Dentre tantas coisas interessantes ouvidas no debate “Matriz Pentecostal Brasileira”, eu destaco a questão da escatologia presente no discurso teológico Pentecostal.
Mesmo sendo de tradição Batista, convivi a vida toda com o meio pentecostal, tendo em vista que uma das pessoas mais importantes na minha formação, minha avó materna, não era dada a nenhum tipo de discriminação denominacional.
Fiquei recordando que acompanhei durante toda a minha vida, afirmações escatológicas do tipo: “isso está acontecendo porque está chegando o fim do mundo”.
Eis uma pequena lista dos “fim do mundo” pelos quais passei. Amigos Kardecistas, eu não morri em nenhum desses “fim do mundo”, logo, eu sou o eu nascido, vivido e vivendo, caminhando para o meu próprio fim do mundo.
Não pretendo seguir uma ordem cronológica dos fatos, até porque, seria exigir demais da minha memória e também não sou historiador.
1. Ainda na infância, uma mulher subiu ao púlpito e no meio da sua fala, virou-se para o pastor e disse “Pastor, você tem que parar de falar e ouvir mais as suas ovelhas, pois elas conhecem a voz do pastor, mas VOCÊ não conhece a voz delas”. Logo ouvi “isso é o fim do mundo” Agora não sei o que era mais pesado, se a fala toda, ou se era o fato da irmã ter chamado o pastor de VOCÊ.
2. Ainda na infância, eu fazia parte de uma associação de de adolescentes que tinha campeonatos entre igrejas locais. Naquele tempo, o futebol era coisa do capeta, e a bola, o ovo do diabo. Era tido como “o fim do mundo” crente jogador de futebol.
3. O comunismo e o socialismo que começara a ser difundido pelo mundo como uma alternativa ao que existia, passou facilmente a ser visto como religião do demo. Tanto que alguns setores da sociedade brasileira, inclusive alguns setores da igreja, tinha na ditadura militar uma salvação para a pregação do evangelho, pois afastaria de vez a ameaça vermelha, poupando nossas criancinhas de serem comidas pelos comunas.
4. Na esteira da guerra contra os vermelhos, um conceito, “explicitado” em um livro, também demonstrou o fim do mundo. Trata-se do livro “Israel, Gogue e o Anticristo”. Sim, eu li. Não recomendo. Muita gente vegetou após ler esse livro (eu não) e se desinteressou por uma vida planejada para alguns anos a frente, por achar que a descrição do fim do mundo estava ali.
5. A guerra dos seis dias, em Israel, quando esse pequeno país lutou contra umas oito nações árabes, destruindo todo o poder aéreo deles antes que fosse possível decolar, também foi um prenuncio do fim do mundo. Os “intérpretes” das profecias de plantão, já trataram de proferir “quando se falar em paz e segurança, repentinamente virá o fim.” Creio que não seja preciso dizer de que fim se falava.
6. Para os Estadunidenses, (e para todo o mundo) depois de ter vencido a segunda grande guerra, bater em retirada na guerra do Vietnam, um pequeno pais, dividido em dois, foi tal como Israel perder de Aí, depois de vencer Jericó, isso com certeza foi o fim do mundo.
7. Ainda lá pelos lados Estadunidenses, ver mísseis chegar em Cuba, foi outro fim do mundo. Pode-se aliar a isto toda problemática da guerra fria. Dizia-se à época que ao apertar de um botão, o mundo acabaria. Eu diria que o mundo começou a acabar quando entendemos de forma errada a ordem de dominar a terra.
8. A guerra Irã-Iraque foi outro prenuncio do fim do mundo. Lembro-me do meu querido pai com olhar fixo no noticiário, vendo mísseis saindo de lançadores de mísseis brasileiros vendidos ao Iraque. Ele quase balbuciava para dizer que isso (brasileiros vendendo arma para Iraquianos) era o fim do mundo. Ainda bem que o meu pai não viu os PTralhas financiando portos alheios enquanto o brasileiro morre nos hospitais além de roubar o dinheiro público. Isso seria outro fim do mundo pra ele.
9. Ainda naqueles lados, a invasão do pequeno Kwait pelo Iraque de Sadam Hussein, que batia no peito dizendo que enfrentaria os aliados naquilo que chamava de “a mãe de todas as batalhas”, lida pelos interpretes proféticos como Armagedom, mais um fim do mundo.
10. Dando um salto na história, um pregador pentecostal bem carismático à época batendo pesado na teologia da libertação, dizendo que estava previsto que nos últimos dias os homens se voltariam para as riquezas desprezando as verdades de Deus. Anos mais tarde, o mesmo pregador, o de MALACHEIA, já acha o fim do mundo o crente não dar oferta.
11. O fim do mundo atual está nas mãos dos homoafetivos que estão se casando. Eles são a bola da vez da escatologia.
Eu sei que devo ter omitido vários outros “fim do mundo”, mas fico pensando, se acontecer, (e eu percebo isso, não de forma científica, e sem fazer juízo de valores, que vai acontecer); do pregador-que-troca-a-pregação-a-medida-que-o-bolso-enche, aceitar o casamento dos gays, o que será preciso que o mundo faça para que um novo fim do mundo se estabeleça?
Fico com medo do que estar por vir.
Vou parar por aqui, pois se eu não for agora para o mercado com a minha amada Lya Brites, será o fim do mundo para mim.
Comentários