflections Of My Life (Reflexões sobre a minha vida) da banda escocesa Marmelade, e faremos um paralelo com o texto de Eclesiastes.

O texto de Eclesiastes parece destoar de um dos grandes livros da religião judaica. Se nos Salmos, há convites de júbilos, regozijos, brados de vitória, em Eclesiastes o convite é feito no sentido de se perceber que tudo na vida é fugaz e tudo é vaidade. Para o autor do livro, no fim de tudo, de todas as suas experimentações, o resultado é a descrição da vida cotidiana em um tom melancólico.

É possível encontrar na música Reflections Of My Life, essas mesmas características. O autor percebe que do nascer do sol até a chegada do luar, seus dias são preenchidos com o seu refletir sobre a vida e sobre os problemas de outras pessoas. Na letra da música, o autor declara:

A mudança do sol para o luar
reflexões sobre a minha vida,
oh, como elas enchem meus olhos
As saudações de pessoas com problemas
reflexões sobre a minha vida,
oh, como elas enchem minha mente.[10]

Salomão, por sua vez, não vê proveito na vida de trabalho do ser humano. A ansiedade causada por este estilo de vida, de fato consome a vida do homem. Ele trabalha durante o dia em dores e a noite sua mente não descansa.

Com efeito o que resta ao homem
de todo trabalho e esforço
com que seu coração se fadigou debaixo do sol?
Sim, seus dias são todos dolorosos,
E sua vida é penosa;
Mesmo de noite ele não pode repousar.
Isso também é vaidade[11]

O dois textos poderiam se fundir, numa proposta que aproxima o conhecido texto sagrado, com uma criação cultural de um lugar-espaço muito distante do texto original

A mudança do sol para o luar
são reflexões sobre a minha vida,
oh, como elas enchem meus olhos.
Com efeito o que resta ao homem
de todo trabalho e esforço
com que seu coração se fadigou debaixo do sol?
As saudações de pessoas com problemas
são reflexões sobre a minha vida,
oh, como elas enchem minha mente.
Sim, seus dias são todos dolorosos,
e sua vida é penosa;
mesmo de noite ele não pode repousar.
Isso também é vaidade.

O autor de “Reflections of my life” segue sua descrição melancólica sobre a vida. Em outra cena, carregada de tensão, ele vislumbra a possibilidade de retorno a um lugar de origem. Ele retorna ao lugar que lhe fez existir como ser humano e o faz depois de experimentar suas dores, tristezas e choros, a ponto de levá-lo a morte.

Todas as minhas tristezas, tristes amanhãs
levam-me de volta para minha casa
todos os meus choros,
sinto que estou sempre morrendo,
levam-me de volta para minha casa.[12]

O autor de Eclesiastes percorre um caminho semelhante. Para ele o fim de todo ser humano é a morte. Na morte, o escritor do texto sagrado reflete sobre a vida do ser humano e do seu retorno, através da morte, para as origens.

Tudo caminha para um mesmo lugar:
tudo vem do pó, e tudo volta ao pó.
Quem sabe se o alento do homem sobe para o alto
e se o alento do animal desce para baixo, para a terra?[13]

Da mesma forma, é possível reconstruir o texto, dando-lhe sentido a respeito do questionamento sobre a vida e a morte.

Todas as minhas tristezas, tristes amanhãs
levam-me de volta para minha casa.
Tudo caminha para um mesmo lugar:
tudo vem do pó, e tudo volta ao pó.
Todos os meus choros,
sinto que estou sempre morrendo
levam-me de volta para minha casa.
Quem sabe se o alento do homem sobe para o alto
e se o alento do animal desce para baixo, para a terra?

No terceiro bloco da música, o autor de “Reflections of my lyfe” percebe que precisa mudar. Usa a expressão “Arranging” que no sentido da música pode ser harmonizar, mas no sentido da vida pode significar conciliar ou organizar. Ele percebe que a vida, da forma como ele vive, o conduzirá à morte em vida. Ele precisa de se conciliar, de se organizar para poder viver no mundo que julga ser um mundo mal, mas que mesmo assim, vale a pena viver nele, pois, de fato, ele não quer a morte.

Eu estou mudando, arranjando, Eu estou mudando
eu estou mudando, ah, tudo a minha volta.
O mundo é um lugar mau, um lugar mau
um terrível lugar para se viver,
oh, mas eu não quero morrer.[14]

O escritor do texto sagrado também compreende essa necessidade de mudar para viver. Percebe que na vida, vivida em opressão não há de fato vida. Melhor seria então a morte. Melhor ainda o não ter nascido. É uma declaração da dor de uma vida sob o peso dos opressores.

Observo ainda as opressões todas
que se cometem debaixo do sol:
Aí estão as lágrimas do oprimido,
e não há quem os console.
Então eu felicito os mortos que já morreram,
mais que os vivos que ainda vivem.
E mais feliz que ambos é aquele que ainda não nasceu,
que não vê a maldade que se comete debaixo do sol.[15]

Finalizando a redação do texto, poderíamos compreender a fala dos dois homens inspirados por Deus:

Eu estou mudando, arranjando, eu estou mudando,
eu estou mudando, ah, tudo a minha volta.
Observo ainda as opressões todas
que se cometem debaixo do sol:
aí estão as lágrimas do oprimido,
e não há quem os console.
O mundo é um lugar mau, um lugar mau
um terrível lugar para se viver.
Então eu felicito os mortos que já morreram,
mais que os vivos que ainda vivem.
E mais feliz que ambos é aquele que ainda não nasceu,
que não vê a maldade que se comete debaixo do sol.
oh, mas eu não quero morrer.

  1. A conexão do ser humano com a cultura e com o Sagrado.

No exemplo da musica “Reflections of my life” foi possível evidenciar a possibilidade de uma manifestação cultural alinhar-se com os conceitos teológicos do texto sagrado. Negar a essa criatividade do autor da música, essa conotação divina, é retirar dele a porção divina que lhe foi entregue: o fôlego divino.

Velasco afirma em seu texto “A Experiência Cristã de Deus” que as manifestações culturais, tais como poesia, literatura e arte, nas sociedades mais secularizadas, apontam para uma experiência que abre o horizonte da vida humana, inserindo-a num nível de realidade diferente da cotidiana.[16]

Tendo Deus se revelado na cultura de um povo, negar a essa cultura um lugar de destaque é, em última análise, negar a possibilidade de Deus interagir com o ser que ele criou, o que é, em certo sentido, um paradoxo.

O homem não consegue se relacionar só com a cultura, ou só com a fé. Dizendo de outra forma, o ser que tem uma experiência com o sagrado, não conseguirá escolher entre a sua fé e a sua cultura. Vivenciando a fé e tudo que a envolve, ele o fará a partir da cultura onde está inserido.

O Homem não acorda um dia e decide ou viver a fé, ou viver a cultura, como se as duas fossem elementos que estivessem aguardando sua decisão. Miranda enfatiza essa dimensão da realidade humana:

Como tanto a cultura quanto a fé não são realidades estáticas, fixadas de uma vez por todas, mas sofrem continuamente mutações de origem endógena ou exógena, a inculturação da fé constitui um processo continuo, do qual nunca se pode dizer que chegou ao fim. De fato a fé é primordialmente vida: atitudes, modos de pensar, de viver, de celebrar, de se relacionar dos próprios cristãos. O mesmo podemos afirmar das culturas: um modo de existir inserido numa cosmovisão, que o fundamenta, dá sentido, e é vivido por determinado grupo humano. [17]

O que se pode perceber, entretanto, é uma dualidade onde se tenta separar fé da cultura. A religiosidade humana não consegue enxergar a nocividade desta tentativa. Desta forma, produzem um relacionamento Criador-criatura destituído de seu verdadeiro valor e amputado de uma revelação do Sagrado que de fato valha a pena. Essa dualidade concebida pelo homem é vista por Miranda como algo que “dificulta sobremaneira avaliar corretamente sua mútua interação, trazendo sérios prejuízos, seja à fé, seja à cultura.”[18]

Esta percepção de Fé como algo positivo que direciona o ser humano para o Sagrado e da cultura como algo negativo e que o afasta do sagrado é manifesto nos ambientes de fé, sobretudo da fé cristã, como uma divisão entre as coisas do mundo e as coisas que não são do mundo.

Este pensamento dualista de sacro e profano, gerado provavelmente a partir de traduções da palavra κόσμος – Kosmos no texto de 1João 5.19.[19] – οἴδαμεν ὅτι ἐκ τοῦ Θεοῦ ἐσμεν, καὶ ὁ κόσμος ὅλος, ἐν τῷ πονηρῷ κεῖται. (Nós sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro está sob o poder do maligno), associou a palavra κόσμος – mundo, e o fato dele estar sob o poder do maligno, fazendo com que grande parte dos cristãos compreenda que a expressão mundo é tudo aquilo que se opõe a relação com o Sagrado.

Todavia, ao relacionar sua fé a cultura, o homem não se desconecta de Deus para se conectar ao “mundo”. De fato, esse mesmo Deus a quem o Homem se conecta por fé, está presente no κόσμος – mundo, e tanto se revela a ele, mundo, no sentido das pessoas e suas realidades, quanto se revela nele, mundo, no sentido de lugar.

  1. Considerações finais.

Como foi possível verificar ao longo do texto, sendo Deus aquele que decide se revelar ao Homem, ele o faz por meio de suas múltiplas possibilidades. Desta forma, não se restringe em função de estar em uma cultura diferente da original do texto sagrado.

O ser humano é co-criador com Deus, desta forma está habilitado para a produção de elementos culturais que dêem significado à fé, independentemente do tempo e lugar. Nessa co-criação ele não só solidifica sua fé, como também transforma sua cultura.

Uma das formas que o homem encontrou para significar sua existência é a fé. Mesmo que a outra seja a cultura, isso não significa dizer que cultura e fé não possam caminhar juntas. Ele se resignifica tanto na fé quanto na cultura.

 O sagrado não se aprisiona nem se deixa aprisionar. Suas manifestações são plurais e abrangentes. A tentativa de separar fé da cultura, gera um Deus que não pode viver no mundo que ele próprio criou. Tendo em vista que Ele precisou se esvaziar para dar espaço à criação, não é possível compreender que abra espaço para a criatura, mas fecha-se para os elementos culturais da criatura criada.

É preciso então refletir nas categorias de manifestação da fé, e percebê-la. Se estiverem desassociadas da cultura, será preciso envidar esforços no sentido de mostrar a possibilidade real das duas andarem juntas e se completarem.

Referências

Livros 

SAULNIER, Cristine. ROLLAND, Bernard, A Palestina nos tempos de Jesus. PAULUS. São Paulo, Brasil, 1983.

CASTILHO, José Maria, Deus e a nossa felicidade. EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2006.

VELASCO, Juan Martins. A experiência cristã de Deus. PAULINAS, São Paulo, Brasil, 2001.

MIRANDA, Mario de França. Inculturação da fé: uma abordagem teológica, EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2001.

Sites                                                                                           

Letra da música “Reflections of my lyfe” da Banda Marmelade. Disponível em: <http://www.songlyrics.com/the-marmalade/reflections-of-my-life-lyrics> acesso em 26 de fevereiro de 2016. Tradução do pesquisador.

Novo Testamento Interlinear. Disponível em:< http://bibliaportugues.com/interlinear/1_john/5-19.htm> Acesso em 28 de fevereiro de 2016. Tradução do pesquisador, a partir da tradução do grego para o Inglês.  

 Bíblia

Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.

[1] BRITES, Ronildo. Pós Graduando em Ciências da Religião com ênfase em Ensino Religioso – Universidade Unigranrio.

[2] O termo Deus ao longo do texto fará referência ao sagrado conhecido no meio judaico-cristão.

[3] CASTILHO, José Maria, Deus e a nossa felicidade, p. 23

[4] SAULNIER, Cristine. ROLLAND, Bernard. – A Palestina nos tempos de Jesus. p. 35

[5] Salmos 19. 1-7. Bíblia de Jerusalém.

[6] CASTILHO, op. cit, p. 24

[7] MIRANDA, Mario de França. Inculturação da fé: uma abordagem teológica, p 56

[8] Idem

[9] MIRANDA, Mario de França. Op. Cit, p 57

[10] Letra da música “Reflections of my lyfe” da Banda Marmelade. Disponível em: <http://www.songlyrics.com/the-marmalade/reflections-of-my-life-lyrics> acesso em 26 de fevereiro de 2016. Tradução do pesquisador.

[11] Eclesiástes de Salomão 2.22-23, Bíblia de Jerusalém.

[12] Letra da música “Reflections of my lyfe” da Banda Marmelade. Disponível em: <http://www.songlyrics.com/the-marmalade/reflections-of-my-life-lyrics> acesso em 26 de fevereiro de 2016. Tradução do pesquisador.

[13] Eclesiástes de Salomão 3.20-21, Bíblia de Jerusalém.

[14] Letra da música “Reflections of my lyfe” da Banda Marmelade. Disponível em: <http://www.songlyrics.com/the-marmalade/reflections-of-my-life-lyrics> acesso em 26 de fevereiro de 2016. Tradução do pesquisador.

[15] Eclesiástes de Salomão 4.1-3, Bíblia de Jerusalém.

[16] VELASCO, Juan Martins. A experiência cristã de Deus. p.23

[17] MIRANDA, Mario de França. Op. Cit, p 57

[18] Idem, p. 59

[19] Novo Testamento Interlinear. Disponível em:< http://bibliaportugues.com/interlinear/1_john/5-19.htm> Acesso em 28 de fevereiro de 2016. Tradução do pesquisador, a partir da tradução do grego para o Inglês.  

Estudando para o concílio

Deus não pode ser definido. Qualquer definição de Deus partiria de seres humanos. Seres humanos são de mente finita e não conseguem definir um ser infinito. É possível se ter um conceito de Deus, mas não uma definição de Deus.

O conceito que podemos ter de Deus é que ele é amor. O amor explica Deus e diz quem ele é. Cada atributo de Deus é importante e não se pode colocar um atributo acima de outro. Deus é também espírito e como tal não pode ser visto. Além de espírito ele é espírito pessoal e vivo, isso significa que ele não é um mero objeto passivo da investigação humana. É possível estudar o que Deus criou, mas não é possível estudar Deus. Nesse sentido, Teologia não pode ser classificada como uma ciência que estuda Deus, da mesma forma que é a BIO-logia, GEO-logia, etc. Pode-se estudar terra e a vida criada por Deus, mas não se pode estudar Deus. Do que trata então a Teologia? Trata do estudo do relacionamento de Deus com o universo criado.

Além de ser amor, espírito pessoal, Deus é perfeitamente bom. Sua bondade é perfeita. Falar da bondade de Deus está relacionado com falar do caráter de Deus. Dizer que Deus é perfeitamente bom, implica em relacionar todas as excelências de seu caráter. Deus é quem cria, dirige e sustenta todo o universo criado.

É de Deus o interesse de se revelar ao homem. É ele quem pergunta ao homem “onde estás” quando quer saber o motivo pelo qual o homem estava se ocultando de Deus. Hebreus 11 nos mostra que ao longo da história, Deus se revelou através dos pais, dos profetas, nos últimos dias pelo filho. Deus se revela também na natureza criada e o salmista declara que “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos”. Na sua ação de dar-se a conhecer, Deus disponibilizou algumas fontes de conhecimento: a Revelação, a Inspiração e a Iluminação. Dessas três a que ainda existe é a iluminação. Na revelação Deus faz um desvendamento de si mesmo. Na inspiração, Deus capacita o homem, através do Espírito Santo a descrever em linguagem humana esta revelação que Ele faz de si mesmo. Na iluminação, ainda através do Espírito Santo, Deus capacita o ser humano a entender a revelação que Ele faz de si mesmo.

Considerando que atributos são qualidades relacionadas com um ser existente, e considerando que Deus é um ser que existe desde sempre, podemos perceber que como ser ele possui alguns atributos. Os atributos de Deus podem ser divididos em naturais, que não podem ser comunicados ao homem e morais, que podem ser comunicados ao homem.

Os atributos naturais de Deus são:

Onipresença – Significa que Deus não está restrito ao tempo e espaço. Ele pode agir em qualquer tempo e em qualquer lugar. Não significa que ele encha o universo com sua presença, pois se assim fosse, ele estaria limitado ao universo. Deus é  Espírito, logo, não preenche espaço, pois o que preenche espaço é matéria.

Onisciência – Significa que nada escapa ao conhecimento de Deus. Não há desconhecido para Deus.

Onipotência – Significa que em Deus reside todo o poder. Ele é tão poderoso que nem sequer pode ser tentado pelo mal. Quem pratica o mal é por ele vencido. Se é vencido, não tem todo o poder. Se não tem todo o poder não é Deus.

Unidade – Somados, os atributos de Deus nos dão a ideia de sua unidade.

Infinidade – Significa que Deus é infinito. Deus é onipresente, pois não pode haver limites à sua presença; é onisciente pois sua sabedoria se estende sobre todas as coisas; é onipotente, pois pelo seu poder guia e dirige o mundo.  Todas essas coisas nos dão a ideia de Que Deus é infinito.

Imutabilidade – Significa que Deus não muda. Não muda de propósito nem de natureza. É sempre espírito pessoal perfeitamente bom.

Os atributos morais de Deus são: Santidade, Justiça e amor.

Santidade – É a plenitude da excelência moral de Deus, o princípio básico de suas ações e aferidor único e verdadeiro de suas criaturas. É a soma de todas as suas qualidades morais. A santidade de Deus assegura-nos de que o que ele faz nunca desabona o que ele é. Ela determina o alvo de Deus para a humanidade que é tornar a raça humana semelhante a Ele em santidade. Deus exige que o homem seja santo como ele é santo.

Justiça –  Na justiça de Deus podemos perceber sua intima ligação com a sua santidade. Ele faz sempre o que é direito de acordo com seu caráter. Desta forma, a ação da justiça de Deus pode ser tida como um mau para o injusto e um bem para o justo. Aos que resistem à Justiça de Deus, consideram-na como punição, entretanto, a justiça de Deus é muito mais que castigo, pois sua justiça trata de maus e bons, e sendo a mesma justiça, não pode ser vista como punitiva somente. O amor de Deus é um atributo que revela muito da sua relação com a humanidade. Deus ama com amor que tanto deseja se doar para o amado, quanto deseja relacionar com o amado. O amor de Deus está ligado a uma bondade perfeita.

O universo prova a existência de Deus – O universo é efeito. Todo efeito tem uma causa. A causa do universo é o seu criador, que é Deus. Os 92 atomos não teriam autonomia para gerar o universo tal como foi gerado.

 A história universal prova a existência de Deus – A história universal não registra uma só tribo, por menor que fosse que não possua sua percepção de um ser supremo. Não crer na existência de um ser supremo é crer que ao longo de toda a história da raça humana, em todos os lugares do mundo, ela acreditou em uma mentira.

As percepções provam a existência de Deus – Não há percepção humana sem o objeto da percepção. Em outras palavras, não conseguimos ter percepção daquilo que inexiste, do nada. Na percepção há três elementos indispensáveis: quem percebe, o objeto da percepção e o ato de perceber. Se quem percebe existe, percebe, então há de se concluir que exista também o objeto da percepção. O coração humano tem uma percepção de Deus e isso assegura que ele exista.

A fé prova a existência de Deus – A fé não é somente a base de uma crença em um ser supremo. Ela é também a base de todo conhecimento. O que o homem racionaliza em suas descobertas e busca pela verdade, tem seu início de fato em uma fé de que o que ele busca é a verdade. Ele então satisfaz suas necessidades físicas e intelectuais. Da mesma forma, a fé age no mundo espiritual. Ela revela a necessidade de um salvador. Esta mesma fé que revela a necessidade de um salvador é a que aponta para Deus

A experiência Cristã prova a existência de Deus. – A relação entre o pão e a fome é que o pão sacia a fome. Mas só se sabe que o pão sacia a fome, quando se experimenta o pão. A fé de que o pão é capaz de saciar a fome, por si só, não sacia a fome de fato. A última prova da existência de Deus consiste em o homem experimentar Deus a ponto de saciar sua fome espiritual. Mesmo sendo a fé, a base desse conhecimento de Deus, é somente experimentando Deus, de forma pessoal, que se tem a certeza do que foi sinalizado pela fé.

Há objeções aos argumentos a respeito da existência de Deus. A objeção intelectual compreende que havendo um universo da forma como ele existe, não é necessária a existência de Deus, pois tudo existe com regularidade sem o auxilio de quem quer que seja. Uma refutação dessa objeção é que há leis naturais que o regem o mundo. Todavia, uma lei não é nada a não ser um modo de governar. A lei não é o agente dela mesma. A lei é maneira do governo agir. Deus é o governo que governa segundo as suas leis.

Outra objeção aos argumentos sobre a existência de Deus é a objeção moral. Ela se baseia na existência do mal no universo. Sendo assim, Sendo Deus perfeitamente bom, se não acaba com o mal, é porque ele não é onipotente. Ou se é onipotente e não acaba com o mal é um sádico. Entretanto, quando Deus criou “viu Deus que tudo era bom”. Uma das coisas boas criada por Deus foi a liberdade do homem poder escolher entre obedecer e desobedecer. Escolhendo desobedecer, trouxe sobre si as conseqüências dessa desobediência. Deus colocou uma árvore que poderia comprar essa liberdade de escolha. Se não existisse a árvore, com frutos que foram proibidos de comer, como essa liberdade seria provada? A existência de uma prova a obediência é também uma prova da liberdade do homem, uma das coisas boas criadas por Deus.

Deus foi o criador do universo, logo o universo não tem existência por si só. Ele tem início e terá fim. Não é papel da Teologia determinar a data do inicio do universo. Isso cabe à ciência. O texto sagrado não declara QUANDO, mas declara que FOI criado por Deus. Não há nada que tenha sido criado por Deus que não tenha relação com ele, mesmo sendo Deus maior que o universo criado.  Deus governa o universo por um método uniforme, isto é, por uma lei. A lei não é uma entidade independente, mas é um método. O universo não é governado pela lei, mas é governado segundo a Lei. Deus governa o universo, segundo a sua lei. O propósito de Deus ao criar o universo, é o de criar espíritos livres capazes de fazer a bondade, mas não programados para fazer a bondade. Em bondade, semelhante a de Deus, o homem tem comunhão com Ele. Finalmente, o propósito da criação do universo é glorificação de Deus e a salvação do homem.

Como criador, Deus tem o direito de governar o universo. Deus é soberano, por isso tem poder de governar sobre a criação. Se não governasse não seria soberano, pois soberano sem poder não pode ser soberano.

A vontade absoluta de Deus se estende a toda criação, excetuando o homem. Na natureza, cada planta segue a ordem de reprodução dada por Deus. Assim acontece também com os animais. No caso dos seres morais (homens), Deus o dotou de vontade própria. Por conta disso, a vontade de Deus não é aplicada da mesma forma que entre o restante da criação.

Mesmo tendo o homem a capacidade de escolher e tomar suas decisões, a vontade de Deus é sempre que ele escolha o bem. A escolha do mau não é de fato o desejo do coração de Deus. Nesse sentido, Deus governa não só como criador, mas como pai, que procura levar seu filho a tomar as melhores decisões, permitindo entretanto que este filho escolha por si mesmo.

A doutrina da trindade Divina, embora não seja encontrada exatamente assim descrita no texto sagrado, declara que Deus se revelou de três formas distintas: Deus-Pai, Deus-Filho, Deus-Espírito Santo. Há em Deus três personalidades distintas, sem, contudo existirem três deuses. Os três são pessoas distintas uma das outras, mas em unidade de essência.

João 6.27 declara que o Pai é Deus quando afirma que o pai, que é Deus, selou Jesus para ser aquele que garante a vida eterna. João 1.1. Um texto clássico da declaração de que Jesus é Deus. No princípio era o verbo… o verbo era Deus. Em Atos 5.3 o apóstolo pergunta por que Ananias mentira ao Espírito Santo e completa no verso 4 que aquela mentira fora feita à Deus.

O homem é alma vivente. Por alma vivente compreende-se o fato de que o homem possui corpo e espírito.   O homem difere dos outros animais criados por ter consciência própria, pela capacidade de abstração, pelo reconhecimento de uma lei moral, pela percepção de uma natureza religiosa, pelo poder de escolha de um alvo.

Há certa semelhança entre o Homem e Deus. Genesis declara que Deus, ao fazer o homem, disse que ele seria feito a imagem e semelhança Dele. O fato de Deus ter se revelado ao homem, comprova a semelhança intelectual, caso contrário, a revelação de Deus ao homem não teria significado, assim como não tem para os animais irracionais. O homem se assemelha a Deus também pelo fato de ser de natureza espiritual. Além dessa semelhança natural, há uma semelhança moral. Quando Deus criou o homem, dispensou a ele suas qualidades morais. O homem foi criado bom, com todas as suas tendências para a bondade, perdendo essas características a partir do pecado. O homem não é eterno, mas imortal. Ele é imortal, pois sua natureza essencial é espiritual e essa natureza não morre.

Tendo sido o homem criado a imagem e semelhança de Deus, com sua tendência a fazer o bem, definir a origem do pecado é um grande problema. Podemos dizer que o pecado é uma ação externa ao homem, mas como ele tem o poder de escolher, escolheu pecar. Sendo ação externa, o homem tem uma atenuante diante do pecado. Embora tenha escolhido pecar, ele não pecou sem antes ser tentado a pecar. Esta atenuante da tentação foi utilizada por Deus o Justo Juiz para propiciar o conserto dessa falta. Pecado é um estado mau da alma ou da personalidade humana. Segundo a bíblia o pecado gera a morte. O pecado é também tudo aquilo que nos separa de Deus. O egoísmo é a raiz de todo o pecado e também de todos os males.

Cristologia é o estudo da pessoa de Jesus Cristo, sua natureza e sua obra. Deus determinou a salvação da humanidade desde os primeiros dias. A história do mundo, tal como registrada no texto sagrado revela a intenção de Deus em resgatar a humanidade que havia caído. Nesta ação de resgatar a humanidade. Deus usou de diversos meios, inclusive utilizou-se de pessoas de fora do seu povo para cooperar com seu propósito de salvação.

Além de encontrarmos essa ação na história de povos pagãos, encontramos também na história de Israel. Através da Lei, da profecia e do cativeiro Deus ensinou ao seu povo e o preparou para a vinda do messias.

Jesus tem duas naturezas reais, perfeitas e distintas. Quando em João, os homens de Israel falavam da sua filiação a Abraão, Jesus os criticou dizendo que eles queriam matá-lo por dizer a verdade e que assim faziam pois ele era homem e ainda que Abraão não faria isso. A bíblia ainda afirma que há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem. Jesus possuía elementos da natureza humana, entre eles, fome, sede, cansaço, amor, tristeza. Esteve sujeito as leis naturais de desenvolvimento.

No tocante a sua natureza divina, o próprio Jesus tinha consciência dessa natureza. Ele afirmou certa vez que: “quem vê a mim, vê ao pai”. João 14.9. Tinha poder sobre a natureza criada. Perdoava pecados.

Jesus experimentou dois estados: Humilhação e exaltação. Sua humilhação se deu em três épocas: Quando o verbo se fez carne, quando esteve submisso ao Espírito e às leis humanas e por ocasião de sua morte no Calvário. Sua exaltação se deu em duas épocas: sua ressurreição e sua ascensão.

Enquanto esteve na terra, Jesus exerceu um tríplice ofício: o de profeta, o de sacerdote e o de rei. Esses ofícios foram exercidos da maneira mais perfeita que se possa imaginar. Nesse sentido, não houve profeta que tenha revelado de maneira mais completa a vontade de Deus ao mundo; como sacerdote, ofereceu sacrifício perfeito para expiação de pecados e como rei estabeleceu seu reino e começou a reinar nos corações dos homens.

Na ressurreição de Cristo reside toda a esperança do cristão. Segundo Paulo falando aos Coríntios, se Cristo não tivesse ressuscitado, nossa pregação e fé seriam em vão. As evidências da ressurreição de Jesus são: o tumulo vazio, as aparições, a existência da igreja, a mudança nos discípulos, entre outras. Após a ressurreição Jesus recebe um corpo real, semelhante ao que fora colocado no tumulo, mas que não estava sujeito à morte nem limitado às limitações de todos os humanos.

A salvação trabalha na vida do homem uma mudança que aponta para seu passado, presente e futuro. A salvação em Jesus tem o poder de zerar os pecados cometidos, inserir o homem em novidade de vida, com vistas a uma existência futura, onde conheceremos a Jesus como somo conhecidos. Não somos salvos apenas para escapar da morte, mas para sermos inseridos em nova vida. Para ser salvo, o homem precisa ter convicção do seu pecado e arrependido sentir necessidade de que Jesus o perdoe. Nesse sentido, a salvação que é pela graça, se processa quando o homem aceita esse presente da graça. Quando um pecador abandona o pecado, para seguir a Jesus, dizemos que houve uma conversão. Isto inclui arrependimento de pecados e o abandono deles e fé para seguir a Jesus, aceitando-o como salvador.

A regeneração é a mudança radical operada na alma humana pelo Espírito Santo, tornando a disposição moral do homem semelhante à de Deus.  A justificação é um ato de Deus em que ele declara o pecador regenerado. A santificação é um processo estabelecido na vida do convertido transformando seu caráter de modo a que ele fique mais semelhante possível ao Deus. O próprio Deus convida: “sede santos porque eu sou santo”. É o Espírito santo que opera o processo de santificação.

O Espírito Santo é uma pessoa. Isso pode ser visto pelos atributos que uma pessoa tem, quais sejam pensar, sentir, querer, amar, ter consciência e direção própria. Isso significa que Ele não é uma mera influência. Outras características do Espírito Santo como pessoa: ele fala, ensina, clama. Ele é o consolador prometido por Jesus antes de ter partido.  O Espírito Santo é Deus. Ele possui os mesmos atributos de Deus, eternidade, infinidade, onisciência. Ele é quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo.

Os dons do Espírito Santo são capacidades dadas ao crente para o desempenho de algum serviço. Os dons são distribuídos segundo um critério divino, como Deus quer.

O estado intermediário dos justos é ao lado do Senhor, pois segundo o texto bíblico, nada nos separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nem mesmo a morte. O estado intermediário do ímpio é no inferno. Podemos ver isso na parábola que indica que após a morte o rico foi para o inferno.

As escrituras ensinam que a segunda vinda de Jesus será exterior, visível e pessoal. O texto de atos dos apóstolos declaram que assim como Jesus foi visto subindo aos céus, há de vir da mesma forma.

A ressurreição de Jesus é o fundamento da esperança cristã e a garantia da ressurreição daqueles que nele crêem. O texto sagrado afirma que Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito as primícias dos que dormem. Sendo ele as primícias, compreendemos que outros ressuscitarão.

Jesus fará o juízo final, pois é aquele que está intimamente identificado com Deus e intimamente identificado com homem. O estado final do justo é o céu, lugar de perfeita comunhão dos salvos com Cristo, lugar de alegria eterna e o estado final dos injustos é o inferno, lugar de total separação de Deus e de sofrimento eterno.

Igreja é uma congregação de pessoas salvas, batizadas, que se juntam para a promoção do Reino de Deus. Encarrega-se de pregar o evangelho, batizando os convertidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Jesus Cristo é o fundador e o fundamento da Igreja. O poder judicial da igreja local é a assembléia.

Existem três sistemas de governo mais conhecido: Episcopal imperial, onde o pastor tem poderes imperiais. Sistema oligárquico, onde a igreja escolhe alguns leigos e um pastor como presbíteros para governarem sobre ela. Sistema democrático ou congregacional, onde a igreja assume a responsabilidade de seu governo próprio sob a presidência de um pastor. O modelo democrático congregacional é o que mais se aproxima com um modelo bíblico.

Há dois tipos de igreja, a igreja local e a universal. A igreja local é uma comunidade de fieis definida geograficamente que se reúne em determinado lugar, motivada pelo mesmo ideal, para cumprir as ordens do mestre, gerindo os assuntos do Reino de Deus. A igreja universal não é definida geograficamente, formada por todas as pessoas que experimentaram a transformação promovida por Jesus Cristo.

A igreja tem o propósito de glorificar a Deus, evangelizar cumprindo dessa forma a grande comissão, produzir crentes maduros e santos, cuidar das necessidades de seus membros e praticar o bem no mundo.

Os oficiais de uma igreja batista são Pastores e diáconos. Diácono significa servo. Aos diáconos compete deixar desembaraçado o ministério pastoral, promover a paz na igreja, promover o bem-estar dos crentes, dar testemunho eficaz, reforçar a liderança. As três mesas designadas aos diáconos são: a mesa do Senhor, a mesa dos pobres e das viúvas e a mesa do Pastor.

A relação da igreja com o Estado é de total separação, mesmo que creiamos que somos cidadãos de duas pátrias.

Batismo e ceia são as duas ordenanças de uma igreja batista. O batismo simboliza o sepultamento do neófito em Cristo, no momento da imersão e a ressurreição quando ele volta das águas batismais. Somente devem ser batizados aqueles que tendo aceitado Cristo como, se tornaram nova criatura. Embora seja para salvos, o batismo não tem poder para salvar. A Ceia é uma comemoração simbólica da morte de Cristo até que ele volte. A ceia pode ser classificada, quanto a participação em Restrita, isto é, destinada a membros batizados numa igreja batista; Ultra-restrita, destinada somente a membros de uma igreja batista local; livre, destinada a todos os crentes batizados em qualquer igreja evangélica e ultra-livre, destinada a qualquer pessoa, sendo crente ou não.

Transubstanciação: É a doutrina que ensina que no ato da celebração acontece a transformação do pão e do vinho na substancia corpo e sangue de Jesus.

Consubstanciação: É a doutrina que ensina que a presença real de Cristo se dá quando a ceia é ministrada, pela união de dois ou mais corpos em uma só substancia concedendo aos participantes bênçãos especiais.

Há três formas de disciplina na igreja batista: normativa, corretiva e cirúrgica. A normativa é estabelecida através dos ensinamentos (escola bíblica, seminários, sermões), a corretiva se dá quando há uma falta, em aconselhamentos individuais, visando corrigir um procedimento errado. E a cirúrgica é o desligamento do rol de membros, que deve ser em último caso.

A relação entre o pastor e a igreja deve ser de absoluta lealdade, amor, carinho, respeito, conforme Hebreus 13.17.

Terceira semana – Curso de Teologia Centro Universitário Bennett

Das aulas de Língua Portuguesa, não tenho muito a falar. Na realidade não são tão empolgantes como as outras. E que me perdoe o professor, mas é assim que vejo.

Finalmente História da Igreja! Fomos informados que a matéria trataria da história da igreja em todas as suas nuances, não deixando de lado nem mesmo aquilo que normalmente colocamos como menos importante. “A igreja é uma comunidade de pecadores e não de santos” Com esta afirmativa, fomos levados a pensar no fato de que Deus é muito mais poderoso do que imaginamos. Ele não é um deus (minúsculo mesmo) que está sujeito a nossa vontade. Ele é um Deus (maiúsculo) tão poderoso, que faz o que quer e não faz o que não quer e quando faz o que quer tem poder de fazer com quem achar melhor, independente de ser esta pessoa, boa, má, fiel, infiel, Abraão, Davi , Jacó, ou até mesmo eu. A igreja tem seus problemas, ao longo da história exatamente por ser formada por estes tipos de pessoas. E tem seu sucesso, exatamente por estes tipos de pessoas aceitarem a atuação de Deus em suas Vidas. Nesse sentido, Deus age em mim, através de mim e apesar de mim. Ao contrário do que muitos pensam, a igreja não teve um início como religião isolada. Era muito mais uma facção do Judaísmo, e assim permaneceu por algum tempo.

Conhecemos as quatro grandes teorias em Psicologia . As causas dos problemas no comportamento humano estão em suas bases físicas. Assim fala a teoria biofísica. Pergunta-se então, que elementos biofísicos estão presentes no comportamento humano. “Eu sou o meu genoma e meu DNA”. Temos nesta perspectivas olhares quase que definitivos quando ouvimos “descobrimos o gen da dor”. A tendência é interferir no processo da dor através de medicamentos. Cura-se a dor, mas as origens são ignoradas.
As teorias sócio-comportamentais trazem a idéia de que o comportamento do ser humano está associado ao meio em que ele vive. Nesse sentido, se mudarmos o ser humano de ambiente, interferimos em seu comportamento.
O homem se comporta em função de seu psiquismo consciente. Assim diz a teoria fenomenológica. A pergunta é “por que você está sempre envolvido neste tipo de comportamento?” Trata-se de confrontar o indivíduo com seus próprios desejos, numa perspectiva consciente.
O ser humano não tem consciência de suas escolhas, pois é movido por um sujeito do qual não tem consciência. É desta forma que a teoria intrapsíquica entende o comportamento do ser humano. A grande escola desta teoria é a psicanálise.

Em Filosofia, continuamos a ver as definições de filosofia. Ainda não avançamos além de definições. Quando nos depararmos com os grandes pensadores, as novidades serão maiores

Começamos a ver o Pentateuco. Fomos informados que, devido ao estilo de escrita e alguns pontos de tensões, o Pentateuco foi escrito por mais de uma pessoa e não somente por Moisés, como se acredita. Ao chamar Deus por nomes diferentes e ao tratar da questão do dízimo com três alternativas diferentes, temos a idéia de que Pentateuco não foi escrito por uma pessoa só. Nesta ocasião, mais uma vez confundiu-se igreja com sala de aula. Isto é ruim, pois a matéria foi colocada em segundo plano.

Devemos escrever para os outros e não para nós mesmos. Esta é a síntese da Metodologia de estudos universitários.

O alfabeto hebraico, mais uma vez desafiando meus péssimos dotes artísticos, terminou uma semana que foi recheada de grandes conflitos.

Até a próxima….

Segunda Semana – Cursto de Teologia Centro Universitário Bennett

Passada a primeira semana, cá estou eu começando realmente os estudos. Ainda há uma certa distância entre os alunos, o que considero perfeitamente natural.

Foi agradável estar presente no debate com os alunos de um curso de Teologia dos E.U.A. Foi bom ver que há muita lucidez em aluno(s) no primeiro período, assim como muita falta dela em aluno(s) de períodos mais avançados. Isso mostrou-me que lucidez diante de determinados assuntos, não depende do curso, e sim do aluno.

Foi interessante o primeiro contato com a Psicologia. Como é complicado ser humano. Somos o único ser na face da terra que conhece sua própria finitude. Isso as vezes dói e causa uma grande angústia.

“Filosóficamente falando, somos todos inteligentes”. Este foi um grande conforto que a Filosofia nos deu. Começamos a entender que Filosofia não é o “bicho de não sei quantas cabeças” que muitos acreditam ser. Saber que Filosofia é uma pergunta e que quem pergunta pela identidade e realidade de alguma coisa está filosofando, deixou-me um pouco mais calmo. Afinal, não é tão difícil (ao menos por agora) entender essa definição. Como teria sido mais fácil, se já no meu ensino médio fosse dito desta forma.

O Antigo Testamento começou a ser descortinado, não sob a ótica da fé, mas da pesquisa científica. Foi minha primeira experiência nesse sentido e para mim, foi muito bom. Foi fácil perceber que alguns alunos estão ainda com a mente fechada, não querendo aceitar o discurso voltado para a ciência. Quem quiser saber um pouco mais sobre a história de Israel, pode acessar www.airtonjo.com/historia.htm

Como não podia deixar de ser, iniciamos em Metodologia de Estudos Universitários. Não me trouxe, com sinceridade, tanta euforia quanto as outras. Se é necesário, vamos enfrentá-las da melhor maneira possível.

Faltou falar de Língua Portuguesa, que foi prejudica pelo já mencionado debate, mas até agora, nada muito surpreendente. Que continue assim.

Não conheçemos ainda a História da Igreja, pela qual, particularmente tenho muita sede.

O Hebraico ficou por último, pois ainda estou digerindo a primeira aula. Como é complicado, ainda mais quando se sabe que no lugar de cinco, temos 16 vogais. E a escrita? Deveria ter prestado mais atenção aos desenhos de meus filhos. Com certeza, na hora de escrever em hebraico, isso me ajudaria muito.

Até a próxima semana….

Primeira Semana – Curso de Teologia Centro Universitário Bennett

É uma realidade nova para mim, compreender a diferença entre seminário e academia. Isso porque estive voltado toda a minha vida para a idéia de que o estudo de Teologia estava relacionado com o preparo de alguém que iria, no futuro assumir um chamado divino para o pastorado. É muito interessante saber que existem pessoas que estão no curso de Teologia, somente para agregar conhecimento. Isto ajuda-me a dismistificar o sentido “Teológico-religioso” que foi formado em minha mente. Mas, em contrapartida aos que querem somente absorver conhecimento, existem aqueles que já acham que detem o conhecimento. Intimamente, tenho dificuldades de entender isso.

A alegria do começo, mistura-se com a frustração da desinformação total por parte dos “organizadores” da faculdade e daquelas aulas que são somente apresentações. De certa forma, pude tirar proveito das apresentações sejam elas de professores ou alunos. A turma é plural, não no sentido da religião ou doutrina de cada um, mas no sentido do conhecimento ou do desejo de adquiri-lo. No primeiro momento, isso é muito bom, mas causa alguns problemas, espero que superáveis ao logo do curso.

Na próxima semana, espero ter mais e melhores novidades.