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A escravidão disfarçada de serviço ao Rei.

downloadO profeta Jeremias é um velho conhecido da humanidade. Não porquê tenha vivido há muito tempo nas terras de um Israel monárquico-sacerdotal, mas porquê sua mensagem tem falado de algo que existiu em sua época, tomou um ar histórico de finalização, mas de fato não finalizou.

Nos tempos de sua profecia, reinava em Israel Jeoaquim, o filho do grande reformador Josias. Se Josias é conhecido como o rei que tirou Israel de um momento histórico de apostasia, sendo o rei que, como diz o texto bíblico, foi “o que mais se converteu a yahweh”, (2 Reis 23.25), seu filho Jeoaquim não foi pelo mesmo caminho.

No desejo de se mostrar poderoso, Jeoaquim desejou construir um grande palácio para si. Na construção deste monumento à sua própria soberba, ele mostra quem de fato ele é.

Querendo seu monumento de orgulho pronto, utilizou-se da injustiça, perverteu o direito, não pagou pela mão de obra utilizada.

O profeta Jeremias é contundente ao afirmar que ninguém lembraria da sua glória e nem se lamentaria por ele. O grande e soberbo rei, que escravizou pessoas para construir uma grande casa, seria sepultado em sepultura de jumento, bem loja de Jerusalém.

Por ter usado mão de obra escrava, e por não ter ouvido a voz de yahweh, Jeoaquim seria entregue nas mãos dos que buscavam por sua vida, e a vida dele e de sua mãe seria entregue nas mãos de estrangeiros e por lá morreria, sendo impedido de voltar à sua terra natal.

A escravidão de fato é uma mancha na história da humanidade. A maldade humana a classificou em algum tempo, como sendo algo legítimo e, sendo legítimo, considerava-se um escravo como mero objeto. Desta forma, ter, manter, bater, matar, não era visto pelos donos de escravos como algo errado.

Mas a escravidão acabou! Celebremos!

Não há o que celebrar de fato. Pois o que acabou foi a legalidade da escravidão. Ninguém pode mais dizer que tem um escravo e sair impune. Ninguém pode mais acorrentar um ser humano e não ser punido por isso, entretanto, a escravidão ainda existe.

No Brasil, há uma Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. Só o fato de se ter essa comissão, já torna o trabalho escravo uma realidade em terras brasileiras.

Há escravidão no Brasil sim, mas recebe o nome politicamente correto de “condições de trabalho análogas à escravidão”, um nome maquiado para uma realidade nua e crua.

Ha inda outro tipo de escravidão, a religiosa. Nesse tipo de escravidão, o líder religioso, conduz seus fieis como escravos. Eles precisam agir da forma como ele diz, vestir-se da forma como ele quer, ir aos lugares que ele julgar que devam ir, viver da forma que ele permita que se viva.

É a escravidão disfarçada de serviço ao Rei Jesus.

Se não há liberdade para ser, é porquê ainda há escravidão, mesmo que velada.

Esse tipo de escravidão é o mais pernicioso, pois chantageando seus fiéis com as dores da punição do inferno, os obriga a viver uma vida que não é de fato vida. Não há vida, se não há liberdade.

É ainda uma escravidão pior, pois se fundamenta em textos bíblicos para ratificar suas sandices. O mesmo líder que escraviza, sobe aos púlpitos da soberba, de suas casas construídas como trabalho escravo de seus fiéis e vergonhosamente pregam: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Quão longe estão da verdade, e quão longe estão da liberdade.

Jeremias fala hoje: “Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça, e os seus aposentos sem direito, que se serve do serviço do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário do seu trabalho (Jeremias 22:13)

Justiça, direito, valor devido. Se não há nenhum dos três, não há liberdade.

Que nosso modelo seja o Cristo que liberta, julga com justiça, não perverte o direito e nos dá o valor devido de filhos de Deus.

Falando sobre viver na terra e morar no céu

multitud_jesusO evangelho de Mateus, no seu capítulo cinco, tem vários blocos de ensinamentos. O que se vê ali é importante para a vida como um todo. No relacionamento com Deus e com o próximo. O texto me dá a impressão de que está ensinando como viver na terra e morar no céu.

É bom deixar claro que esta divisão por blocos, não segue nenhuma argumentação técnica de exegese. É o que sinto. Só isso.

Primeiro bloco do discurso:

Enquanto muitos pregam o caminho para os céus a partir de uma teologia demoníaca chamada de teologia da prosperidade, Jesus inicia seu discurso dizendo dos pobres de espírito é o reino dos céus. Pode haver pobre de espírito rico? De fato, pode. Não oriundo desses arremedos de teologia que existem por ai. O reino desses é da terra, nunca do céu.

Os que choram, serão consolados. Por vezes é difícil compreender isso. Queremos ser consolados, amparados, mas não queremos as dores do pranto.

Enquanto muitos guerreiam por posses, por ter no lugar de ser, Jesus ensina que para herdar a terra é preciso ser manso.

A justiça, tão deixada de lado nos nossos dias, fazendo com que pessoas sejam injustiçadas, no reino dos céus será farta e abundante.

A misericórdia, que é a qualidade de quem tem um coração compassivo, será o resultado certo de quem agiu com misericórdia.

Os que tem o coração desapegado das sujidades deste mundo, verão a Deus com seus próprios olhos.

Os que promovem a paz, os que são perseguidos, injuriados, caluniados receberão a recompensa de um galardão no céu.

Segundo bloco do discurso:

Enquanto muitos interpretam mal o termo mundo, se isolando e se introvertendo, Jesus ensina o contrário. O sal faz diferença. Não é mesmice. Dá sabor além de proteger do processo de deterioração. O Papel da igreja não é ficar como que pacotes de sal na dispensa. Sendo assim não serve pra nada. Ocupa espaço, mas não modifica vidas. Só serve para ser jogado fora. Igreja é vida, é sabor, é diferença, é Sal da terra.

A luz identifica. Esclarece. Clarifica. É certo que o papel dos seguidores de Cristo é iluminar. Devemos ser iluminados para iluminar. Escondidos somos só luz parca, difusa, confusa, sem saber nem o que somos nem para que somos. Entretanto, nós como luz, não brilhamos para nossa própria glória. Nosso brilho, sendo reflexo de Deus, ilumina o mundo, mas a glória nunca será nossa, sempre será de Deus. Sem Ele não há luz. Sem ele não podemos ser luz.

Terceiro bloco do discurso:

Ele cumpriu a Lei, mas foi capaz de colocar o ser humano em lugar de destaque. A lei é boa, mas sendo impotente para salvar, não se torna escolha primária de Jesus.

Ele cumpre a lei, mas cura no sábado e ensina que até o sábado tem o seu Senhor. Ele cumpre a lei, mas dignifica aquela que fora pega em flagrante adultério, quando permite que a lei seja cumprida com a vida e não com a morte. Se não há acusadores, não há razão para a morte da acusada. Somente sendo justo na lei, existe a possibilidade de se entrar no reino dos céus.

Quarto bloco do discurso:

Neste bloco, Jesus trata do relacionamento entre seres humanos. Evoca leis antigas e as reinterpreta. Não matar passa a ser algo além de tirar a vida. Mata-se com ofensas. Mata-se quando se oferta, tendo problemas não resolvidos na convivência com o próximo.

O adultério também é ampliado. Não se trata mais dos flagrantes, mas se trata do que se passa no coração. De fato, o coração é o lugar do tesouro. Se algo ruim acontece lá, mesmo que não aconteça na carne, já é grave. A solução é drástica. Arranca o que te faz pecar. Uma alegoria para explicar que se o desejo te faz pecar, faça um esforço sobre-humano para viver dignamente apesar dele ou sem ele. É melhor ser incompleto, sem o desejo, do que sendo completo viver a ausência de Deus.

Quinto bloco do discurso:

A palavra deve ser uma só. Não há porque jurar. Não há como garantir uma palavra por coisas pelas quais não temos o menor controle. A palavra deve ser uma somente. Sem dúvida, sem meio termo. O sim, sim. O não, não. Basta isso.

Sexto bloco do discurso:

Não se deve dar o troco. Não se deve cobrar o dente que se perdeu por outro que se perdeu. Uma perda não faz de outra perda uma dor menor. É preciso praticar a longanimidade.

Amar o próximo e odiar o inimigo não é padrão de quem busca o reino dos céus. Amar a quem se ama é lugar-comum a todos. Que vantagem há nisso. Para ser cidadão do reino, é preciso mais que isso. O pai entrega o sol sobre justos e injustos. Ele ama sem fazer escolha entre um e outro. Filhos de Deus herdam características do Pai. Ama além do amigo. Ama até o inimigo. Agindo assim, e somente assim é possível ser chamado de filho de Deus.

As tentações atingem a nossa humanidade

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Quando nos deparamos com o capítulo 4 do evangelho de Mateus, encontramos ali algumas informações que, por vezes, queremos deixar de lado. Todo cristão, independentemente de sua tradição, acredita que Jesus é Deus. Neste capítulo, porém, encontramos este mesmo Jesus que é Deus, sendo humano.

Diante do suposto paradoxo entre essas duas naturezas, fazemos a escolha que parece caber mais confortavelmente nas nossas mentes e corações. Olhamos Jesus vencendo o tentador como Deus, mas ignoramos seu momento mais humano, quando depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, simplesmente teve fome.

As tentações de Jesus mostram claramente que naquele momento, o que estava sendo atacado era sua humanidade.

Transformar pedras em pães seria um milagre digno de Deus, mas o resultado só serviria para uma coisa: aplacar a fome de um homem. Deus não tem fome. Além de prover a fome, esta tentação mostraria o quanto humano Jesus era em querer provar sua identificação com Deus a alguém que com certeza já havia presenciado esta identificação nas palavras “esse é meu filho amado…”

Lançar-se do ponto mais alto do templo na certeza de que daria ordens aos seus anjos e, garantido pelas escrituras, não sofreria dano, é de novo uma ação Divina, mas o resultado da obediência dos anjos a essa ordem, também só serviria para uma coisa: salvar a vida de um homem. Deus não morre. Além de prover segurança na queda, esta tentação estimulava o desejo do ser humano de estar no controle de todas as coisas –  “eu mando, os anjos obedecem” – isto era o que pensava o tentador sobre a atitude a ser tomada por Jesus.

Contemplar todas as glórias do mundo, com suas infinitas riquezas, é algo que Deus faz desde o dia em que criou essas glórias, mas prostrar-se diante de outra pessoa que não é Deus para obtê-la, é uma ação puramente humana.

Nem sempre passamos quarenta dias e quarenta noites sem nos alimentar, mas todos os dias somos tentados a ouvir a voz da nossa escassez diária, da nossa necessidade fisiológica, no sentido de creditar a essa voz um poder maior que a voz do Eterno.

Nem sempre estamos na perspectiva de nos lançar de um lugar alto do templo, mas estamos sempre querendo mandar em alguém, querendo estar no lugar mais alto do templo, para desta forma, nos sentirmos melhores e maiores que alguém, de modo que nossa vontade seja realizada plenamente.

Nem sempre estamos diante de todas as glórias do mundo, mas sempre somos levados a desejar todas elas, nem que para isso tenhamos que nos prostrar diante daquele que nos seduz a sermos dominados pelas riquezas.

A tentações atingem a nossa humanidade.

Não venceremos a tentação porque oramos e jejuamos, mas venceremos quando, de posse da palavra de Deus, negarmos uma a uma, na certeza de que com Deus é sempre melhor do que com qualquer outra pessoa.

O resultado de não cedermos às tentações é ser servido por Deus. A escolha será sempre nossa.

Humildade: tema desconhecido para raça de víboras.

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No capítulo 3 de Mateus, encontramos um grande personagem: João Batista. Seus feitos e sua ousadia são marcantes. Atreveu-se a chamar os religiosos de “raça de víbora”.

Ensinou-os, ou pelo menos tentou ensinar, sobre a necessidade de produzirem frutos de arrependimento. Não bastava se batizar era preciso se arrepender. Banho ritual não era novidade na religiosidade da época.

Tudo isso é muito impactante. Um grande homem, homem de Deus, gritando contra a religiosidade hipócrita e rebelde da época.

Entretanto, há mais coisas impactantes neste capítulo. O filho do carpinteiro se aproxima e quer ser batizado. Com essa atitude, subverte a lógica do coração de João. “Eu é que preciso ser batizado por ti…”

Mesmo subvertendo a ordem interna do João, Jesus o reconhece como autoridade naquele assunto.

Talvez hoje, os religiosos rebeldes ficariam felizes. “Eu batizei o filho de Deus” e poderiam arrematar: “afinal de contas, ele reconheceu quem deu início a esta obra”.

Raça de víboras!

 No lugar de se envaidecer, ele se humilha quando ensina: “aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo”.

Ele batiza Jesus e o Pai faz descer sobre o filho uma pomba, dizendo “este é meu filho amado, em quem tenho prazer”

O Filho amado, Senhor do João, e de toda a terra, não recebe nenhuma pompa na sua iniciação. Para o Senhor da humildade, batizado pelo servo da humildade, uma pomba e uma palavra de confirmação da paternidade são suficientes.

Jesus sai daquele Rio, certo de que sua missão não seria fácil. Vai para o deserto para ser tentado e para vencer as tentações.

A humildade do batizador e do batizado é impactante, muito mais que todas as honras que um ou outro pudesse requerer.

Humildade é a palavra. Raça de víboras jamais saberão o que é isso.

As marcas da vida e as marcas de Jesus.

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No primeiro capítulo do evangelho de Mateus encontramos o registro dos ancestrais de Jesus. Este é um texto bastante ignorado pelo menos até o verso 17.

Talvez as pessoas que ignoram entendam que ler uma sequência de “fulano gerou a sicrano” é por demais enfadonho. Entretanto, no verso 6 há uma declaração que considero bastante importante: “E Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias.”

David se torna pai de Salomão, não de sua mulher, mas “da que fora mulher de Urias”

O que compreendo aqui, é que o redator de Mateus, deixa na genealogia do filho de Deus, do Cristo, uma marca de um de seus ancestrais. Esta marca, não apontava para os grandes feitos do grande Rei David, mas para um momento de total debilidade e fraqueza. Um momento que o destitui de toda a sua glória de grande rei e o remete totalmente à sua condição humana. Mesmo sendo um grande rei, ele não passa de um pecador como qualquer outro ser humano.

Por um período de tempo, Davi faz como qualquer ser humano quando erra: esconde seu erro. Mais tarde, ele compreende que seu silêncio é a causa de seu corpo ser consumido pelo pecado e escreve: “Quando eu guardei silêncio, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio.” E ainda completa: “Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado.”

O que precisamos aprender é que como seres humanos, por vezes somos marcados por atitudes erradas que tomamos. Essas marcas produzem em nós dores que nos atingem fisicamente, psicologicamente e espiritualmente.

Temos que evoluir dos nossos erros, deixando as marcas da vida, compreendendo o quanto elas nos fazem mal e confessar os erros, de modo que o Eterno possa perdoar a maldade de nossos pecados.

David não está na genealogia de Jesus porque pecou, mas porque não permaneceu no pecado. Seu arrependimento e confissão, e não o seu ato pecaminoso é que fizeram dele um homem segundo o coração de Deus.

Ao se tornar um dos ancestrais de Jesus, o Cristo, David participa da vida daquele que também seria marcado. As marcas de Jesus, não só as da sua morte, sobretudo as marcas da sua vida, fazem das pessoas com marcas de dores, novas pessoas com novas vidas Nele.

A páscoa do Cristo da Vida, pão de todos e vinho novo da alegria.

paoevinhoNesta semana, todo o mundo cristão comemorará a morte do Cristo. Alguns encenarão o martírio, a dor, o sacrifício sangrento de um homem que foi muito mais que um simples modelo de satisfação para aplacar a ira de um deus violento e cruel.

Nas igrejas, os musicais terão como ponto central, a dor, o escárnio, o sofrimento como um todo e, sobretudo, a morte, sinalizada com um som quase gemido de “está consumado”. Nesse momento, o personagem exaurido por tanto sofrer, dobrará sua cabeça para o lado, derrotado pelo pai que sequer teve coragem de olhar para ele, abandonando-o na cruz.

Nas ruas, as procissões, levarão imagens de rostos tristes, como que ainda levando toda a culpa, dita comprada pelo sacrifício do Cristo.

Já na antiga aliança, Iahweh indagava e afirmava: Que me importam os vossos inúmeros sacrifícios? Para que me trazeis tantos holocaustos? Eis que estou farto de sacrifícios queimados de carneiros e da gordura de novilhos cevados. Ora, não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos, cordeiros e bodes! Isaiais 1:11

De fato, a morte e ressurreição de Jesus são pontos importantes para a vida do cristianismo. Entretanto, há muito mais que isso a ser aprendido com o Cristo. Procure uma instituição cristã que faça, nesta semana, algum tipo de referência à Vida do Cristo, como ele ensinou, como ele curou, como ele libertou os cativos, como ele restaurou os que estavam socialmente marginalizado, como ele alimentou os famintos, mas não procure por muito tempo, pois com certeza, esta semana não é a semana de se comemorar ou rememorar a vida, mas de celebrar a morte sangrenta de alguém que, ao olharmos para o panorama das comemorações cristãs, parece que saiu da manjedoura direto para os açoites, lanças, vinagre e cruz.

É importante destacar que, não foi a fé que fez do sacrifício do filho um espetáculo de sangue e dor, para um pai que, terrivelmente magoado com os pecados da humanidade exige-lhe todo esse martírio. A fé vê a morte e o sangue como componentes da revelação. A religião transformou a morte e o sangue como espetáculo emocionalista, suficiente, não para salvar, mas para impor um peso de culpa no ser humano, a ponto dele se sentir compelido a aceitar o Cristo, já que ele sofreu tanto pela humanidade.

O mesmo cristão que professa que o Homem é o que de melhor existe na criação, é capaz de se dobrar a um principio religioso que indica a humanidade como fraca, tendo que se humilhar diante dessa divindade cruel, que lhe exigirá a vida, e que, não aceitará a sua própria vida como sacrifício, colocando o Cristo para morrer no lugar do Homem. Aceitar esse jogo religioso, é rebaixar o cristo à categoria de um animal, que sem vontade, sem sentimentos, sem culpa, parte para a morte somente para satisfazer a ira do deus sanguinolento.

Nesta semana, ninguém falará do pão e do peixe, que alimentou a multidão, prenuncio do pão da vida, que alimentando o faminto, cessa-lhe a fome de vida.

Ninguém tocará no milagre da água que se torna em vinho. Vinho novo, que não nasceu da parreira, mas que brotou do único que pode dar alegrias maiores que o vinho terreno.

Ninguém lembrará também, do posicionamento do Cristo, diante da multidão acusadora e hipócrita, que alvoroçada pretendia ou apedrejar a adúltera, ou condenar Jesus em um erro. Ninguém lembrará que o Cristo não disse: Espere até que eu morra, daí eu não te condenarei e te direi para ir e não pecar mais. De fato, a vida do Cristo, e não a sua morte fez muito mais por aquela mulher.

Finalmente, nesta semana, ninguém se lembrará de que o Cristo que morreu na cruz é o mesmo que ensinou a alimentar o faminto, dar água ao sedento, hospedar o estrangeiro, vestir o que estava nu, visitar o doente, ver o que está na prisão.

Falta-nos lembrar do Cristo, pão repartido por todos, feito de todos ainda em vida, vindo e não somente morrendo, para que todos tenham vida e a tenham em abundância.

Lembremos, pois, nesta páscoa, não somente do Cristo que sofre e que morre, mas também do Cristo que vive e que é vida repartida para todos os que precisam de vida.