Sobre uma conversa com Deus e a irmã.

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Aos dezessete anos, em meio a uma grande dor pela perda da minha avó materna, em meio aos túmulos do cemitério onde ela seria sepultada, fui nvadido por uma preocupação que evoluiu para o que considero ser um chamado vocacional.

Ali, diante de tantos que já haviam partido, comecei a me questionar sobre o que eu poderia fazer pelas pessoas enquanto elas estivessem vivas.

Os anos foram se passando, o chamado e a percepção de que havia muito a se fazer continuaram me incomodando.
Por vota dos vinte e dois anos, estava estudando em um curso básico de Teologia, pensando que ao fim dele, estaria pronto para cumprir o chamado.

Por pura imaturidade, interrompi o curso para voltar somente seis anos mais tarde.

Terminado esse curso, acreditei estar pronto para cumprir o chamado.
Voltei a estudar Teologia, agora numa instituição de Terceiro Grau, e me apaixonei pela instituição, crendo que agora sim, eu estava no caminho certo para cumprir o chamado.

Dois anos e meio depois, amando estudar, mas frustrado com a instituição, abandonei os estudos.

Depois de uma pausa de longos anos, retornei em outra instituição, pensando que dessa vez eu estava no caminho certo. Ledo engano.

Passaram-se mais alguns anos, e eu encontrei na parceria Stbdc Seminário Batista/Unigranrio o lugar que atendia as minhas expectativas.

Durante quatro anos aprendi muito, sob a orientação de excelentes pastores e professores. Sobretudo aprendi a ser menos eu e ser mais do Reino de Deus.

Na última quinta feira, passei por uma experiência muito interessante.
Entrei em uma livraria, procurando por livros que ajudariam na minha formação Teológica. Ao me dirigir ao caixa, uma irmã da igreja católica, abre um largo sorriso, estende a mão para mim e segue-se o diálogo:

– A sua bênção padre.
– Deus te abençoe irmã, mas eu não sou padre.
– Mas está estudando para ser.

Um pouco constrangido, pois essa era a segunda vez que isso me ocorria, eu continuei:

– De fato, sou estudante de Teologia, mas ao terminar, não posso ser padre, pois sou protestante.

O que se seguiu após a minha frase, foi uma mistura de surpresa e temor. Ela continuou:

– É verdade, sendo protestante, você não pode ser padre, mas pode ser pastor, o que o qualifica a me abençoar da mesma forma.

Como o diálogo já havia saído do momento da surpresa, para se aprofundar um pouco mais, eu perguntei:

– A senhora fez confusão pelo fato de eu estar vestido todo de preto?
– De certo isso causa um impacto, mas sua presença reflete seu sacerdócio, não a sua roupa. Se você ainda não é sacerdote de fato, já o é por chamado e vocação.

Dei um sorriso sem graça. Não consegui falar mais nada. Na realidade, não precisava dizer nada.

Aos dezessete anos, eu pensaria “é isso mesmo, eu sou um vocacionado”

Aos vinte e dois anos eu pensaria: “já tenho bagagem suficiente para pastorear”

Aos trinta anos eu bateria no peito e diria: “eu sou um ungido do senhor”

Hoje, aos quarenta e sete anos, no reta final de mais um período estudando para me preparar, e cumprir minha vocação, o sentimento que me veio e que me invadiu a alma, foi o sentimento de Paulo quando declarou em um hino de adoração

Oh! Profundidade das riquezas
tanto da sabedoria,
como da ciência de Deus.
Quão insondáveis são os teus juízos
e quão inescrutáveis os seus caminhos!
Porque, quem conheceu a mente do senhor?
Ou quem foi seu conselheiro?
Ou quem lhe deu primeiro a Ele para que lhe fosse recompensado?
Porque Dele, e por Ele e para Ele são todas as coisas!
Glória pois a Ele, eternamente. Amém.

O diálogo que tive com aquela irmã, entendo como sendo uma conversa com Deus e a irmã.

Se antes me sentia frustrado por não ter concluído, agora sei porque teve que ser agora.

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