O filho que parte, rindo pra não chorar, precisando se encontrar.

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E disse: Um certo homem tinha dois filhos; E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. Evangelho de Lucas 15: 11-13

O filho mais novo já não suportava a vida que vivia. Para ele a monotonia, o cotidiano já não lhe trazia mais prazer. Precisava de mais, de muito mais do que experimentava em casa. Os risos que surgiam de sua boca, não eram risos de alegria. Ele ria sim, mas ria para não chorar a vida que vivia.

Ele sonhava com o dia em que podia estar livre, sem se preocupar com a hora. Queria ver a noite passar e chegar na alvorada para ver o sol nascer. Não queria regras. Queria viver sua vida.

No seu coração, achava que poderia conhecer outros rios. Os rios da casa do seu velho pai, já não lhe produziam encanto e a monotonia das mesmas águas que anos a fio correram no mesmo leito já não fazia seus olhos brilhar.

Nem mesmo o canto dos pássaros, que em revoada cruzavam os céus de sua casa, lhe dava motivos para continuar ali.

Ele precisava andar, sair por ai e procurar motivos para um riso que não fosse rir pra não chorar.

Ele chama o pai, companheiro dos anos de vida que viveu na sua casa, e exige sua parte da herança. O pai, talvez tenha sentido no peito o desejo de partir da vida, para não ter que ver o filho partindo da casa onde ele era tão amado.

O pai sem entender o pedido do filho, demonstra que preferia que ele não fosse, e que permanecesse sob seus cuidados, na sua casa.

O filho olha para o pai e com o coração certo de que não quer mais ficar, canta os motivos da sua saída:

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar

O pai de tanto amar, mesmo sabendo que a escolha não era a mais acertada, rasga o coração e abre mão da parte que o filho exigia. Dá a herança solicitada e sente que talvez em outro tempo a esperança ressurja e traga o filho amado de volta a casa.

O pai que fica desolado, não esquece aquele filho tão desnaturado e tão amado. Fica a beira da estrada todos os dias, na esperança de que ele um dia volte.

Por vezes partimos assim, rindo para não chorar, querendo encontrar o que se perdeu em nós mesmos. Seja como for a ida, ou como for o retorno, o pai estará sempre na estrada a nos esperar.

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