Há na bíblia Hebraica, uma coletânea de poemas chamado de “Os Cânticos dos Cânticos de Salomão”. Esta coletânea é farta de declarações de amor e de desejo do amado pela sua amada e vice-versa.
Nesta coletânea podemos encontrar momentos em que a amada diz o que sente pelo amado, onde descreve que beijá-lo e sentir seu amor é melhor que a alegria do vinho. Ela anseia por estar em um lugar sozinho com o amado para celebrar esse grande amor.
Que me beije com beijos de sua boca!
Teus amores são melhores do que o vinho.
Arrasta-me contigo, corramos!
Leva-me, ó Rei, aos teus aposentos
e exultemos! Alegremo-nos em ti!
Mais que ao vinho, celebremos teus amores!
De um modo geral, o texto pode ser resumido na busca do amado pela amada e do desejo da amada por estar com o amado. Elogios são declarados de ambas as partes, emoldurando, dessa forma esse amor explicito.
Alguns comparam o amor do amado pela amada, como sendo o amor do Cristo por sua igreja. Embora, do meu ponto de vista, não seja a melhor chave de leitura, é no meio cristão, uma das mais aceitas.
Talvez, se o redator dos Cânticos dos Cânticos, vivesse sob a perspectiva da igreja atual, e redigisse seu texto a partir de uma comparação entre Amado/Cristo, Amada/Igreja, o texto fosse um pouco diferente.
A amada, com certeza ainda teria argumentos para dizer que não teria um amor igual ao do amado. O amor do amado é um tipo de amor que ela nunca havia visto igual e que nunca mais veria outro parecido.
Ela saberia que o amor do amado é imensurável. Saberia também que não é preciso pedir ao amado que a ame, pois ele não consegue ser “o amado” sem amá-la. Para o amor do amado, não se pode achar algo repetido.
Os versos do poema cantado pela amada para seu amado, seriam mais ou menos assim:
Amor igual ao seu
eu nunca mais terei.
Amor que eu nunca vi igual
e que eu nunca mais verei.
Amor que não se mede,
amor que não se pede,
não se repete.
O amado é cortês e educado, mas há uma diferença sutil na relação entre o amado e amada dos tempos modernos se comparado aos tempos do redator da coletânea.
Ele quer abrir a porta para a amada quando esta chegar em casa, mas ele não faz ideia de onde ela mora. A amada tem tudo para conhecer seu amado, pois o seu amor é o mesmo. Amor sem igual, que não se repete e não se pede. Entretanto, o amado já não conhece a amada. Por vezes ela se dissimula, se veste de roupas que já não a identificam. A amada, antes toda bela e sem defeito, com leite e mel sob a língua e perfume nas roupas, já não é a mesma amada.
Teus lábios são favo escorrendo, ó noiva minha,
tens leite e mel sob a língua,
e o perfume de tuas roupas
é como a fragrância do Líbano.
Corrompida pelas companhias, quem sabe de amigos, ou muito mais que isso, quem sabe de sacerdotes, ela já é tão diferente, que ao escolher onde morar, causa surpresa ao amado.
Ao perceber o local da morada de sua amada, local que não é físico, mas ideológico e conceitual, o amado, não pode dizer outra coisa. Está surpreso pela escolha do local onde sua amada foi morar. Ele não quer ficar de fora, mas teve que ir embora, mesmo querendo ficar. O cântico do amado segue dessa forma:
Você vai chegar em casa
eu quero abrir a porta
Aonde você mora
aonde você foi morar?
Aonde foi?
Não quero estar de fora
aonde está você?
Eu tive que ir embora
mesmo querendo ficar.
Agora eu sei!
A amada se cala, diante do cântico do amado. Ela não tem o que falar, diante da triste realidade de que o amado já não pode mais conviver com ela, deturpada, usurpada, corrompida. Mesmo querendo ficar ele teve que ir embora, mas continua amando-a incondicionalmente. O amado então continua sua declaração de amor:
Eu sei que eu fui embora
e agora eu quero você
de volta pra mim
O amado declara o seu amor incondicional, mesmo sabendo em que lugar vive a amada. Ela não pode fazer outra coisa se não repetir seu cântico.
Amor igual ao seu
eu nunca mais terei.
Amor que eu nunca vi igual
e que eu nunca mais verei.
Amor que não se mede,
amor que não se pede,
não se repete.
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