Eu sou brasileiro,
com muito orgulho,
com muito amor.
Sou do tipo de brasileiro que gosta de futebol, que torceu na última copa igual a todo torcedor, que chorou a perda de tantas outras.
Nas oitavas eu fiz uma aposta de que o Brasil não passaria pela Colômbia e isso me custou palavrões no meu chat, mensagens no meu celular com outros palavrões, ameaças, numa prova de que há ainda muito brasileiro que não tem como cobrar nada dos tais políticos corruptos, pois se tornaram tão sujos quanto eles.
Eu poderia simplesmente ter excluído e bloqueado das minhas listas, mas se fizesse assim, estaria privando essas pessoas de se expressarem, afinal, liberdade de expressão é uma característica do nosso país.
Não tenho nada contra o Neymar, nem tenho como ter. Não o conheço, não sei nada de futebol, mas me causou repulsa milhares de brasileiros chorando e mostrando toda indignação contra a atitude do colombiano. Indignação esta mostrada em desejos de que sua pequena filha fosse estuprada e até morta.
Os mesmos que postaram o famoso #somostodosmacacos, mas se comportaram não como macacos, mas como humanos de uma ética com qualidade muito duvidosa.
Não vi a mesma indignação com os mortos naquele viaduto de Minas, nem com todos os outros mortos cuja culpa é do poder público.
Eu sou brasileiro,
com muito orgulho,
com muito amor.
Eu torci pelo Brasil o tempo todo.
Torci pelo Brasil que paga seis meses de impostos, para não ter quase nada em troca.
Torci pelo Brasil que estuda, se gradua, faz uma pós, passa no concurso para professor e quando faz greve, um direito seu, é chamado de preguiçoso pelos governantes.
Torci pelo Brasil que paga a vida inteira por uma aposentadoria que não lhe garantirá nem os remédios de sua velhice e é chamado de vagabundos por um de seus presidentes, que teve seu salário pago por esses mesmos a quem ele chamou de vagabundos.
Eu sou brasileiro,
com muito orgulho,
com muito amor.
Torci pelo Brasil que acreditou que os políticos levariam águas de grandes rios para suas lavouras, mas que só viram o dinheiro público indo por água abaixo, e eles, os lavradores, continuaram na seca.
Torci pelo Brasil que tem direito a segurança e morre na mão de bandidos e mocinhos.
Torci pelo Brasil que tem direito a saúde, mas morre nas mãos dos médicos, ou quando de suas ausências e faltas de plantão, registradas como presenças.
Torci pelo Brasil que tem que pagar um monte de contas com um salário mínimo e ainda fica feliz por morar no Brasil.
Eu sou brasileiro,
com muito orgulho,
com muito amor.
Torci pelo Brasil que pega o trem da SuperVia-RJ lotado, sem segurança, sem ar condicionado, que sai dos trilhos e como resposta tem o sorriso cínico de um diretor politiqueiro.
Eu torci e continuarei torcendo por esses “Brasis” do qual eu também faço parte.
Mas uma coisa é certa. Eu não torci pela seleção brasileira, pois se você olhar para tudo que está escrito, verá que essa não é nem de longe a realidade de nenhum desses brasileiros.
Eu sou brasileiro,
com muito orgulho,
com muito amor.
Agora só nos resta, sair do circo e comer o pão que nós mesmos, os brasileiros, produzimos.
#forçabrasil
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