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Inquisição Protestante – O justo pela sua fé matará

É com profunda satisfação que anuncio o relançamento do meu primeiro livroInquisição Protestante – O justo pela sua fé matará.

Esta nova edição nasce de três motivações essenciais: o anseio de leitores que me perguntavam sobre quando eu teria disponível uma versão impressa, a necessidade de corrigir erros de editoração que comprometeram a experiência da edição anterior e, sobretudo, o enriquecimento do conteúdo por meio da colaboração de um renomado professor de teologia.

Ao longo dos anos, a demanda pelo livro tornou-se evidente. Muitos buscavam a versão física desta obra que, até então, permanecia inacessível. Esta nova edição atende a essa expectativa.

A revisão teológica trouxe um novo fôlego à obra, integrando referenciais teóricos que ampliam e aprofundam a análise dos fatos históricos. O livro desafia as narrativas tradicionais sobre Martinho Lutero e sua relação com o protestantismo, abrindo espaço para uma interpretação inovadora e, até então, pouco explorada no ambiente de fé protestante. Este relançamento é, portanto, um convite à reflexão crítica e uma jornada que nos leva a questionar convenções e a olhar para a história sob uma nova luz.

Uma História que se Reinventa

A Opressão Religiosa é uma história que se reinventa, mas nunca muda essencialmente. Nesse sentido, a essência desse texto desmascara opressões que ainda teimam em existir no ambiente de fé protestante. Nas páginas do livro, o leitor encontrará uma análise que ultrapassa a narrativa histórica, adentrando as complexidades de uma trajetória marcada por opressões e transformações, desde o passado, em Lutero e sua controvérsia com Thomas Müntzer, até os dias atuais.

Esta obra foi concebida para dialogar com teólogos, acadêmicos, religiosos e todos aqueles que desejam compreender, de maneira profunda e embasada e, ao mesmo tempo, com linguagem acessível à todos, os desdobramentos de um dos momentos da história da igreja. Ao oferecer uma perspectiva crítica e inovadora, o livro convida o leitor a repensar os paradigmas estabelecidos, despertando um olhar mais apurado sobre os processos que moldaram a fé protestante.

Um Convite ao Diálogo e à Reflexão

Em breve , tanto na versão física quanto na digital, Inquisição Protestante – O justo pela sua fé matará será lançado oficialmente. Prepare-se para mergulhar em debates, participar de lives temáticas e, principalmente, refletir sobre as nuances de um passado que, mesmo revisitado, mantém sua essência.

O conhecimento, quando aliado à crítica e à reflexão, transforma não só nossa compreensão do passado, mas também nosso olhar sobre o presente e o futuro.

Estou certo de que, ao explorar as páginas desta obra, você encontrará não apenas uma análise histórica, mas um convite para repensar os caminhos da fé e da opressão religiosa. Acompanhe-me no blog e nas redes sociais — @aquitemtextos — para saber mais sobre os eventos de lançamento e as oportunidades de diálogo que preparamos especialmente para este momento tão significativo.

Sejam todos muito bem-vindos a esta nova edição

Escrever com alma, coração e razão.

Algumas pessoas me perguntam: “Como você escreve?”

Escrever é mais do que organizar palavras em uma sequência lógica. Para alguns, é um ofício técnico, uma arte meticulosa de combinar letras e construir frases bem elaboradas. Para outros, como eu, escrever é um ato de existir. É traduzir a alma, desdobrar o coração e dar voz à mente.

Minha escrita não nasce do vazio. Ela brota das dores silenciadas, dos sorrisos esquecidos, dos gritos contidos e das lágrimas que aprenderam a se esconder atrás de olhares distantes. Cada palavra que escolho carrega não apenas um significado, mas uma história, um resquício de humanidade, um toque de transcendência.

Não escrevo para simplesmente informar; escrevo para sentir e fazer sentir. Meu texto não pede licença para entrar no leitor — ele se derrama, ocupa os espaços, ressoa nas entrelinhas do que não foi dito. É uma escrita que busca não apenas tocar, mas transformar.

Gosto de metáforas porque elas dizem o que as palavras literais não conseguem. Falam da vida como um rio que escorre entre os dedos, da dor como uma semente que insiste em florescer mesmo em solo árido, do amor como um fogo que queima sem consumir. A linguagem poética não é enfeite, mas a essência daquilo que quero comunicar.

Além disso, minha escrita tem um compromisso com a autenticidade. Não escrevo para agradar, mas para revelar. Não moldo histórias para que sejam confortáveis, mas para que sejam reais. E, em meio a essa verdade, há sempre um olhar para o sagrado. O divino está presente, não como um conceito distante, mas como uma presença que habita cada linha, cada pausa, cada respiro.

Se escrevo sobre mulheres da Bíblia, não as vejo como meros coadjuvantes de histórias maiores, mas como protagonistas de suas próprias narrativas. Se escrevo sobre autoconhecimento, não apresento respostas prontas, mas caminhos que precisam ser percorridos. Se falo de amizade, não me atenho às convenções, mas ao que pulsa de mais genuíno nessa relação humana.

Mas voltemos à pergunta original. “Como você escreve?”

Quando eu escrevo, procuro fazer um mergulho dentro de mim mesmo. Quando faço isso, busco enxergar, como num espelho, as emoções e pensamentos que, muitas vezes, se escondem no silêncio do coração.

Não se trata apenas de construir frases, mas de criar um universo onde o que penso e sinto, se em um diálogo. Procuro escolher as palavras que são como um cuidado de quem lapida uma joia a fim de torná-la cada vez melhor.

Escrevo a partir de dores, sorrisos, vitórias, frustrações, enfim, é um ato de existência, de tradução da vida, onde concilio metáforas, Minha escrita nasce de um espaço íntimo e revelador, onde as dores e os sorrisos se entre metáfora, pausa, procurando carregar a marca de um sentimento que acredito que deva ser lembrado. Não escrevo para simplesmente informar, mas para provocar um despertar, para fazer o leitor sentir a pulsação de uma vida vivida intensamente.

Falando um pouco de técnica, eu procuro não restringir meus textos à emoção pura. Procuro utilizar ferramentas e técnicas na construção do texto. Algumas dessas técnicas, que se tornaram quase que uma extensão de mim, são:

  • Introspecção: Reservo momentos de silêncio e reflexão para mergulhar no íntimo de minhas experiências. Essa prática permite que a escrita seja autêntica, conectando o real com o imaginário.
  • Uso de Metáforas: Na vida, estamos sempre fazendo algum tipo de comparação que nos ajuda a entender certos temas. Através de imagens poéticas, procuro transformar o comum em extraordinário. Procuro escolher metáforas que evoquem sentimentos que palavras literais jamais alcançariam.
  • Estruturação Ritmada: Prezo pela cadência do texto, fazendo com que a alternância entre momentos de tensão e calma cria um ritmo que envolve o leitor.
  • Revisão e Reescrita Conscientes: A cada nova versão, o texto se transforma, ganha novas camadas de significado e profundidade. A cada nova leitura, procuro reavaliar as palavras, e, se necessário, modificar de modo que o texto final se torne um reflexo genuíno do que quero transmitir. Sei que no momento da leitura feita pelo leitor, um novo texto emergirá do meu texto.
  • Escrever, escrever, escrever: O que quero dizer aqui, é que a primeira escrita não pode estar amarrada a detalhes do tipo “está certo?” ou “Aqui cabe um parágrafo ou continuo?” As regras gramaticais devem ser vistas por último ou você terá que fazer uma escolha entre escrever ou corrigir.

Mesmo utilizando técnicas, a escrita é, antes de tudo, uma arte de se desvelar, permitindo que a alma dialogue com a técnica, a fim de encontrar em cada palavra uma semente de transformação daquilo que está dentro de mim para aquilo que irá para o texto.

No fim de tudo, o resumo da minha escrita é que ela é feita de alma, coração e mente.

E, se ela encontrar eco em você, então já cumpriu seu propósito.

Aprenda a ser você

Uma jornada rumo ao autoconhecimento.

Em um mundo acelerado e exigente, perdemos muitas vezes o foco do nosso próprio cuidado. E se lhe dissessem que o segredo para ajudar os outros começa por ajudar a si mesmo? Quem cuida de você, quando sua tarefa é cuidar do outro? Quem te ouvirá, após você ouvir muitas pessoas?

Este livro é um convite para uma jornada de autodescoberta, autocuidado e equilíbrio. As experiências compartilhadas aqui são profundas e pessoais, abrangendo a vida cotidiana, servindo de reflexão e direcionamento rumo ao autocuidado genuíno.

Descubra como enfrentar suas próprias tempestades emocionais, mantendo sua luz interior acesa. Aprenda a estabelecer limites saudáveis, sem perder a empatia.

Refletir sobre o que de fato importa é uma das propostas deste livro. Desvende como o autocuidado e o autoconhecimento podem ser forças poderosas de transformação, tanto para você quanto para o mundo ao seu redor.

Embarque nesta jornada que te levará a uma compreensão mais profunda de si mesmo, de como cuidar de sua própria alma e, assim, iluminar o caminho para aqueles que te rodeiam.

É hora de descobrir o verdadeiro significado de aprender a ser você.

As marcas, dores e feridas da vida e sobre quem pode curá-las.

Às vezes eu penso. As vezes penso demais. As vezes penso que pensar exige certo esforço que por vezes me fazem cansar de pensar. Mas sigo pensando.

Estou pensando sobre uma pasteurização da fé, uma certa sacralidade sacal que nem mesmo o Cristo se preocupou de ter. Podendo ser exaltado por seus feitos, ora ele diz “não conte para ninguém”, ora ele diz “paga ao sacerdote o que diz a lei para pagar”.

Eu penso, sem o compromisso de estar certo, de deter a verdade, pois sei que Ele é a Verdade. Sobretudo Ele é a verdade misericordiosa e se no meu pensamento eu falhar,
Ele me dará oportunidade de refazer o percurso.

Estou pensando sobre marcas que a vida nos deixa. Por vezes são doloridas. Cicatrizes que insistem em purgar feridas que já deviam ter secado. Feridas que doem.

E para quem eu olho quando penso nessas marcas? Para o homem de quem se disse em profecia ser “o homem experimentado em dores”. Minha dor, mesmo sendo lancinante não é dor que passe despercebida a quem sabe o que é dor.

Me peguei pesando sobre a genealogia de Jesus, essas coisas da narrativa bíblica que deixamos de lado.

Há muito dado histórico e geográfico, que talvez nem seja possível comprovar, mas há algo que me chama a atenção: “Jessé gerou o rei Davi, e o rei Davi gerou a Salomão, daquela que foi mulher de Urias;”

Por que, depois de tanto tempo, o escritor do evangelho registra um fato que foi tão complexo na vida do grande rei David?

Um historiador diria que é só um registro de que o escritor de Mateus está apontando para uma ramificação da árvore genealógica que não é o tronco principal. Mas não quero pensar como historiador.

Penso que o texto está descrito assim com um propósito. E que me perdoem os exegetas, não estou fazendo exegese do texto, só estou pensando. Pensando que Jesus não é um Deus sacralizado, inatingível, que está separado das humanidades dos homens.

Penso que o escritor descreve marcas da vida. É como se ele quisesse dizer para quem lesse a história do cristo: “Esse Cristo, é aquele que vem de uma raiz de adultério misturado com assassinato premeditado. ”

E sabe em que essa marca na genealogia de Jesus o diminui, o desqualifica?

A resposta é tão simples, mesmo que haja uma horda de cristãos que vejam de outra forma.

As marcas na ancestralidade de Jesus só mostram o que ele é: Filho do homem, homem experimentado em dores, cabra marcado para morrer.

Penso que quando fazemos um esforço inútil de sacralizar, por nossas medidas, aquele que não é possível mensurar, o que de fato queremos é que Ele não enxergue nossas marcas.

Penso que de fato são nossas marcas, tortuosas marcas, feridas doloridas, com secreções da vivência, que nos aproximam do Mestre, do Médico dos médicos, do único homem que pode tocar nossas marcas, nossas feridas e nos curar por inteiro.

Os saudáveis, sem dores, sem marcas, continuarão distantes desse Deus chamado Jesus, pois ele é aquele que tomou sobre ele nossas enfermidades e quem não as tem, dele não precisa.

Isaías 53:3-5
Mateus 1:6

Apocalipse de João e Marisa Monte

Num êxtase, exilado na ilha de Pátmos, ele vê um lugar que difere do lugar onde vive. Seu lugar é de dor, dúvida e perseguição.

Idoso e cansado, é natural que deseje um lugar calmo, um vilarejo, onde de sua casa, possa ver o horizonte.

Ele vê o novo céu, a nova terra, lugar onde não há divisões, onde o mar deixa de existir e derruba as fronteiras. Um lugar desses, não merece outro nome: paraíso, um vilarejo onde areja um vento bom.

Lá vivem os heróis. Os que um dia que deixaram os lares de suas mães, para que ao longo do caminho, sinalizassem com suas vidas o Reino de Deus.

Neste vilarejo, lugar de aconchego, há casas cujos tetos são brancos como as vestes brancas de uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas.

Toda gente cabe lá, Palestina ou Sangri-lá.

O tempo é o Eterno, pois lá o tempo espera. Lá é sempre primavera, estação do renascimento, da nova vida. Lugar que não necessita de sol nem lua para que resplandeça. O Cordeiro a ilumina.

Suas portas e janelas estão sempre abertas. A cidade está adornada com flores que enfeitam caminhos, vestidos e destinos.

Lá existe o verdadeiro amor para quem entrar na cidade.

Ele tanto pode andar, quanto voar e da varanda de sua casa ouve uma música que poderia ser mais ou menos assim:

Há um VILAREJO[1] ali

Onde areja um vento bom
Na varanda quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão

Terra de heróis, lares de mãe
Paraíso se mudou para lá
Por cima das casas cal

Frutas em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonhos semeando o mundo real
Toda a gente cabe lá
Palestina, Shangri-lá

Vem andar e voa
Vem andar e voa
Vem andar e voa

Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar
Em todas as mesas pão

Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos
Os destinos e essa canção
Tem um verdadeiro amor
Para quando você for.

Eu sei que eu posso estar sonhando, mas eu sei que eu não sonho sozinho.

[1] Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte, Pedro Baby

Ensinar para a vida, na vida e com a vida.

Em um dia desses, em que a vida nos proporciona um refrigério, encontrei com um amigo que não via há muito tempo. Como de costume, perguntas sobre família, filhos, realizações, trabalhos, essas coisas que às vezes perguntamos só para ter o que falar. Entretanto, houve uma pergunta que foi bem interessante. Ele me perguntou:  “por que você gosta tanto de ensinar?”

Minha resposta curta, o deixou meio sem palavras e ele mudou de assunto. Dias depois ele pediu-me para falar mais sobre minha resposta.  Aqui vai um pouco do que disse para ele.

Gosto de ensinar, porque vou morrer em breve.

Parece não haver nenhuma relação, mas pare e pense por um momento. Para onde vai todo o conhecimento que acumulamos, quando nosso coração para de bater?

Gosto de ensinar, porque para o lugar para onde vou, a partir dos pressupostos da fé que abracei, não é lugar de aprendizado. Lá, segundo o apóstolo Paulo, nós o conheceremos como Ele é. Todas as coisas antes vistas de forma distorcidas serão vistas de forma clara e sem dúvidas.
Ensinar é de fato um grande aprendizado, mas se há o que ensinar, que se ensine aqui, neste plano.

Gosto de ensinar, pois mesmo que não ponham em prática todos os meus ensinamentos, ou que não se ponha em prática um sequer, tenho a certeza de que compartilhei algo com alguma pessoa. Qual o sentido de estar nesta terra se não for para compartilhar?

Gostei de ter ensinado aos filhos, Helen Brites e Michel Brites, com meus acertos e com meus erros. Os acertos, disse à eles certa vez, são para serem imitados, os erros, para serem perdoados, e lembrados a título de experiência. Olhar para os erros e dizer: “tentarei não errar desta forma”.

Gostei de ter ensinado pessoas a conhecerem o que eu conheço. Gostei mais ainda, quando ao ensinar elas discordaram de mim. Rendeu-nos grandes diálogos enriquecedores da vida.  No fim de tudo, receber como resposta um “discordo de você, mas foi muito bom dialogar contigo” foi a melhore recompensa pelo tempo investido.

Gostei de ter ensinado à Lya Brites sobre como eu sou: simplesmente complexo. O paradoxo da minha existência, com certeza produz nela a vontade de sempre querer me conhecer e me oportuniza sempre poder me descrever como ser que sou.

Goste de ter ensinado durante os sermões que prediquei, que o Evangelho é revolucionário e libertador, e o que for diferente disso é o que o apóstolo Paulo chama de anátema.

Ensinamos para a vida, na vida e com a vida, pois no lugar da morte, ou do pós vida, seja lá como você acredita não há como ensinar a vida.
Por isso, seja lá o que você tiver para ensinar, ensine.

Sabe aquela receita, modificada por você e que adquiriu um sabor todo especial? Ensine. Provavelmente o resultado não será o mesmo e você conhecerá uma nova receita, um novo sabor, um novo aprendizado.

Sabe Teologia, daquela que gera vida, que ensina que o Eterno teve que se esvaziar de si mesmo para gerar vida? Ensine e você estará gerando vidas que gerarão vidas.

Gosta de política, da boa política? Ensine sobre ela, afinal, não é porque os políticos são ruins que a política também tem que ser.

Você sabe assobiar com os dedos na boca? (coisa que não sei até hoje), ensine. Parece bobeira, mas alguém se lembrará de você por detalhes como esses.

Soltar pipa, jogar bola, rodar pião, usar um aplicativo, ter prazer em ler, em sentir, em ver, em viver. Tudo isso pode ser uma grande fonte de ensino e aprendizado.

Você não acredita na vida pós-morte? Não tem problema. Alguém ficará na terra lembrando a todos o que aprendeu contigo.

Quando você chegar diante do Eterno, a quem chamo Deus, e respeito a forma como você o chama, com certeza Ele estará orgulhoso de ter colocado você no mundo para fazer diferença na vida de alguém.

A lei de Moisés, que mata e a lei do Cristo que resgata.

leiSim, eu sou pastor evangélico. Tenho muitos amigos pastores que dos quais posso tirar bons exemplos, mas não me atreveria, e sei que eles não gostariam que eu me atrevesse, a afirmar que eles são meu modelo de pastoreio.

Tenho como modelo de pastoreio o Cristo. Não outro modelo a ser seguido. Ele era homem e o “ser homem” é uma grande possibilidade para mim que quero tê-lo como modelo. Como homem, ele teve a oportunidade de mudar de ideia, esquecer um conceito da sua religião, para favorecer uma pessoa que carecia de sua atenção, amor e misericórdia. Quando ele se decide contrariar a lei do apedrejamento em caso de adultério, ele estava efetivamente deixando um conceito de sua religião (é bom lembrar que a religião de Jesus não era o Cristianismo, mas o Judaísmo), para simplesmente agir a favor do ser humano.

Pelo conceito da religião, ou para não ofender os religiosos, pela Lei do Deus de Israel, quem fosse pego em flagrante adultério deveria ser apedrejado até a morte. A lei é dura, mas é a lei. A lei não excluía um ou outro do apedrejamento. Os dois deveriam pagar com a vida. Os escribas e fariseus, entretanto, pervertem a lei, na intenção de testar o mestre e afirmam que a lei de Moisés manda que “as tais sejam apedrejadas”.

O que Jesus deveria ter feito era apedrejar até a morte. Seria assim um religioso guardião dos preceitos da lei, mesmo que esta estivesse pervertida pelos homens, todavia, ele coloca em cheque o posicionamento hipócrita daqueles homens, de modo que, diante da sua escrita a terra e de sua declaração “quem não tiver pecados, atire a primeira pedra”, cada um se retira.

Estou seguindo esse exemplo e pastoreio, que enxerga na fraqueza daquele ser aviltado e envergonhado, um campo fértil para laçar a semente da misericórdia que gera vida. Conheço os preceitos da fé, mas não ouso transformar esses preceitos em armas a tirar vidas.

Dois temas me chegaram aos meus olhos e ouvidos, e me fizeram refletir sobre eles. O primeiro, trata-se de padres acometidos da síndrome de Burnout que cometeram o suicídio. O clamor da religiosidade me fez perguntas do tipo: um suicida vai para o inferno? Pior que as perguntas, foram os que afirmaram. Quem tenta o suicídio, não pensa se vai para o inferno. Na realidade, ele já vive um inferno e enxerga na morte a oportunidade de se livrar dele.

Quem nunca passou por uma tentativa de suicídio diz com total tranquilidade que Deus mandará os suicidas para o inferno, pois só ele pode tirar a vida que ele mesmo Deus.

Precisamos refletir se de fato o suicida é quem tira a vida, ou se ela já foi tirada por alguém ou alguma coisa antes. Basta uma pesquisa simplória sobre a síndrome de Burnout, e veremos que a vida não foi tirada no ato do suicídio, sendo este somente uma extensão tardia de algo que já havia sido feito.

Sim, sou pastor evangélico, mas não compete a mim determinar quais atitudes que levando um ser humano desesperado a atentar contra a própria vida, o levarão para o inferno. Fui chamado para ser pastor por Jesus, que em sua graça é capaz de compreender o que para muitos outros seres humanos que julgam é incompreensível.

O outro tema, era o aborto. Pra começo de conversa, eu sou contra o aborto. Não haveria de ser diferente, pois como pastor, sigo em busca da preservação da vida. Entretanto, eu não vivo em um mundo formado só por pastores, padres, ou seja lá qual for o nome do sacerdócio religioso escolhido. O que eu faria se uma mulher me procurasse para um aconselhamento sobre fazer ou não um aborto? A resposta é tão obvia, que me cansa ter que respondê-la.

Havendo esta possibilidade, como líder religioso eu tentaria dissuadi-la desta vontade, propondo uma preservação da vida. Por outro lado, não acredito que se uma mulher procura ajuda diante deste tema, ela está contente em abortar. Não posso falar de experiências, pois não participo de uma gestação com todas as nuances que uma mulher participa, entretanto, imagino que toda mulher que procura o aborto como uma solução tem um dilema pela frente.

Durante os clamores contra o aborto, infelizmente não vi ninguém propondo uma discussão sobre o que fazer com os médicos que praticam aborto. Considerando que o aborto no Brasil é crime, os clamores contra o aborto não perceberam a lógica da decisão do STF. Não se estava nesta ação dando à mulher que abortou o direito de abortar, mas o que de fato o STF fez foi dizer “não prendam esses profissionais, pois até o terceiro mês pode sim fazer aborto”. O julgamento do STF absolveu os médicos e enfermeiros, e a população condenou a mulher que aborta.

Mas o que importa mesmo, em um país onde o aborto é crime, é condenar a mulher e absolver os médicos e enfermeiros que fazem o aborto, afinal, eles só estão trabalhando. E com esta visão “crítica” argumenta-se sobre a bactéria de marte, sobre o sexo sem preservativo, sobre “se tivesse fechado as pernas isso não aconteceria” e tantas outras “argumentações” diante de um problema muito maior.

Mostrem-me uma mulher rica, da high society brasileira que tenha morrido ou sofrido algum tipo de problema físico ao praticar o aborto e eu compreenderei que a morte ao abortar não escolhe classe social. Mostrem-me esta mesma garra de rechitégui facebookeana em favor do idoso, colocado no asilo como estorvo e eu pensarei da mesma forma. Mostrem-me um pouco de compaixão pelos moradores de rua, que comem comida do lixo e eu entenderei que esse grito contra o aborto não é somente a repetição de antigos conceitos religiosos do tipo “pela lei de Moisés, as tais devem ser apedrejadas”.

Não posso, por conta da minha fé, decidir sobre a vida de quem não compartilha a mesma visão de fé. A “lei de Moisés” não deve ser imposta aqueles que sequer conheceram Moisés. A “lei de Moisés” é aquela que mata os que cometem tais erros. A lei do Cristo é aquela que resgata os que cometem tais erros.

Sim, sou pastor evangélico e defenderei a vida, tanto daquela que tem 3 meses de gestação, quanto daquela que está gestando há três meses. Não fui chamado para ser pastor que aponta o inferno para quem faz alguma coisa contrária aos preceitos da Lei, mas para ser pastor, tal como o Cristo, que é capaz de ignorar a fúria conservadora dos escribas e fariseus, hipócritas, e finalizar a questão com um “quem te condenou? Nem eu te condeno, vai e não peques mais.”

Muito mais do que discutir sobre suicídio ou aborto, consequências de algo que já se instalou, precisamos discutir as causas, tratar de cada uma delas e ainda assim, se tudo continuar igual, olhar com o mesmo olhar de misericórdia que o Pastor dos pastores olhava para aqueles que diante dele, se encontravam em posição de infortúnio.

O samaritano misericordioso e os religiosos conhecedores da lei.

bomsamaritanoTenho pensado um pouco sobre o que chamamos de “a parábola do bom samaritano”. Refiro-me sobre “o que chamamos”, pois de fato, no texto não há nenhum apelo para a apresentação de um ser que seja bom. É mais correto pensar que o título é devido à traduções e tradições do que ao texto em sua versão original – ou pelo menos da cópia, da cópia, da cópia…. da versão original.

Considerando que Jesus evita o título de bom, é provável que a expressão bom samaritano não corresponda à teologia Lucana. Não seria muito acertado pensar que Lucas descreva o samaritano como bom em um momento e em outro descreve Jesus evitando ser chamado de bom pelo jovem rico.

Sendo assim, podemos considerar como mais próximo da realidade e da teologia de Lucas, a expressão “o samaritano misericordioso”. Podemos inferir isso a partir da declaração do perito da lei –  “aquele que teve misericórdia dele” – , quando inquerido por Jesus de Nazaré sobre quem ele achava que era o mais próximo do homem que sofreu na mão dos salteadores.

Mesmo sendo o título inadequado a partir da teologia lucana, podemos pensar nas ações do samaritano, sem nos prendermos aos detalhes da tradição e das traduções do texto sagrado. Não é quem o samaritano é, mas o que o samaritano fez que configura de fato o mais importante na parábola.

Além disso, do que foi feito pelo samaritano, há outro ponto importante na parábola. Trata-se do que não foi feito por aqueles que, sendo religiosos, e, possivelmente, da mesma religião que o homem atacado pelos salteadores.

Outro ponto importante, por vezes pouco observado é a condição em que a vítima foi deixada. Os algozes o deixaram nu. No contexto religioso atual, nada significa, mas no contexto religioso do tempo da parábola, significa que aquela vítima havia perdido sua identidade de grupo. Não se poderia dizer se era de alguma classe de religiosa. Entretanto, a contradição de um samaritano cuidando de alguém que não era possível identificar, nos remete a uma probabilidade de ser a vítima um judeu. Nesse sentido, a ação dos religiosos é ainda pior, pois se não podiam identificar a classe religiosa da vítima podiam sim reconhecê-lo como um irmão judeu. Não podendo reconhecer se o moribundo era da sua classe, não justificaria deixa-lo da forma que o encontraram.

Não é difícil perceber a responsabilidade assumida e logo depois desprezada pelas duas classes de homens que antecederam ao samaritano misericordioso. Nem o sacerdote, nem o levita passaram por um lugar onde a visão do moribundo fosse impossível. O texto diz claramente que eles seguiram seus caminhos após terem feito contato visual como o homem abatido.

Nisto reside o que houve de pior na ação dos dois religiosos. Viram a necessidade, e julgaram que não era problema deles, deixando o necessitado na mesma situação anterior. Não tivessem visto o homem e suas responsabilidades não seriam observadas pelo redator do texto.

            O samaritano toma atitudes para as quais há um destaque no texto lucano. Primeiro, foi tocado internamente – “moveu-se de íntima compaixão” – vendo-o, não ficou só na observação, mas deixou-se ser afetado pela dor daquela vítima. Em seguida, gastou de seus apetrechos de viagem – azeite e vinho – para amenizar a dor de quem sequer conhecia. Logo depois disso, privou-se de conforto para colocar o objeto de sua compaixão em sua cavalgadura.

            Tivesse ele tomado somente estas atitudes e já seria suficiente para diferenciá-lo dos religiosos. Mas ele foi além. Levou-o para uma estalagem, a mesma que ele mesmo passou a noite, não criando dessa forma uma casta diferente. No dia seguinte pagou as despesas e se comprometeu a restituir o que fosse gasto a mais, quando retornasse.

            Enquanto o certo doutor queria somente testar Jesus, fingindo não saber quem era o seu próximo, o mestre deu uma lição de que o mais importante não era saber a lei, mas identificar o próximo e suas necessidades.

            Quem está de fato preocupado com as necessidades do próximo, não se prende aos rudimentos da lei, antes age, suprindo as necessidades diárias do próximo se comprometendo em investir um pouco mais, caso haja necessidade.

A igreja da desesperança: quando o túnel causa fim à luz

imagesO que é a igreja de hoje? O que ela deixou de ser ao longo do tempo? Qual a relevância da igreja nos dias atuais? O que aconteceria no mundo se a instituição igreja fechasse suas portas de vez?

Essas perguntas, para as quais pretendo ter alguma resposta, de preferência a partir de articulações com amigos e irmãos que sofrem das mesmas inquietações que eu, explodem o tempo todo na minha cabeça.

Talvez, por conta disso, tenho me questionado também, sobre o meu papel como pastor nessa igreja para a qual busco essas respostas. Sei que não serão respostas prontas que me farão entender os motivos pelos quais há tanta diferença na igreja fundada pelo Cristo e na igreja perpetuada por aqueles que se auto-denominam cristãos.

Não pretendo aqui, fazer estudo de casos. Os casos a ser estudados não são lá boas fontes de estudo. Pretendo discorrer sobre a dor de ser igreja em um mundo para o qual a igreja não tem se mostrado na perspectiva de seu fundador. A igreja que hoje existe, não é, nem de passagem, aquela, de quem se disse certa vez “as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Em dado momento, ela tem sido, de fato, o portal para o inferno em vida.

Nesse sentido, tenho me perguntado sobre de que vale o ajuntamento de pessoas, que chamamos de igreja? (vale à pena ressaltar que não falo do corpo místico de Jesus, mas da instituição). Para que serve? A quem serve e de quem se serve a igreja nos nossos dias.

Nos tempos de Jesus, a Igreja fazia parte de um projeto chamado Reino de Deus. Não estava lá, mas posso compreender perfeitamente que o projeto de Deus com a Igreja sempre foi sinalizar o Reino de Deus. Por isso ele chama os que o seguem de Luz. A luz sinaliza o caminho. O caminho de paz, de busca pelo o outro, de amor e de perdão. O caminho que fizesse com que o povo enxergasse na igreja algo para além do aglomerado de gente.

Jesus os chamou também de sal. Penso que ao comparar os que o seguiam como sal, Ele deu a real dimensão do que deveríamos ser. Não precisa de muito para fazer a diferença. Mas precisa dar sabor para fazer essa diferença. Não precisa saturar se não, no lugar de diferença, haverá uma igualdade intragável e causadora de doenças. Precisa ser pouco, na medida, e com propriedade de dar sabor.

Nesse sentido, da luz e do sal, penso que a igreja se perdeu por completo. A começar por suas lideranças, muitas delas vestidas de uma soberba diabólica. Acredito que o clamor do profeta é tão contemporâneo quanto nos dias Ezequiel quando ele dizia “Estou contra os pastores e os considerarei responsáveis pelo meu rebanho. Eu lhes tirarei a função de apascentar o rebanho para que os pastores não mais se alimentem a si mesmos. Livrarei o meu rebanho da boca deles, e ele não lhes servirá mais de comida.” Ezequiel 34.10

Triste destino para quem, no lugar de fortalecer, curar, enfaixar, trazer de volta a que se foi, procurar a perdida, só pensou em devorá-las. Sendo pastores de sua própria arrogância, ignoraram o conceito mais básico do pastoreio que é o cuidado.

Da liderança, para grande parte dos liderados, muda muito pouco. Não era para ser diferente. Para o bem ou para o mal, o nome disso é discipulado. Há liderados que são a cara e a voz de seus líderes. Por conta disso, há muito incomodo com mudanças nos direitos civis e pouquíssimo incomodo com as lideranças que são pegas em flagrante corrupção. É a ação do líder que faz o liderado.

Desta forma, por que reclamar da corrupção quando se tem uma bancada inteira de autoridades em nome de suas instituições a quem chamam de igreja? Por que se preocupar com os púlpitos que nas eleições viram palanque de um curral eleitoral, onde se vota, não por opção política, mas por serem dominados por suas lideranças. Se auto “farizaízam” e continuam coendo mosquitos e engolindo camelos.

Nas suas marchas, a instituição igreja segue como bando de zumbis, que gritam o grito da alienação, passando por desvalidos, maltratados pela sociedade, doentes, pedintes e a única coisa que conseguem fazer é gritar seus gritos alienante “hei, Hei, hei, Jesus é o nosso rei” (e o pastor fulano, sicrano, o cantor, a cantora, o profeta a profetisa, também).

Continuo pensando sobre o que esse tipo de igreja, comprometida com o poder e os poderosos, no lugar de se alinharem aos oprimidos, tal como o Senhor da igreja, tem a oferecer a este mundo caótico.

A igreja que vejo hoje, é a igreja da desesperança, que prefere ser mais, ter mais autoridades do lado dela, do que ser simplesmente luz e sal, na medida certa para cumprir o seu chamado de sinalizadora do Reino de Deus e diferencial no mundo. É o túnel no fim da luz.

Espero sinceramente, que minha esperança não morra pois tenho esperança naqueles que ouvem a voz do Senhor da Igreja.