A canção do Cristo: amanhã vai ser outro dia

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“E logo, aproximando-se de Jesus, disse: Eu te saúdo, Rabi; e beijou-o. Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? Então, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam. E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha.” Mateus 26:49-51

Os tempos naqueles dias, naquele país, eram tempos de repressão. Os ditadores, que estavam no poder, negavam ao povo a liberdade de ser e de viver. Com altos impostos cobrados, impediam o povo de viver até mesmo a sua religião de forma plena. Tudo era cobrado, se não em dinheiro, com dores, com lágrimas, com torturas, com morte.

Nesse ambiente de repressão, alguns ousaram falar em liberdade, em um reino diferente. Um deles chegou a dizer que o reino dele não era desse mundo. Uma fala assim, tão ousada, não passaria sem ser percebido pelo regime ditatorial que se instaurara naquele pequeno grande país.

Eram momentos em que até confiar naqueles que estavam próximos exigia certo cuidado. Alguns se deixavam vender pelo som das moedas que “tilintavam” do outro lado.

Foi de repente que tudo aconteceu. A força repressora chegou, com suas armas de guerra, contra um grupo que só queria a paz. Ignorando a desproporção entre os dois grupos, partiram para cima do grupo da paz, querendo saber onde estava o líder deles.

A cena que se deu foi tensa. Um deles, do grupo da paz, chegou junto com os da repressão. Não podemos julgar os motivos pelos quais ele agia dessa forma. Em tempos de ditadura, sabia-se que a tortura era um dos instrumentos utilizados para se conseguir alcançar os revoltosos. Tortura física e psicológica. Não há como saber se não era este o caso.

Esse desgarrado do grupo da paz aproximou-se do líder, fez uma saudação comum ao seu grupo e o beijou. A força repressora entendeu o gesto como sendo o de uma delação e prenderam o líder pacifista.

Um dos que estavam com o líder, aborrecido, sacou de sua arma e feriu o servo do religioso na orelha. O líder lhe ensina, então, de que aquela não era a melhor atitude para quem estava lutando pela paz. Ele se deixa prender, depois de dizer que poderia contar com um exército muito maior que aquele grupinho que o viera prender.

Diante de seus opositores e repressores ele foi instado a falar algo que o denunciasse ou que o fizesse passível de punição. Ele se mantém calado. O Religioso vocifera com ele, fazendo conjurações, exigindo-lhe que confesse sobre o que todos estavam falando. Calmamente ele diz “você acabou de dizer isso”

Ele sabia que assentir com o que fora dito, “você é filho de Deus”, representava a sua própria morte. Mas sabia também, que apesar da fúria daqueles opositores, e da sua morte certa, amanhã seria outro dia. Ele conclui seu pensamento e canta profeticamente a seus opositores:

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu

Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro

Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Lá lá lá lá laiá

Os opressores e religiosos, ignoram a canção do Cristo e toda verdade contida nela. Ele é entregue ao sofrimento, à tortura, a morte. Todavia, como ele mesmo havia falado, o amanhã surgiu como um novo dia

“(…)o anjo(…)disse às mulheres: Não tenhais medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia.” Mateus 28:5-6

Daqueles tempos, até o dia de hoje, a mensagem daquele homem e seu grupo, chegou a lugares inimagináveis. Sua mensagem de não se render ao desejo de fazer a justiça pela espada, continua viva, assim como a certeza de que, seja qual for a opressão, amanhã vai ser outro dia.

Você pode ouvir a música aqui.

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