Uma igreja a beira do poço

13/02/2011 – Terceira Igreja Batista em Anchieta – Noite

Texto: João 4: 16-18

16. Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. 17. A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; 18. Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.

Introdução

Nunca se viu na história da igreja tanta aberração como temos visto agora. Hoje o nome evangélico se vulgarizou de tal forma que para algumas pessoas dizer que é evangélico soa tal como dizer que é católico. Pode-se dizer que existe hoje uma classe de evangélico a quem chamo de evangélico estatístico. Se alguém pergunta qual é a religião do individuo em um senso, ou em uma entrevista de emprego, ou em uma repartição pública, ou em qualquer outro lugar, ele não pensa duas vezes e diz: “sou evangélico”. É um evangélico nominal, mas não o é na sua pratica do evangelho e ser evangélico é efetivamente ter uma vida de prática dos conceitos do evangélico. Evangélicos desse tipo, estão a beira de um poço e provavelmente, quando ele menos esperar, cai nesse poço e corre risco de lá nunca mais sair, salvo se Deus estender sua mão de misericórdia.

Assim como a mulher samaritana a beira do poço apresentou sua história de multiplicidade de maridos, pois cinco maridos ela tivera e o que ela tinha no momento que encontrou Jesus não era dela, a igreja está à beira do poço, e presa a seis maridos que não são maridos verdadeiros.

Religiosidade

A religiosidade nos faz soberbos. Faz-nos pensar que somos o produto de nós mesmos e que somos auto-suficientes. O religioso é alguém que constrói sua idéia de Deus e dela não se separa, mesmo que seja para viver ao lado do verdadeiro Deus. O religioso se basta a si mesmo. Um religioso se contenta em ser somente ovelha e um pastor de religiosos, evidentemente, fica feliz em pastorear ovelhas e não pessoas. Há um número muito grande de pessoas contentes em vir a igreja, orar, ler a bíblia, cantar, seguir a liturgia do culto e depois irem para suas casas e dormirem tranqüilas com a sensação de dever cumprido. Para um religioso, alcançar o sagrado é alcançar a idéia de sagrado que ele mesmo formou pra si. Um exemplo clássico de religioso na bíblia é descrito em Mateus 19.16-22, onde o evangelista fala de um jovem rico, que guardava todos os mandamentos. Jesus então dizendo que só faltava uma coisa. Ele precisava deixar tudo e seguir a Jesus. Outro exemplo clássico de religiosidade é a mulher samaritana que declara “nossos pais adoravam neste monte…” Muitos têm servido a um deus de seus pais e não a um Deus pessoal. Meu relacionamento com Cristo não deve estar baseado nas tradições e nas práticas hereditárias que trazemos na nossa existência. Nosso relacionamento com Cristo deve estar baseado em vivencia diária, de comunhão e de entrega. Se eu perguntasse numa igreja, por qual motivo eles fecham os olhos e baixam suas cabeças na oração, provavelmente muitos diriam que foi assim que aprenderam. A religiosidade nos priva de, deixando tudo pra trás, seguirmos as pisadas do mestre. Os lugares que o mestre anda, não são lugares onde os religiosos andam e se quisermos segui-lo, não podemos ser religiosos. A religiosidade é um dos maridos falsos da igreja.

Tradicionalismo

O tradicionalismo talvez seja o irmão mais achegado da religiosidade. É possível que boa parte dos tradicionalistas sejam religiosos em suas essências. E quando eu digo tradicionalista é uma tentativa de diferenciá-los dos tradicionais. O tradicionalista não aceita mudanças. Está sempre preocupado em manter o padrão herdado de seus pais, avós, bisavós, etc. A frase preferida do tradicionalista é “sempre fizemos desta forma”. Seguimos a tradição por que não mudar é mais cômodo do que mudar. É mais cômodo levar uma vida do mesmo jeito, na nossa zona de conforto. Nas nossas igrejas, muitos não aceitaram ainda o HCC porque o hinário da sua salvação era o Cantor Cristão. Muitos se incomodam porque numa ordem de culto não se começa com uma oração, como se Deus para agir no meio da igreja precisasse seguir uma ordem de culto. Deus não age na igreja porque ela segue uma ordem de culto, mas age quando a igreja segue a ordem de Deus. Certa vez, um cristão evangelizando Gandhi, o pacifista indiano, ouviu dele a seguinte frase: “no seu Cristo eu creio, mas eu não consigo acreditar no seu cristianismo”. O tradicionalista consegue enxergar que a salvação está na igreja, quando na realidade a salvação está em Cristo Jesus.

Negação do Real

“Eu não aceito essa doença”. “Eu não aceito essa circunstância na minha vida.” Esse tipo de frase tem sido base de uma falsa teologia que tem encontrado lugar em muitas igrejas, sobretudo as neopentecostais, mas com alguma guarida em igrejas históricas. Algumas canções e algumas pregações ensinam isso, chocando-se frontalmente com o ensino de Jesus sobre as circunstancias: “no mundo tereis aflições, mas tende bom animo, eu venci o mundo”. Parece-me que alguns querem viver a vida como se fossem super-homens, isentos de quaisquer problemas, como se a conversão fosse um processo de embalagem a vácuo, onde não pudesse existir contaminação. Esquecem-se estes da poderosa declaração do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 4:16,17 “Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia.Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória;” Paulo na sua carta aos Romanos nos ensina que devemos nos gloriar não somente na esperança de vermos a glória de deus, mas devemos nos gloriar na tribulação, que produz a perseverança, que produz a experiência, que produz a esperança e esta não desaponta.

Determinação

Determinação é falsa teologia que ensina que podemos determinar a Deus, tudo aquilo que queremos que aconteça conosco. “Determine a sua benção” é normalmente a frase mais usada. Parece-me que esta forma de pensar vai totalmente de encontro ao que Jesus disse em Mateus 9.58 “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. Não seria este o caso de, sendo verdade a teologia da determinação de Jesus determinar e ensinar a determina casas grandes e mansões tanto para ele quanto para seus discípulos? O erro mais absurdo desta falsa teologia é fazer de Deus o seu mero escravo, quando na realidade ele é Senhor. Todas as determinações dos que adotam esse pensamento espúrio são relacionadas com coisas a ter ou a se conseguir. Ninguém há que tendo esse tipo de comportamento nas igrejas determine “quero ser mais humilde”, ou “quero ser mais honesto” ou quero ter mais intimidade com Deus”.Todas as determinações são fundamentadas em pensamentos egoístas que satisfaçam o próprio ser. Pregadores dessa teologia, manipulam textos bíblicos para justificarem seus pensamentos e muitos sequer dão o trabalho de manipular. Lêem um texto qualquer e falam o que vier a mente.

Confissão positiva

A confissão positiva é a cópia evangélica de um movimento chamado de movimento do pensamento positivo. Como cópia de um pensamento humanista já devia ser o suficiente para não fazer parte de nossas igrejas. A confissão positiva alega que não podemos pedir a Deu para cumprir a sua vontade. A Expressão “seja feita a sua vontade” é, segundo os positivistas, uma demonstração de fraqueza na fé. Devemos confessar positivamente que algo vai acontecer e acontecerá. Em última análise, a minha vontade e não a vontade de Deus é que faz a diferença. Eles distorcem trechos da palavra de Deus para dar base às suas bobagens teológicas, como por exemplo, dizer que Deus teve fé ao dizer “haja luz”, afirmando eles que precisamos ter a fé de Deus e não a fé em Deus. Outro texto muito usado é o texto de é o que conta a história da mulher que tinha um fluxo continuo de sangue. Os positivistas alegam que a mulher ao dizer “se somente eu tocar, ficarei curada” usou de uma confissão positiva, mas se analisarmos bem o texto que se encontra nos três evangelhos sinóticos, vamos perceber que Jesus diz que fora a fé daquela mulher que a salvou. A confissão positiva aniquila a soberania de Deus e enaltece o homem. A confissão positiva valoriza mais a palavra falada do que a própria palavra de Deus. A confissão positiva reduz a um simplismo barato a verdadeira mensagem da cruz, que é de negação de si mesmo, de renuncia, arrependimento.

Prosperidade

Em 2006 o IBGE fez uma pesquisa e chegou à conclusão de que os evangélicos brasileiros são os que mais contribuem com suas igrejas e que ainda que contribuam, continuam cada vez mais pobres. Bastava isso para que eu terminasse meu sermão e desse como totalmente equivocada a teologia da prosperidade. “Se você quer colher, tem que semear” é a frase preferida dos teólogos da prosperidade. Acontece que muitos semeiam e não colhem nada. Nesse caso essas pessoas são tidas como pessoas que não tiveram fé. Não conheço um representante da teologia da prosperidade que ensine que se queremos colher frutos de arrependimentos, temos que semear arrependimento. Tudo gira em torno do dinheiro e nada mais. A teologia da prosperidade valoriza o ter e não o ser. Nós fomos chamados para ser e não para ter “ser-me-eis testemunhas…” foram as palavras de Jesus. A teologia da prosperidade é idólatra e materialista, pois coloca os bens acima de tudo que Deus pode ser para o ser humano. “Aquele que tem é abençoado, o que não tem, deve estar em pecado” é outra máxima desta teologia fraudulenta. Há nas livrarias evangélicas uma série de livros que sustentam essa teologia e o melhor lugar para eles seriam as casas de artigos religiosos e em alguns casos, a lojas que vende material para cultos afro-brasileiros. Autores como T. L. Osborn, Oral Roberts, Morris Cerullo, Benny Hinn e tantos outros brasileiros que me abstenho de citar nomes por motivos éticos. Uma das melhores definições bíblicas para prosperidade é a que encontramos no salmo de número 1. Isaías no seu capitulo 53.10 afirma que o bom prazer do Senhor prosperará após ele, o Senhor ter sido moído, enfermo e feito expiação pelos pecados.

Finalizando

Tal como aquela mulher a beira do poço que tinha seis maridos que não eram verdadeiros, a igreja moderna está a beira do poço, casada com pelo menos esses seis conceitos que não são verdadeiros. O que Jesus, o verdadeiro esposo espera é que a igreja reconheça-o como o único e viva sob os seus conceitos.

Como bom esposo, ele não espera que a igreja seja religiosa, mas espera que a igreja o tenha como única religião.

Ele deseja que saiamos do nosso tradicionalismo e vivamos uma vida de liberdade com ele.

Jesus espera que aceitemos a realidade das nossas vidas, seja essa realidade boa ou ruim, sabendo que sejam quais forem as circunstancias, ele estará conosco.

O mestre sabe que a nossa vontade, por melhor que pareça ser não é a vontade dele que sempre será melhor.

Jesus espera que a única confissão que saia de nossas bocas é que ele é Rei dos reis e Senhor dos Senhores

E por último, Ele quer que saibamos que seremos prósperos, não a medida da nossa conta bancária, mas a medida da nossa intimidade com ele. Seremos prósperos na medida em que, quando não tivermos nem o que falar, Ele de tão intimo e amoroso para conosco entenderá e nos dará tudo que o que nós precisarmos para viver bem com ele.

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