Às vezes eu penso. As vezes penso demais. As vezes penso que pensar exige certo esforço que por vezes me fazem cansar de pensar. Mas sigo pensando.
Estou pensando sobre uma pasteurização da fé, uma certa sacralidade sacal que nem mesmo o Cristo se preocupou de ter. Podendo ser exaltado por seus feitos, ora ele diz “não conte para ninguém”, ora ele diz “paga ao sacerdote o que diz a lei para pagar”.
Eu penso, sem o compromisso de estar certo, de deter a verdade, pois sei que Ele é a Verdade. Sobretudo Ele é a verdade misericordiosa e se no meu pensamento eu falhar,
Ele me dará oportunidade de refazer o percurso.
Estou pensando sobre marcas que a vida nos deixa. Por vezes são doloridas. Cicatrizes que insistem em purgar feridas que já deviam ter secado. Feridas que doem.
E para quem eu olho quando penso nessas marcas? Para o homem de quem se disse em profecia ser “o homem experimentado em dores”. Minha dor, mesmo sendo lancinante não é dor que passe despercebida a quem sabe o que é dor.
Me peguei pesando sobre a genealogia de Jesus, essas coisas da narrativa bíblica que deixamos de lado.
Há muito dado histórico e geográfico, que talvez nem seja possível comprovar, mas há algo que me chama a atenção: “Jessé gerou o rei Davi, e o rei Davi gerou a Salomão, daquela que foi mulher de Urias;”
Por que, depois de tanto tempo, o escritor do evangelho registra um fato que foi tão complexo na vida do grande rei David?
Um historiador diria que é só um registro de que o escritor de Mateus está apontando para uma ramificação da árvore genealógica que não é o tronco principal. Mas não quero pensar como historiador.
Penso que o texto está descrito assim com um propósito. E que me perdoem os exegetas, não estou fazendo exegese do texto, só estou pensando. Pensando que Jesus não é um Deus sacralizado, inatingível, que está separado das humanidades dos homens.
Penso que o escritor descreve marcas da vida. É como se ele quisesse dizer para quem lesse a história do cristo: “Esse Cristo, é aquele que vem de uma raiz de adultério misturado com assassinato premeditado. ”
E sabe em que essa marca na genealogia de Jesus o diminui, o desqualifica?
A resposta é tão simples, mesmo que haja uma horda de cristãos que vejam de outra forma.
As marcas na ancestralidade de Jesus só mostram o que ele é: Filho do homem, homem experimentado em dores, cabra marcado para morrer.
Penso que quando fazemos um esforço inútil de sacralizar, por nossas medidas, aquele que não é possível mensurar, o que de fato queremos é que Ele não enxergue nossas marcas.
Penso que de fato são nossas marcas, tortuosas marcas, feridas doloridas, com secreções da vivência, que nos aproximam do Mestre, do Médico dos médicos, do único homem que pode tocar nossas marcas, nossas feridas e nos curar por inteiro.
Os saudáveis, sem dores, sem marcas, continuarão distantes desse Deus chamado Jesus, pois ele é aquele que tomou sobre ele nossas enfermidades e quem não as tem, dele não precisa.
Isaías 53:3-5
Mateus 1:6
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