Convivemos todos os dias com eles e não nos damos conta da sua importância.
A vida mecanizada que vivemos produz isso em nós. Fazer tudo, com hora marcada, com tempo certo, com data especificada, com atitudes precificadas. De repente, algo chega à nossa existência com um poder doloroso de fazer pensar. Noticias, manchetes, chamadas em noticiários do horário nobre, comentários nas rádios, cheios de indignação pelo fato ocorrido.
São os diários de uma vida, sobrevivida, sobrevida de cidades grandes, frias, tão mecânicas quanto a atitude de quem fere, decepa, foge, se desfaz, como se fosse lixo, do braço que não abraçará jamais.
A dor do corte dói menos que a dor de não poder mais fazer algo tão simples: abraçar.
Pelas ruas da cidade, correm bêbados, loucos por velocidade, em seus carros, extensões de suas vaidades, ferindo, matando em vida, os que caminham, circulam em suas bikes, tentam sobreviver no dia a dia de uma guerra em que a parte mais rica sempre vence.
Alguém defenderá o agressor, dirá que ele é primário, boa pessoa, trabalhador, de endereço certo, que paga impostos, mas que em um momento de deslize, tirou a oportunidade do abraço. E completará pedindo que ele seja solto, já que a pessoa não morreu, só perdeu um braço, só perdeu a oportunidade de abraçar.
Enquanto isso, alguns juristas, analisando a letra fria da lei afirmam que a obrigatoriedade do teste de alcoolemia (bafômetro) é inconstitucional, pois ninguém pode ser coagido a levantar provas contra si mesmo.
Dessa forma, outro braço, o da lei, encontra-se amputado, e permitindo que braços, pernas, vidas sejam amputadas sem que os culpados sequer sejam questionados quanto ao teor alcoólico de seus corpos e as irresponsabilidades de suas vidas.
A mim resta pensar que preciso abraçar mais a Lya Brites, a Helen Brites, o Michel Brites, amigos amados, irmãos, familiares, enquanto me for possível e até que a lei não ajude a acobertar os decepadores de vida.
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