O evangelho de Mateus, no seu capítulo cinco, tem vários blocos de ensinamentos. O que se vê ali é importante para a vida como um todo. No relacionamento com Deus e com o próximo. O texto me dá a impressão de que está ensinando como viver na terra e morar no céu.
É bom deixar claro que esta divisão por blocos, não segue nenhuma argumentação técnica de exegese. É o que sinto. Só isso.
Primeiro bloco do discurso:
Enquanto muitos pregam o caminho para os céus a partir de uma teologia demoníaca chamada de teologia da prosperidade, Jesus inicia seu discurso dizendo dos pobres de espírito é o reino dos céus. Pode haver pobre de espírito rico? De fato, pode. Não oriundo desses arremedos de teologia que existem por ai. O reino desses é da terra, nunca do céu.
Os que choram, serão consolados. Por vezes é difícil compreender isso. Queremos ser consolados, amparados, mas não queremos as dores do pranto.
Enquanto muitos guerreiam por posses, por ter no lugar de ser, Jesus ensina que para herdar a terra é preciso ser manso.
A justiça, tão deixada de lado nos nossos dias, fazendo com que pessoas sejam injustiçadas, no reino dos céus será farta e abundante.
A misericórdia, que é a qualidade de quem tem um coração compassivo, será o resultado certo de quem agiu com misericórdia.
Os que tem o coração desapegado das sujidades deste mundo, verão a Deus com seus próprios olhos.
Os que promovem a paz, os que são perseguidos, injuriados, caluniados receberão a recompensa de um galardão no céu.
Segundo bloco do discurso:
Enquanto muitos interpretam mal o termo mundo, se isolando e se introvertendo, Jesus ensina o contrário. O sal faz diferença. Não é mesmice. Dá sabor além de proteger do processo de deterioração. O Papel da igreja não é ficar como que pacotes de sal na dispensa. Sendo assim não serve pra nada. Ocupa espaço, mas não modifica vidas. Só serve para ser jogado fora. Igreja é vida, é sabor, é diferença, é Sal da terra.
A luz identifica. Esclarece. Clarifica. É certo que o papel dos seguidores de Cristo é iluminar. Devemos ser iluminados para iluminar. Escondidos somos só luz parca, difusa, confusa, sem saber nem o que somos nem para que somos. Entretanto, nós como luz, não brilhamos para nossa própria glória. Nosso brilho, sendo reflexo de Deus, ilumina o mundo, mas a glória nunca será nossa, sempre será de Deus. Sem Ele não há luz. Sem ele não podemos ser luz.
Terceiro bloco do discurso:
Ele cumpriu a Lei, mas foi capaz de colocar o ser humano em lugar de destaque. A lei é boa, mas sendo impotente para salvar, não se torna escolha primária de Jesus.
Ele cumpre a lei, mas cura no sábado e ensina que até o sábado tem o seu Senhor. Ele cumpre a lei, mas dignifica aquela que fora pega em flagrante adultério, quando permite que a lei seja cumprida com a vida e não com a morte. Se não há acusadores, não há razão para a morte da acusada. Somente sendo justo na lei, existe a possibilidade de se entrar no reino dos céus.
Quarto bloco do discurso:
Neste bloco, Jesus trata do relacionamento entre seres humanos. Evoca leis antigas e as reinterpreta. Não matar passa a ser algo além de tirar a vida. Mata-se com ofensas. Mata-se quando se oferta, tendo problemas não resolvidos na convivência com o próximo.
O adultério também é ampliado. Não se trata mais dos flagrantes, mas se trata do que se passa no coração. De fato, o coração é o lugar do tesouro. Se algo ruim acontece lá, mesmo que não aconteça na carne, já é grave. A solução é drástica. Arranca o que te faz pecar. Uma alegoria para explicar que se o desejo te faz pecar, faça um esforço sobre-humano para viver dignamente apesar dele ou sem ele. É melhor ser incompleto, sem o desejo, do que sendo completo viver a ausência de Deus.
Quinto bloco do discurso:
A palavra deve ser uma só. Não há porque jurar. Não há como garantir uma palavra por coisas pelas quais não temos o menor controle. A palavra deve ser uma somente. Sem dúvida, sem meio termo. O sim, sim. O não, não. Basta isso.
Sexto bloco do discurso:
Não se deve dar o troco. Não se deve cobrar o dente que se perdeu por outro que se perdeu. Uma perda não faz de outra perda uma dor menor. É preciso praticar a longanimidade.
Amar o próximo e odiar o inimigo não é padrão de quem busca o reino dos céus. Amar a quem se ama é lugar-comum a todos. Que vantagem há nisso. Para ser cidadão do reino, é preciso mais que isso. O pai entrega o sol sobre justos e injustos. Ele ama sem fazer escolha entre um e outro. Filhos de Deus herdam características do Pai. Ama além do amigo. Ama até o inimigo. Agindo assim, e somente assim é possível ser chamado de filho de Deus.
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