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A relação do sacerdócio religioso com a abordagem Humanista da Psicologia no Conceito de Carl Rogers.

A formação teológica, seja no âmbito de um centro universitário, onde não se confessa nenhum tipo de fé, ou em algum seminário confessional, é na maioria dos casos, o caminho utilizado por muitos que se sentem vocacionados ao sacerdócio religioso.

No que se refere ao instrumental teórico oferecido pelos cursos de Teologia, encontramos a Psicologia como uma disciplina fundamental para a formação futuro teólogo ou sacerdote religioso.

Dentre as abordagens descritas no material didático da disciplina de Psicologia Social, é possível destacar a abordagem Humanista da Psicologia.

Por discordar da ideia de que todo ser humano se desenvolve ancorado em um padrão predeterminado, imposto por uma herança biológica, tal como os animais, a teoria Humanista contribui grandemente para a formação Teológica.

O futuro sacerdote religioso, ao estudar a abordagem Humanista da Psicologia e perceber o ser humano e seu comportamento, não deve compreendê-lo a partir de uma percepção patológica.

Além disso, a abordagem Humanista se enquadra na formação do futuro sacerdote religioso, tendo em vista que não trata o ser humano a partir de abordagens metodológicas instrumentais, que visam verificar o comportamento, sem, contudo, atingir o ser humano naquilo que é mais claro: a sua humanidade.

O sacerdote religioso precisa compreender que os seres humanos têm reações diferentes dos animais. A experiência humana ajuda a construir o seu Self.

A abordagem do Carl Rogers é de extrema importância para o estudante de Teologia, tanto para aquele que almeja o sacerdócio religioso, quanto para aquele que busca somente a formação Teológica.

Nesta abordagem, o sacerdote religioso encontra argumentos que favorecem ao tratamento dos problemas daqueles que serão objetos do seu sacerdócio, a partir das orientações apontadas pelos membros de suas instituições religiosas e não a partir daquilo que ele, como sacerdote, pensa.

O sacerdote religioso deverá, em suas ações sacerdotais, compreender a formação do Self de cada pessoa a quem ele exercerá seu sacerdócio. Ao compreender que o autoconceito está em contínuo processo de formação, a partir das situações vivenciadas pelo ser, o futuro sacerdote religioso terá mecanismos para compreender o comportamento dos membros de sua comunidade de fé. Não deverá o pretendente ao sacerdócio religioso ter uma visão distorcida daqueles a quem ele vai exercer esse sacerdócio, tendo que compreender que cada ser tem uma percepção global de si mesmo, baseada nas suas experiências passadas, vivencias presentes e expectativas futuras. Tal percepção será de grande importância, a fim de não se criar uma generalização do ser humano, respeitando suas individualidades e sua humanidade.

Outro ponto importante a ser observado pelo sacerdote religioso é o que Rogers define como Self ideal. Os indivíduos a quem o sacerdote religioso dispensará seus cuidados, podem apresentar características que gostariam de ter e de dizer que possui e são suas, mesmo que esta não seja a realidade. Compreender essa realidade proporcionará ao sacerdote religioso uma percepção de que o individuo não é anormal por desejar características que não tem, todavia, ele terá que saber identificar quando o processo de se apoderar dessas características se torna algo patológico.

Com a teoria de Rogers de que o cliente é o melhor especialista de si mesmo, o sacerdote religioso deverá ouvir o membro de sua comunidade de fé, estabelecendo um relacionamento de compreensão e aceitação de forma positiva e incondicional.

O que é psicologia – Resumo do Livro

O QUE É PSICOLOGIA1

A abordagem da escritora inicia-se com uma série de questões relacionadas com o indivíduo e sua relação com o que o cerca, considerando essas questões muito mais antigas que a própria escrita. Acredito que a pergunta mais conflitante seja “Quem sou eu?” – Pag. 7, tendo em vista ser uma pergunta de difícil resposta considerando a pluralidade dos indivíduos que compõem uma sociedade e considerando que todo indivíduo é influenciado por esta sociedade em vários aspectos. Embora as respostas sejam diferentes em lugares e épocas, essa preocupação de relacionamento do homem com outro homem e lugar é sempre presente.

Se no passado estas questões surgiam o tempo todo, no mundo moderno elas se tornaram mais constantes e generalizadas, fazendo com que problemas existentes somente em determinados momentos da vida do indivíduo, se generalize por toda sua vida.

Essas inquietações, aliada ao fato de que nem sempre é possível externá-las, acaba por gerar distúrbios emocionais que acabam refletindo no organismo do individuo.

A Psicologia tentar solucionar estes distúrbios emocionais que geram sintomas no organismo do individuo, através da tentativa de compreender o homem como um todo e seu relacionamento com o outro.

A princípio, a partir de conceitos oriundos da Grécia antiga, a Psicologia era uma ciência que estudava a alma, e durante séculos foi assim que ela existiu. René Descartes rompe com esse conceito e teorizava que havia uma distinção entre corpo e mente. Para ele “a realidade consistia em duas áreas distintas: o domínio físico do material e o reino imaterial da mente”2.  Descartes acreditava também, que em alguns momentos as atividades humanas eram decorrentes da interação da mente e do físico. Entre essas atividades havia a sensação, a imaginação e o instinto.

Por volta do séc. XVII/XIX, duas formas de pensar foram estabelecidas: o Empirismo Inglês, que acreditava que todo o conhecimento se baseava nas sensações, e o Racionalismo Alemão, que acreditava que a mente teria o poder de gerar idéias, independentemente da estimulação sensorial. Todo o conhecimento se basearia desta forma, na razão, e a percepção seria um processo seletivo.

Com campo próprio de estudo, a Psicologia se preocupa com o Homem. Segundo Lauro de Oliveira Lima a Psicologia individual pode ser considerada como “Microssociologia”. Para ele, “não é possível observar o ser humano senão através de momentos nos quais se encontra em interação”. Nesse caso, os fenômenos psicológicos são sempre estruturais e estruturantes, pois uma relação humana, sendo circular, tende a criar uma estrutura. Desta forma a Psicologia invade as fronteiras da sociologia. Sendo o indivíduo um organismo em ação, o campo da Biologia também está presente nos estudos da Psicologia.

A psicologia estuda comportamento humano e animal. O estudo do comportamento do animal irracional oferece bases importantes para a compreensão do comportamento humano, porém não se pode ignorar que as reações do ser humano e de qualquer ser irracional são totalmente diferentes tendo em vista que o homem é peculiar em suas manifestações com o meio e com outro individuo. Em síntese, a Psicologia é o estudo do comportamento e especificamente no trabalho da autora, trata-se do estudo do comportamento humano.

O campo da Psicologia é extenso e tenta responder várias questões.3

A psicologia, através do estudo científico do comportamento quer alcançar três objetivos: a descrição, a predição e o controle do comportamento. A descrição é a etapa do estudo científico do comportamento que se refere à necessidade de tornar claras as condições nas quais o fenômeno ocorre, sem qualquer significado. A predição é a etapa do estudo científico do comportamento em que o estudante do fenômeno é capaz de prever o que acontecerá a cada passo de seu estudo. O Exemplo disso é quando se condiciona um rato de laboratório a receber alimento toda vez que pressiona uma determinada alavanca. O controle do comportamento é a  etapa do estudo científico do comportamento onde o objetivo é controlar ou manipular o comportamento do indivíduo. Um exemplo muito comum dessa etapa se dá quando uma determinada propaganda induz um comportamento diferente por parte do povo que a assiste.

O HOMEM: UM SER ESPECIAL

Além de ser difícil estudar o homem, a ignorância que temos de nós mesmos é muito grande. A convivência do homem com o outro homem e não a sua capacidade de raciocínio é que o faz diferente dos animais irracionais.  Nesse relacionamento com outros homens, mesmo de mesma espécie, mas de comportamento diferente, o homem tem a possibilidade de, interagindo com o semelhante, crescer ou adoecer, conforme for a sua visão do mundo e de si mesmo. Um exemplo da dependência do ser humano que não ocorre entre os animais irracionais é a capacidade de prover seu próprio alimento. O homem, por não ser provido de instinto, como os animais irracionais terá que, ao longo de sua existência aprender tudo, para sua própria sobrevivência. Ao contrário dos animais irracionais, ele deverá aprender até mesmo a se alimentar no seio de sua mãe. Após este aprendizado, ele deverá aprender como comer comida sólida e assim por toda sua vida. Esse aprendizado ocorrerá de acordo com a vivência comportamental e cultural do individuo. Por conta disso, há lugares em que se comem determinados tipos de comidas que são abomináveis em outros. Alguns comem de garfo e faca, outros de rachi e outros com o uso direto das mãos.

Não seria possível ao pensar ou fazer cultura sem a linguagem. Somente o homem consegue falar e utilizar-se dos símbolos para externar o que precisa. Presente e passado podem ser ligados e futuro pode ser antecipado através da linguagem. A capacidade de pensar, lembrar, elaborar, organizar, abstrair, prever, julgar, planejar, idealizar, está diretamente relacionada com a linguagem. Sem linguagem não haveria interação social e os processos de troca onde ocorre aprendizado teriam que ser vivenciados repetidas vezes. A nossa visão de mundo está também ligada a linguagem.

Há vários mecanismos do comportamento que estão relacionados com a necessidade do homem provoca tensões e essa tensão leva o homem a praticar algumas ações visando alguns objetivos. Ao alcançar o objetivo, suas tensões reduzem. As necessidades são tanto no nível físico como no nível subjetivo. Não alcançar os objetivos almejados faz com que o homem se sinta frustrado. As frustrações geralmente se classificam como frustrações por demora, contrariedade e conflito. Mais comum que as outras frustrações, a frustração por demora acaba sendo absorvida com mais facilidade. A frustração por contrariedade ocorre quando há uma interposição, uma barreira entre nós e nosso objetivo. Essa frustração é dolorosa e mais difícil de administrar. A frustração por conflito surge quando há várias exigências e temos que optar por atender só uma. A fonte corriqueira das frustrações é o meio social em que vivemos. É impossível viver sem frustrações e a frustração continuada pode gerar doenças, como úlceras, pressão alta, asmas, entre outras. Os indivíduos podem reagir à frustração de diversas formas. Os mais comuns são: agressão, agressão deslocada, fantasia, regressão, fixação, apatia, esforço intensificado, mudança dos meios e substituição dos objetivos.

Há ainda os mecanismos de defesa do ego: a racionalização dá-se quando tentamos justificar o que fazemos e em que acreditamos; com a compensação as fraquezas são disfarçadas com a exacerbação de características desejáveis; com a projeção culpamos o outro pelas nossas dificuldades. É uma forma de auto-engano; a identificação é a assimilação das qualidades de uma personalidade que possui o desejado; com a fuga, evita-se a situação que provoca a frustração; com a negação a pessoa se nega a enxergar a realidade dolorosa.

PANORAMA ATUAL DA PSICOLOGIA: AS QUATRO FORÇAS

Com o avanço do conhecimento científico, surgem as escolas de Psicologia: Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo, Gestaltismo e Psicanálise. Neste momento ocorre um rompimento com o pensamento que criava um dualismo entre a definição da Psicologia como ciência do psiquismo e uma compreensão dela como ciência moderna.

A Psicologia se divide em dois grandes sistemas: o fechado e o aberto. O primeiro considera apenas o desempenho do homem buscando se utilizar do método experimental em laboratório. Dentro desse sistema está o Behaviorismo ou doutrina E-R (Estímulo-Reação). Os defensores desse sistema mostram grande resistência ao sistema aberto. A Psicanálise é tida como intermediária entre os dois sistemas.

O sistema aberto busca por sua vez uma compreensão do ser humano como algo além de um produto do acaso, ou seja, como um mero fruto de “acidentes” evolutivos. O ser humano seria especial, teria um papel de destaque na teia da existência. Esse sistema procura levar o homem ao crescimento a auto-realização e para isso também procura ver o homem em sua totalidade social, política e econômica, além da cósmica. Dentro dela se encontra a chamada psicologia Trans-pessoal e as teorias de Auto-Realização.

A Psicanálise teorizada por Freud, tem bases nos Filósofos do sec. XIX. Fundamenta-se na teoria do recalcamento (repressão das necessidades). Para Freud o homem é visto dentro de um contexto que abrange o plano biopsicossocial e seria impulsionado a satisfazer instintos tão poderosos que o obrigam a alcançar seu fim por caminhos certos ou tortuosos. Para ele a personalidade é composta por três grandes sistemas: Id, ego e superego, que correspondem respectivamente aos componentes biológico, psicológico e social. O Id é a zona inconsciente com impulsos primários e conteúdos herdados. O Ego é a zona consciente que concilia o Id com o mundo externo buscando o relacionamento com o ambiente. É responsável pela combinação entre a imagem mental e a realidade objetiva. O Superego é a consciência moral, o censor, a voz da sociedade interiorizada, representa normas, valores, e exigências, transmitidos à criança e incorporados a sua personalidade.

Para Freud a atividade psíquica é consciente e inconsciente, sendo a inconsciente a maior parte, sendo uma zona profunda do nosso psiquismo, pouco ou nada conhecida, para onde lançamos conteúdos que não queremos no nosso consciente.

Freud entende que é na infância do indivíduo que é estabelecida a organização da personalidade, sendo nessa fase que se originam as neuroses e psicoses. As frustrações intensas e os efeitos educacionais como super proteção, a instabilidade, o controle rígido, a carência de afeto, levam o indivíduo a angustia, agressividade, revolta, insegurança, timidez, dependência, irritabilidade, nervosismo, etc. Esses comportamentos levarão o individuo a ter formas inadequadas de contato com o ambiente. Conflitos nesse período podem levar mais tarde a desintegração da personalidade que fica dinâmica, mas no inconsciente.

Na infância se adquire os complexos sendo os de importância básica o de Édipo (menino) e o de Eletra (menina), que é a atração pelo genitor do sexo oposto e o ciúme em relação ao outro.

Para Freud qualquer tensão é um recalque ou repressão, que é a mola-mestra da personalidade. O conflito é sempre um choque entre os desejos do Id e a censura. A libido recalcada procura sempre por válvulas de escape: sonhos, arte, cultura, sintomas neuróticos.

O Movimento Humanístico ou Teorias de Auto-Realização valoriza o homem preocupando com o que ele pode vir a ser. As potencialidades humanas são desenvolvidas em condições que podem conduzir o homem a neuroses. Dá ênfase a complexidade e singularidade do homem. O vivenciar ou experienciar é enfatizado, mesmo que pensar, decidir e sentir não sejam processos observáveis. Os estudos humanistas são baseados mais na observação de indivíduos emocionalmente saudáveis do que na de indivíduos perturbados emocionalmente. A auto-realização consiste em fazer de cada escolha uma opção pelo crescimento. A auto-realização é um processo continuo de crescimento, de desenvolvimento das próprias potencialidades, usando a inteligência e habilidades para fazer bem aquilo que queremos fazer.

As Correntes Behavioristas – E-R ou Comportamentistas, teorizadas por Watson e Skinner dão ênfase ao processo de aprendizagem. De acordo com as teorias comportamentistas, é a personalidade é resultado de respostas aprendidas aos estímulos do ambiente. Segundo Dollard e Miller, teóricos desta corrente, os conflitos da primeira infância é resultado do manejo inconsciente dos pais em termos de recompensa e castigo. Skinner acredita que a personalidade não precisa ser explicada em termos de necessidades e motivos.

As teorias de E-R tem base no trabalho de Pavlov e Thorndike. Pavilov teorizou sobre o condicionamento clássico, quando um estímulo neutro é associado a outro estímulo que provoca uma reação forte e incontrolável no sujeito. O estímulo neutro é repetido várias vezes até que somente ele é suficiente para provocar reações no sujeito. Exemplo: campanhinha associada com choque elétrico. O conceito mais conhecido de Thorndike é conhecido como Lei do Efeito que diz que a conexão entre um estímulo e uma resposta é fortificada quando a associação entre eles satisfaz o organismo.

A psicologia Trans-Pessoal surgiu a partir vertentes como os trabalhos de Jung, Einstein, físicos modernos, Filosofia Oriental e as correntes de auto-realização. Movimento novo que trabalha ainda com hipóteses, apresentando poucas conclusões. Está ligado ao estudo empírico-científico das metas.

O PAPEL DO PSICÓLOGO

A noção do ser humano está constantemente sendo transformada e por conta disso, é muito importante compreender o comportamento humano. Nos dias de hoje há conflitos de todos os tamanhos e ordens e a noção de ser humano se transforma a cada dia, o que efetivamente gera mais conflitos. Isso ocorre em função de mudanças culturais, acesso às informações com uma grande facilidade, crises que envolvem o mundo inteiro, tal como as crises do capitalismo entre outros fatores. A busca por uma identidade em um mundo que não é plenamente verdadeiro é extremamente difícil.  Aliado a isso, a vida humana é desvalorizada e os bens materiais são valorizados, algumas vezes mais que a vida humana, gerando frustrações e ansiedades além do que conseguimos lidar.

Para tentar auxiliar o homem nesses conflitos geradores de doenças, a Psicologia, beneficiando da evolução de outras ciências, compreendeu melhor até onde o comportamento depende da herança genética e o quanto o homem é dependente do que absorve da sociedade, com valores já definidos e para os quais ele tem que se ajustar.

pouco consenso quando se fala em Psicologia e sobre a resolução das questões a que ela se propõe. Muitas premissas diferentes, gerando resultados diferentes. Falta acordo quanto a metodologia e não existe nomenclaturas comuns. Questiona-se a quem ela serve, quem é o normal, quem pode pagar por seus serviços, se ela deve servir ao individuo ou ao sistema.  Essas definições ajudarão a entender quem é o patológico e quem não é.


1 Resumo do livro O QUE É PSICOLOGIA de Maria Luiza Silveita Telles.

2 TELES, Maria Luiza Silveira. O que é Psicologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. p. 10

3 Como aprendemos? Como se dá o desenvolvimento da criança em diversos aspectos? O que é crise da adolescência? Que fatores influem no desenvolvimento? O que são emoções? Elas são inatas ou aprendidas? Por que nos lembramos e nos esquecemos? Como se desenvolve o pensamento? Qual a ligação entre pensamento e linguagem? Como se da a resolução de problemas? Qual a influencia do grupo sobre o individuo? Como se desenvolve a personalidade? Como se da a percepção?  Quais são os fatores responsáveis pelos diversos tipos de retardamento mental? O que motiva o comportamento? Como explicar as diferenças individuais?  Quais as causas dos desvios de comportamento? Como atuar sobre os desajustamentos? Qual a influencia dos valores e das atitudes na percepção dos indivíduos?

O futuro da humanidade: Três aspectos facilitadores na formação de um líder religioso.

1 – Introdução

O presente trabalho trata-se da observação no texto de livro “O futuro da humanidade” de Augusto Cury, de três aspectos que podem auxiliar na formação de um líder religioso. Há muito que se falar sobre o papel da liderança religiosa, e, mais precisamente da liderança religiosa no contexto evangélico, não tendo este trabalho o intuito de esgotar todo o assunto. A metodologia utilizada foi a de pesquisa no texto do referido livro aliado a minha própria vivencia no contexto da igreja local. As dificuldades encontradas no trabalho referem-se ao contexto do ser humano com todas as suas características particulares e singulares.

2 – Primeiro aspecto: o homem como revelador de si mesmo.

O interesse do aluno na sala de anatomia em desvendar a história anterior dos Cadáveres que estavam prestes a ser dissecados mostra-nos a necessidade que temos em entender o ser humano como ele é. Perceber cada ser humano com sua história própria, suas dores, seus sonhos, seus temores, sua essência, é algo que a liderança religiosa deve por em prática. A percepção da vida do homem, no contexto do ambiente religioso, muitas vezes é colocada em segundo plano. Boa parte da liderança religiosa se contenta em ensinar o novo participante do grupo religioso a conviver neste grupo, deixando de lado toda a história pregressa deste novo participante de lado e não se interessando por quase nenhum aspecto de sua vida. As experiências anteriores podem determinar o modo como o novo participante do grupo religioso assumirá sua vida em grupo. Se antes, ele sofreu traumas que estão relacionados com a sua área emocional, é possível que levante algumas barreiras, no intuito de que esses traumas não sejam revelados e vivenciados novamente. Por vezes, esses traumas, por não serem totalmente tratados a fim de que deixem de ser objeto da dor e do desconforto, e se tornem parte saudável da vivencia do homem, são novamente evocada nas reuniões fazendo com que todo processo de sofrimento possa ser desencadeado. No contexto evangélico, é possível que a ignorância por parte da liderança de traumas dessa magnitude, possa conduzir a liturgia, cânticos, sermões em que se toque em assuntos que os liderados prefiram deixar de lado, para que não se viva a experiência traumática. É o homem que de fato se revelará, mas caberá ao líder religioso o interesse em perscrutar com todo cuidado a fim de não ser invasivo, e entender as razões para o modo de ser de cada liderado. É preciso que o líder, diante das experiências traumáticas dos liderados, não se atenha aos jargões existentes, tais como: “isso é coisa do passado”, “o que passou, passou”, “o Senhor fez nova todas as coisas” ou qualquer coisa desse nível. É importante que o líder seja sensível a ponto de perceber que o resgate de uma vida em ruínas pode exigir um trabalho árduo no sentido de trazer dessas ruínas o desejo de viver. É preciso ainda, aprender e apreender com essas experiências que no passado causaram dores, de modo que elas sirvam de parâmetros para o auxilio de outras pessoas.

3 – Segundo aspecto: quebrar preconceitos

A postura tanto do Poeta da Vida, quanto de Falcão de não se importar com os padrões estabelecidos, fazendo de suas dores o motor para a superação delas próprias e sem se importar se em meio a discursos para um público muitas vezes inexistente, abraços em árvores, conversas com Divindades, a leitura que se faziam deles era de total loucura e demência, nos leva a pensar até que ponto o padrão estabelecido por algumas lideranças, padrões esses muitas vezes adquiridos de contextos antagônicos ao contexto da igreja evangélica brasileira, servem para fazer com que os liderados cresçam e tenham suas vidas estabelecidas de forma saudável e consistente. Todavia, é mais fácil seguir uma tendência do que quebrar com o padrão estabelecido e despir-se do preconceito em favor daqueles que realmente precisam de solidariedade, encorajamento e solução. Repensar o modo de liderar é por vezes custoso. É preciso por vezes, estar próximo do viver de um mendigo para entender a vida de um mendigo. É preciso sentir dores, para entender o que é sentir dor. Esta realidade, entretanto, é desprezada, não obstante ser a realidade encarada por Jesus Cristo, homem experimentado em dores. É mais fácil não vivenciar essas coisas, mantendo os liderados no mesmo processo de vida sem crescimento. Romper com preconceitos e padrões preestabelecidos é um desafio, pois fará com que o líder, em alguns momentos tenha que se contrapor com a sociedade religiosa, o que poderá levá-lo a críticas dessa mesma sociedade religiosa.

Outro ponto importante visto sob essa ótica da quebra de preconceito é o fato de permitir que o liderado tenha sua própria experiência com o Divino sem que essa experiência seja ditada por um modelo. Permitir-se enxergar na criação, tal como o salmista enxergava, a soberania do Divino é ter a percepção pessoal desse, sem a interpretação pré-moldada por outra pessoa.

4 – Terceiro aspecto: Quebrar o gelo

Por quebrar o gelo, quero definir a mudança de postura da liderança, que na maior parte do tempo se coloca como acima dos liderados, algo parecido com a inexistente divisão de pátio, lugar santo e santo dos santos da antiga aliança. Esta postura faz da liderança pessoas frias, que evitam o contato, o diálogo e o envolvimento. A liderança não pode ser fria. Não pode pressupor que o remédio que os liderados precisam é simplesmente o aprendizado de ser crente. Não podem contentar-se em ver que seus liderados são por vezes ludibriados com uma promessa de oração, quando na realidade o que eles precisam não é uma conversa com o Divino, mas um diálogo com o humano. Tratar os transtornos de fundo psicológico, emocional, sentimental como se fosse todos de um mesmo contexto, o espiritual, é no mínimo fazer com que o liderado sofra muito mais por receber o “remédio” na dose errada e no tempo errado. Algumas perdas e decepções nunca serão solucionadas com oração, mas o diálogo poderá ser o determinante na cura do individuo que sofre. Por vezes, a frieza da liderança em relação a dor do liderado evoluirá para uma insensibilidade que fará do liderado alguém a ser evitado e questionado em sua liderança.

5- Conclusão

Os três aspectos citados, se vivenciados, produzirão uma experiência de liderado e liderança muito parecida com a vivenciada nos tempos de Jesus, que convivia com pessoas de vivências complicadas para a sociedade religiosa da época, mas Permitia que essas pessoas se mostrassem tal como eram. Ao perceber como eram, não emitia simplesmente juízo de valor, mas os entendia nas suas dores e interagia com eles. A experiência do livro mostra um relacionamento entre o médico Marco Polo e os seus pacientes numa perspectiva semelhante, onde o médico já não se posiciona como alguém acima, mas como alguém que pode conviver e dividir experiências e aprendizados.

6 – Bibliografia

CURY, Augusto Jorge. O Futuro da Humanidade. Brasil, Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2005 4ª edição.

A importancia da presença educadora dos pais

“E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.” Deuteronômio 6: 6-9

“A criança é o Sintoma da familia.” Winnicot

Na literatura médica, sintoma é qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não consistir-se em um indício de doença. É através de alguns sintomas que percebemos as patologias. Uma criança saudável é o reflexo de uma familia saudável. Todo contexto da familia influenciará positivamente ou negativamente sobre a vida da criança, sua saude psicológica, seu comportamento, sua vida. É do ambiente familiar os exemplos de contuda para uma criança. A família e o meio social onde ela está inserida, seja no contexto da vida cotidiana, ou no contexto das comunidades de fé interferem nas atitudes demonstradas e vivenciadas por uma criança.

O texto de Deuteronômio nos leva a pensar no ciclo fechado de conhecimento do Eterno. O ensino começa assentado, continua em casa, ao deitar, ao levantar e fechando o cíclo com a Lei de Deus fixada nos umbrais das casas, e nas portas.

Há alguns exemplos na bíblia que vale a pena pensar a respeito. Esses exemplos falam de crianças que refletiram a postura de seus pais e desta forma tiveram suas vidas atingidas.

A familia da Samuel o conduz no conhecimento de Deus e o insere em um meio social sacerdotal de modo que ele cresce adquirindo o pleno conhecimento de Deus.

Na familia de Israel há dois contextos distintos. Se por um lado José era privilegiado e amado mais por seu pai, produzindo nele a percepção de um ambiente familiar agradável, por outro lado, os irmãos de Jose não tendo sido preferidos por seu pai, sentem-se mau tratados e não possuem a mesma perceção de familia que José teve.

Outro exemplo é o de Jesus Cristo. Quando o encontramos no templo, aos doze anos de idade, ele está cumprindo uma das leis judaicas que indicava ser esta a idade para que o menino tivesse sua maioridade religiosa. Ao cumprir a Lei quando criança, Jesus estava refletindo o ensinamento dado por seu pai terreno, o que o garantiu a possibilidade de dizer no futuro que ele não veio revogar a Lei, mas cumprir.

Boa parte dos problemas na sociedade moderna podem ter raizes em famílias desestruturadas que influenciaram negativamente seus filhos.

Freud, Além da Alma: Reflexões sobre a contribuição do filme na formação teológica.

1 – Introdução

    O presente trabalho trata-se da identificação no conteúdo do filme “Freud Além da Alma”, exibido em sala de aula, da matéria Introdução à Psicologia, e tem por objetivo fazer Reflexões sobre a contribuição do filme na formação teológica.

    A metodologia utilizada foi a de análise do referido filme, anotação de dados principais que ajudaram na composição do presente trabalho aliados a minha vivência no contexto da igreja local, atuando em áreas de liderança da igreja. As dificuldades encontradas no presente trabalho devem-se ao fato de toda a história do filme ter se passado em uma época distanciada da realidade atual no que se refere ao tempo e ao ambiente de outro continente e pais. Evidentemente as percepções encontradas no presente trabalho não esgotarão de maneira alguma todas as nuances passíveis de serem encontradas no filme assim como na história a cerca da Psicologia, de Freud, da Psicanálise e da formação de um Teólogo.

 2 – A observação

    No que ser refere à observação dos fatos ocorridos, o que pode ser visto no filme “Freud: além da alma” é que há um interesse muito grande por parte de Freud por entender o que se passa no cotidiano das pessoas, e somente a partir dessa leitura do cotidiano, traçar uma forma de solucionar as dificuldades geradas na vida das pessoas que estão relacionadas com ele.

    Esta observação é sempre de forma a tentar entender a pessoa como ela é sem enquadrar a pessoa em algum estereótipo. A observação é feita a partir das experiências da própria pessoa, de forma que os resultados da observação relacionam-se com esta experiência. Sempre que possível, a experiência da pessoa, seja ela positiva ou negativa, é o motor para a observação e para a análise por parte de Freud, fazendo com que ele perceba a pessoa como ela é em sua essência.

    Os traumas psicológicos são tratados do ponto de vista da pessoa traumatizada, e independente de quais sejam os motivos, Freud procura buscar nos traumas a solução para os problemas de quem passou por eles.

    A postura de Freud é de alguém que observa, analisa, questiona, teoriza e finalmente trata o traumatizado, sem questionar se o que ele passa é certo ou errado, positivo ou negativo, relacionando o que se observa com as pessoas observadas e o contexto social desta pessoa. Isto sinaliza para o fato de que a formação Teológica deve encarar e vivenciar estes caminhos. Despindo-se de conceitos pré-estabelecidos, abandonando alguns dogmas, mais precisamente os mais modernos, o Teólogo deve encarar o ser humano com todas as suas complexidades e particularidades. Tal como Freud enxergava, o Teólogo deve enxergar além do que está patente aos olhos. Ele deve tentar rebuscar no interior da pessoa os elementos necessários para que se processe a melhora dessa pessoa, seja no nível físico ou no nível espiritual.

    Qualquer tentativa do Teólogo de olhar para uma pessoa e já expressar julgamento a respeito do que ela passa, sem que uma observação acurada seja realizada, poderá induzi-lo a encontrar posicionamentos onde a primeira impressão é: “os problema não é tão grande quanto se apresenta.” É preciso que o Teólogo entenda que a complexidade de um problema é real para quem vive o problema, mesmo para outras pessoas seja de fácil solução.

    Há um posicionamento de Freud em querer pesquisar profundamente todas as situações que envolvem a pessoa em seus problemas, investindo tempo para a percepção da pessoa em sua totalidade, analisando os fatos presentes e pesquisando no passado da pessoa algo que possa ter contribuído para o seu estado atual. É um trabalho meticuloso, detalhista, onde o esforço para se alcançar resultados se torna em muitos momentos maior que sua necessidade se afirmar como cientista pesquisador. Neste ponto de vista, podemos entender o Teólogo como aquele que está disposto a experienciar, pesquisar, desvendar, elucidar todos os tipos de dúvidas sejam elas existentes num grupo de pessoas ou até mesmo em uma pessoa isolada, tirando-os da escuridão da ignorância e colocando-as em posição do saber e da iluminação.

 3 – Aplicabilidades da observação em sua própria vida

    Freud começa a observar seus pacientes e os pacientes do Dr. Breuer, mas em dado momento ele percebe que o que o faz observar seus pacientes é também o motor da sua auto-observação. Da análise dos dados coletados em seus pacientes, Freud se auto-examina, se auto-observa, se auto-determina como pessoa com doenças de fundo psicológico e por fim se auto-trata e cura. Nessa perspectiva, podemos entender que o Teólogo precisa ser atingido por aquilo que é fonte de suas observações. Não basta somente observar pessoas e lidar com elas de modo que elas sejam alcançadas, é preciso que ele próprio seja alcançado por seus próprios ensinamentos e métodos, de forma que o que ele possa passar aos outros tenha primeiro um efeito nele mesmo como pessoa.

    Ao se defrontar com a própria incapacidade de solucionar alguns problemas, Freud se vê na necessidade de reflexão acerca deles e percebe a necessidade de teorizar sobre sua própria experiência. Ao teorizar sobre sua própria experiência, Freud consegue entender melhor a experiência de outras pessoas, pois consegue ter parâmetros de comparação entre o que viveu e o que a outra pessoa viveu ou vive. Nesse processo de troca de experiência, ele encontra parâmetros para definir causas de problemas relacionados com sua mente que antes estavam encobertos. A descoberta da causa desses problemas passa a ser fundamental para que os mesmos sejam solucionados, e a partir do momento em que ele consegue trazer pra sua realidade esses parâmetros, ele consegue entender melhor o que acontece com seus pacientes. Os instrumentos teóricos que o Teólogo adquire na sua formação teológica serão de grande valia, entretanto, os efeitos mais contundentes se darão na medida em que ele possa aplicar essas ferramentas na percepção da sua própria natureza, problemas, conflitos, enfim, no seu próprio ser. Foi da observação da sua própria vida, seu relacionamento afetivo com a mãe em contraposição ao relacionamento repulsivo do pai, que ele conseguiu teorizar acerca do complexo de Édipo e isso não teria acontecido com tanta eficácia se ele não tivesse a oportunidade da aplicabilidade em sua própria vida. Como Freud, o Teólogo deve sair do momento do crer por crer e passar ao um momento em que esse crer é reflexo da vivência do que se é crido e buscado entender.

 4 – Enfrentamento do antagonismo 

    Na sua caminhada cientifica, Freud encontrou diversos obstáculos desde seu mentor na instituição médica, seus pares de profissão e até mesmo seu mentor na hipnose. Há um momento em que ele se vê completamente sozinho, tendo que enfrentar todas as contrariedades acerca daquilo que ele acreditava ser a verdade para suas indagações a cerca do ser humano. Quando ele tem definido sua Teoria, ele se vê impelido por sua convicção a demonstrar diante de uma platéia tudo aquilo que ele vivenciou e teorizou. O enfrentamento na perspectiva de Freud era quase que uma luta sem chance de vitória, tendo em vista que nem mesmo seu amigo mais próximo, Breuer acreditava como ele acreditava. Mesmo assim, ele reúne argumentos e forças para colocar à mostra todo seu trabalho de campo, pesquisa, vivência, diante dos médicos e professores, de forma que o que importava pra ele não era receber louros de vitória, mas simplesmente contribuir para que, através de seus estudos fosse possível tratar do ser humano de forma a que suas dores, frustrações, psicoses fossem eliminadas.

    O enfrentamento com aqueles que não criam na sua teoria, poderia causar um afastamento de todos e a perda poderia ser tão grande a ponto dele ser levado ao ostracismo e ser relegado a um plano inferior no rol de pesquisadores. O Teólogo é aquele que, tendo recebido ferramentas em sua formação, fará dessas ferramentas um meio racional para defender suas idéias. Sua determinação em defender idéias concretas e sensatas deverá ser maior do que o receio de ser lançado no esquecimento pela comunidade de fé e até mesmo pela comunidade acadêmica. A defesa de sua fé, não será somente defesa da fé por fé, sem explicação, mas será uma defesa com bases concretas, mostrando de forma organizada e experimentada o que define sua fé, qual a dimensão, e os porquês dela. A fé há de ser questionada e até mesmo antagonizada e criticada, sem, contudo fazer com que o Teólogo se intimide nos momentos em que for preciso argumentar a favor dela. É possível que até os mais íntimos do Teólogo apresentem momentos de descrença e de julgamento sobre o que o Teólogo fala e pensa, mas é preciso que o Teólogo entenda que uma vez criado um pensamento e, tendo esse pensamento base consistente, os mesmo deve ser defendido até o fim

 5 – Conclusão

    Muito se tem que aprender com os conceitos de Freud que se aplicariam totalmente a formação Teológica. Seus conceitos e sua luta para explicar seus conceitos podem fazer com que o teólogo veja que, apesar de todo antagonismo diante de determinadas posturas, sobretudo as bibliocentricas, a demanda e esforço para compreensão e para pratica da defesa será necessária, mesmo que, em muitos casos possa ser custoso, porém nunca infrutífero.

 6 – referências

    Freud (Freud, além da alma, no Brasil), filme norte-americano de 1962 dirigido por John Huston, com trilha sonora de Jerry Goldsmith, exibido em sala de aula do seminário Teológico Batista de Duque de Caxias.

O surgimento da noção do indivíduo, da razão e da loucura

Em um mundo cosmocêntrico, como era o mundo antigo, o homem não faz questão de si próprio. A pergunta “Quem sou eu”?” não tem sentido. As pessoas compreendem-se e compreendem a própria cultura inseridas no cosmos que as cerca. Vive-se de acordo com a natureza, num mundo teocêntrico onde a idéia de linearidade não se coloca.

No mundo moderno, antropocêntrico, a vontade humana e não os poderes da natureza é que determinam o destino do homem. Há uma visão histórica. A natureza torna-se objeto, o homem, sujeito. Em lugar de uma razão contemplativa, orientada desinteressadamente para a busca da verdade, onde busca-se o conhecimento pelo prazer de conhecer, aparece uma razão instrumental onde à mera observação, acrescenta-se um procedimento ativo onde conhecer é controlar e dominar a natureza e os seres humanos. Atormentar a natureza e fazê-la reagir a condições artificiais, criadas pelo homem. Atormentar a natureza é conhecer seus segredos para dominá-la e transformá-la. A ciência se torna instrumental deixando de ser uma forma de aceso aos conhecimentos verdadeiros e se tornando um instrumento de dominação e exploração.

Segundo o pensamento de Bacon, não basta a observação pura e simples. É importante também que haja regras metodológicas para a prática científica. Para Descartes, a dúvida metódica é o procedimento fundamental: desconfiar de tudo.

Esboça-se com mais clareza: 1. o surgimento da razão instrumental, 2. o surgimento da noção de indivíduo, 3. a noção da consciência/razão, como critério de verdade. Nesse contexto surge a idéia da loucura (no início do séc. XVII). Até então, o louco era o doente, o diferente. Nesse sentido, a loucura não atinge o pensamento, pois são excludentes. O louco não tem a capacidade de pensar, ou seja, é um animal que perdeu a racionalidade. Identificado com o animal, o louco é tratado com técnicas utilizadas para domar animais. Busca-se por uma tentativa de apontar se o indivíduo era ou não louco, sem se preocupar com as causas. A cura não é, nesse caso, interessante, mas o confinamento, o controle disciplinar do indivíduo.

No século XIX a Psiquiatria era capaz de identificar a loucura, mas não sabia o que era. Moreu de Tours (Psiquiatra Francês) faz experimentos com haxixe e estabelece a idéia de que a loucura pode ser produzida experimentalmente. Mais do que isso, ele diz que nem é preciso produzir artificialmente a loucura: é possível encontrá-la em nós cada vez que sonhamos. “O louco é um sonhador acordado”. “o sonho é a loucura do indivíduo adormecido”.

Pensando sobre a subjetividade humana

    Fiquei sem postar nenhum texto por quase duas semanas. Isto talvez me impeça de continuar com uma estrutura semanal. Gostaria de dar uma explicação a respeito de meus textos. Não existe nenhuma pretensão de expor todo o conteúdo das aulas.

    Os textos nascem da visão que tenho das aulas e não são as aulas propriamente dita. Esta explicação surge ante a colocação por parte de alguns colegas que reclamaram por eu não estar falando dos assuntos por completo. A partir de hoje, aceitando a sugestão de alguns, estarei postando textos divididos em matéria.

Em Psicologia aprendemos que ninguém é parecido com ninguém. Somos individuais em nossa maneira de ser. Esta forma de ser, denominada subjetividade pela Psicologia é formada a medida em que vamos nos construindo a partir da vivência das experiências da vida social e cultural de cada um de nós. Ao mesmo tempo em que nos faz únicos, pode nos igualar na medida em que os elementos que constituem a subjetividade são vividos no campo comum da objetividade social.

    Na medida em que vamos nos relacionando com o que está a nossa volta e vivenciando emoções, pensamentos, fantasias, sonhos, etc… construímos características que nos fazem ser o que somos. Entendemos também, que o homem pode promover novas formas de subjetividades, quando se recusa a se sujeitar a ter sua memória perdida pela fugacidade de informações e quando se recusa a massificação que estigmatiza o diferente, a aceitação social condicionada ao consumo e a medicalização do sofrimento. Retoma-se, nesse sentindo a seguinte utopia: “cada homem poder participar na construção do seu destino e da sua coletividade”.
– Nosso mundo atual, acelerado, e sempre conectado, gerando informações praticamente em tempo real transformam totalmente nossa experiência de espaço-tempo.
– Novas biotecnologias mudam nossas percepções sobre a morte, a doença, a saúde, a reprodução, o envelhecimento.
– Por não existir mais um mundo bi-polar (Capitalismo x Socialismo) nossa visão de mundo e de futuro em relação as nossas utopias e sonhos torna-se diferente.
– Grandes narrativas em declino e enfraquecimento da religião, da política e do estado, cria indivíduos desamparados.
– A invasão do mercado, ocupando todos os espaços, inclusive onde não deveria, como na religião (teologias da prosperidade) e até no ensino (estuda-se para vender o conhecimento posteriormente)
    Todos estes pontos imediatamente anteriores influenciam na formação da subjetividade.
    Não há como citar as fontes tendo em vista que o conteúdo acima são anotações minhas sobre a aula ministrada.