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Cidadania: eu pratico, e você?

O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração,
A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor. Lucas 4:18,19

Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Efésios 2:19

Cidadania: eu pratico, e você?[1]

O conceito de cidadania surge no período clássico da Grécia, e fazia referência aos direitos relativos ao cidadão. Cidadão é o indivíduo que vivia nas polis (cidades).

Na Grécia, poucos podiam ter o título de cidadão. Somente alguns homens. Mulheres, crianças, escravos e estrangeiros não podiam ser cidadãos. Mulheres não eram consideradas seres pensantes. Escravos não eram considerados seres humanos. Os estrangeiros não podiam ser cidadãos por serem estrangeiros.

A cidadania na Grécia é uma conquista que diz respeito à participação do cidadão ao processo político e governamental das cidades. Nesse sentido, quem era cidadão podia influir nas decisões políticas das cidades.

A cidadania é formadora de identidades. Nos primeiros passos da igreja cristã, houve uma crise eclesiástica, criticada por Paulo e consistia no partidarismo cristão que se formava. Os cristãos estavam se dividindo e uns se diziam de Paulo, outros de Apolo, formando assim uma identidade que os particularizava. Toda identidade é por si excludente de outras identidades.

A cidadania surge como conceito para justificar uma identidade, ou uma identificação de alguém com um grupo específico. Viver no coletivo da cidade exige de quem vive que se tenha uma cidadania.

A princípio a cidadania exclui quem não faz parte do grupo de cidadãos. A cidadania grega excluía não só quem era grego (mulheres, escravos, estrangeiros), mas excluía os outros povos. Era cidadão das pólis (cidades), quem habitava as polis.

A cidadania sob o ponto de vista grego é constituída a partir da democracia (δημοκρατία). Sendo a democracia o governo do povo, o cidadão era quem podia exercer a democracia. Não é possível desvincular a cidadania grega da democracia grega.

Avancemos um pouco no futuro e vamos encontrar um outro tipo de percepção do cidadão: A revolução francesa. Na revolução francesa há uma modificação do pensamento a respeito do cidadão. Ao contrário da excludente cidadania grega, a revolução francesa apregoa seu tríplice lema: “Liberté, Egalité, Fraternité”. (Liberdade, Igualdade, Fraternidade).

Deste modo, para os franceses, o pensamento de Liberdade Igualdade e fraternidade, modifica a forma de se enxergar o cidadão e a sua cidadania.

Um filósofo muito importante para o pensamento sobre o cidadão em sociedade foi Jean Jaques Rosseau. Filósofo suíço, Rosseau afirmava que o homem não era mau em si mesmo. Não acreditava que o mal estava no pecado original, mas na vida em sociedade. Era a sociedade que transformava homens bons em homens maus. Logo, o que precisava ser corrigido não era o homem, mas a sociedade. Esta correção, segundo Rosseau deveria ser feito através da política. Rosseau acreditava ser possível estabelecer uma sociedade ideal, sendo sua assim sua ideologia uma grande influência na concepção da revolução francesa.

Além da Liberdade, igualdade e fraternidade, a revolução francesa traz consigo a declaração de direitos do homem e do cidadão, que define direitos individuais e coletivos do Homem, não só em território francês, mas em qualquer lugar e em qualquer tempo.

No período colonial, das grandes navegações, a cidadania está restrita aos homens bons. Homem bom, no período colonial, fora do Brasil significa ser branco e dono de terras.

No Brasil, essa característica de cidadania para apenas homens bons, faz com que a maior parte dos habitantes do Brasil e no Brasil não possa ser cidadãos. Quem não era “homem bom”, não era cidadão e não tinha os direitos que um cidadão podia ter.

No Brasil colônia, isso gera outro problema, pois se a cidadania está restrita a poucos homens, a lei também não alcança a todos os homens.

Para os cidadãos, as leis não se aplicavam, pois ser cidadão era em última análise ser um homem bom, e um homem bom não podia ser atingido pela lei.

Essa cidadania brasileira excluía os pobres, os nativos, os escravos e as mulheres. Logo, nem todos eram capazes de ter o título de cidadão. Sendo assim, nem todos podiam ter direitos de cidadão.

Os escravos, não possuíam o direito a cidadania. Mesmo com o advento da Lei áurea, e conseqüentemente, o fim da escravidão, o negro não podia ser cidadão.

A lei que libertou os escravos traz consigo um grande problema. A liberdade conseguida, não era uma conquista, mas uma outorga. Dizendo de outra forma, não se era livre por se ter conquistado a liberdade, mas porque alguém (Estado) decidiu que os escravos seriam livres.

Este tipo de ação do Estado, também acontece com todos os direitos sociais adquiridos por força de lei. Em última instancia, o que deveria ser uma conquista, de fato não é, pois é limitado a quem outorgou esta “conquista” por meio de uma lei.

Somente na constituição de 1934, as mulheres conseguem o direito de votar. Em termos históricos, somente ontem. Esta ação por força de lei coloca a mulher em posição de cidadã brasileira.

Hoje a cidadania é mais que direito de votar. Cidadania consiste em direitos sociais, proteção ao idoso, adolescente, criança. Não é apenas direito de liberdade de expressão, mas pluripartidarismo, direito a lei, liberdade de imprensa, direitos iguais entre as pessoas, direito a saúde. Não ter um sistema de saúde decente fere a minha cidadania.

Influenciada pela experiência da declaração dos direitos do homem e do cidadão, os países aliados, após o término da segunda guerra mundial, decidem promulgar a declaração universal dos direitos Humanos. Para fazer parte da ONU, um país tem que ser signatário à declaração universal dos direitos humanos.

Em seu primeiro artigo, a DUDH declara “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” E em seu terceiro artigo diz “Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”

No artigo vigésimo quinto está escrito que “1.Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2.A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma proteção social.”

No Artigo vigésimo sexto assegura que “1.Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2.A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos filhos.

Aqui temos instaurado um problema de cidadania:

Países como a China, Arábia Saudita e Brasil, signatários da declaração de direitos humanos, concordam que todos são iguais. O que de fato não é. Não há saúde bem estabelecida, educação fundamental de qualidade, segurança, entre outros, logo, não estamos bem enquadrados nas diretrizes de cidadãos estipulado pela declaração dos direitos humanos.

Para ser um cidadão de acordo com as diretrizes estipuladas na declaração dos direitos humanos é preciso respeitar o que lá está escrito. É ai que precisamos entender bem o que é ser um cidadão.

Como cidadão eu posso ter a opinião sobre tudo e sobre todos, desde que eu não fira os direitos fundamentais descritos lá na declaração universal dos direito humanos.

Pensando sobre o que é ser cidadão, sob a perspectiva da declaração dos direito humanos, precisamos refletir sobre dois aspectos:

  1. Eu sou cidadão em toda plenitude?
  2. Eu pratico a cidadania?

De porte dessas perguntas, como cristãos, precisamos pensar no dualismo que por vezes criamos. Nos auto-intitulamos cidadãos dos céus, o que de fato não é um problema em si. E nos classificamos também como cidadãos brasileiros, e por análise da declaração dos direitos humanos, cidadãos do mundo. Mas quando observamos a saúde, educação, segurança, entre outros direitos do ser humano, sobretudo aqui no nosso país, mas não só aqui, essa dualidade pode ser demasiadamente ruim.

Como cidadãos dos céus, não temos problemas com nada do que descreve a DUDH. No céu não há problema com os hospitais, porque lá não haverá morte, portanto, não haverá doença. No céu não haverá problema de educação, pois conheceremos o que Deus conhece. No céu não haverá problema de transportes, pois um corpo glorificado não está restrito da mesma forma como um coro carnal.

Mas esse mesmo cidadão dos céus é cidadão da terra. Da terra injusta, da terra, sem educação da terra, sem saúde, da terra violenta.

Se olharmos para o modelo de cidadão descrito por Jesus no sermão da montanha. Talvez tenhamos uma perspectiva diferenciada sobre a questão dualista cidadão deste mundo e cidadão dos céus.

Pensemos então em cidadão do Reino de Deus:

No sermão do monte, os pobres de espírito são considerados felizes. A palavra pobre no sermão da montanha se torna uma matiz moral. Esse ser pobre de espírito é aquele que está disponível para o Reino de Deus. Estar disponível para o reino de Deus é estar disponível para um reino de Justiça, onde os direitos fundamentais são respeitados. Ser pobre de espírito, não significa não ter dinheiro. Deus dedica o seu Reino aos pobres de espírito, e essa preferência pelos pequenos é a marca da liberalidade soberana de Deus. É um convite para esperar tudo da graça de Deus pelos infelizes deste mundo, sejam eles ricos ou pobres, contanto que sejam pobres de espírito.

Quando o sermão chama de felizes os pobres de espírito e direciona a eles o Reino dos céus, podemos perceber implicitamente uma questão maior do que igualdade. Temos uma questão de justiça.

Praticar a cidadania sob a ótica do Reino dos céus é praticar uma cidadania de justiça e não de igualdade. Sendo assim, a perspectiva da cidadania do Reino dos céus é superior a qualquer conceito de cidadania.

E de novo temos duas perspectivas-escolhas:

  1. Espero que o reino dos céus seja estabelecido nos céus, onde não há injustiça.
  2. Estabeleço a justiça do reino dos céus aqui na terra.

Dependendo da escolha que eu fizer, precisarei assumir as conseqüências da escolha.

A primeira chama-se morte, ou em alguns casos arrebatamento. Cessado esta vida, seremos introduzidos no ambiente dos céus, onde não há injustiça.

A segunda chama-se pratica da cidadania, mas esta exige que façamos aqui na terra, enquanto vivos, lutando pelos nossos direitos e cumprindo nossos deveres como cidadãos.

Talvez seja a segunda parte desta minha última frase que empaca a questão da cidadania. Para ser cidadão pleno, precisamos ter garantidos os nossos direitos mais fundamentais, mas precisamos cumprir com nossos deveres.

Queremos nossos direitos, mas por vezes, tememos nossos deveres.

Tal como a cidadania terrena, a cidadania do Reino dos céus tem seus direitos e seus deveres. O cristão que olha para a injustiça social, a carência do básico para o ser humano viver e não acha que isso precisa ser mudado, precisa rever seus conceitos sobre o ser cristão.

Que tipo de cidadania, estamos vivendo como cristãos? Que tipo de influência somos no mundo a partir daquilo que fazemos para que a justiça social deixe de ser um incomodo que ainda levante questionamento do tipo: “será que a prática da justiça social não nos equipara a comunistas, marxistas e outras ideologias?”

Não há como ser cidadão do Reino de Deus, nos esquivando de ser cidadão do reino deste mundo.

Como cristãos, precisamos avaliar até que ponto nossa relação com a humanidade é suficientemente eficaz a ponto de lhe assegurar direitos básicos de cidadania. Deixar que a cidadania seja assegurada por força da lei, não é conquista, é limitação desta cidadania.

Se continuarmos vivendo em um dualismo mundo versus igreja, céu versus terra, material versus espiritual, e continuarmos nos abstendo de ter uma participação efetiva na vida social, econômica e política do país, continuaremos a ter uma cidadania de segunda categoria, gerenciada por alguém que nos concedeu essa cidadania e não por termos uma cidadania fruto de uma conquista.

O que podemos fazer então? Que atitudes podemos tomar para garantir o básico para o ser humano que interage conosco. Não podemos fazer muito, é certo, mas podemos fazer a nossa parte.

Quero compartilhar com vocês, um texto, de uma pessoa que resolveu fazer a sua parte diante de uma carência de algo que é fundamental par ao ser humano que é o bem estar na alimentação. Essa pessoa não resolveu a questão da fome do mundo inteiro, sequer da fome da vida toda de uma pessoa, mas ela fez o que estava ao seu alcance, no momento da necessidade. O texto chama-se:

Eucaristia com empadão e refresco de maracujá

No posto de gasolina,
um desvalido com fome
me pede respeitosamente
que lhe arrume algo para comer.
Não pediu-me dinheiro.
Sentindo fome
Me disse: “por favor, pode me comprar um pão?”
Eu que já havia saciado a fome matinal
vi perto de nós um vendedor:
“Um salgado e um refresco por um Real”.
Aproximei-me do vendedor,
comprei o lanche em dobro.
O moço, mesmo com muita fome
antecipou-se a dizer:
“Um só moço, já mata minha fome”.
Insistir por dois.
Levei o moço para uma mesinha,
forrei alguns guardanapos
e arrumei o café da manhã
em forma de salgado e suco.
Quantas vezes temos isso
e não percebemos o valor?
Assentado a mesa,
antes de comer fiz uma proposta:
– Vamos agradecer a Deus
pelo alimento à nossa disposição?
Timido, ele insiste em dizer
que não sabia o que era orar.
Sem desistir o convidei
A repetir comigo algumas palavras de Agradecimento.
Ele o fez e no fim de tudo
começou a chorar.
E disse em meio a um suspiro:
“Se o senhor quiser, pode levar o lanche
o que eu ganhei é maior que o lanche.”
Parti o salgado, dei graças ao Pai
Lembrando de quando o filho disse
“tomai, comei, esse é o meu corpo partido por vós”
Partido pelos que sofrem,
pelos famintos,
pelos desolados,
pelos que se alimentam de dores
e bebem das suas próprias lágrimas.
Peguei o refresco, e agradeci também por ele.
Nem pão, nem sangue, nem vinho,
mas o suficiente para ajudar
alguém a ter sua necessidade básica suprida
e além disso, anunciar a morte do Cristo
até que ele venha.
O que eu fiz, pode ter feito
pouco efeito no corpo do homem,
mas creio que fez grandes mudanças
na alma e no espírito,
e se eu não fizesse o que foi feito
eu não teria a comunhão
com alguém que precisa
da comunhão do Pai.

“Se você não pode fazer por todos, faça por um”

[1] Brites, Ronildo. Palestra proferida ao Ministério de Família, da Primeira Igreja Batista do Parque Anchieta – Rio de Janeiro – RJ – em 10 de julho de 2016.

Pais sábios, filhos brilhantes – Autoridade necessária: disciplina com afeto.

Ensina-a-crianca-o-melhor-caminho

Tradução Almeida Revista e Atualizada: Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele. Provérbios 22.6

Tradução do Hebraico, interlinear, para o inglês e do inglês para o português: Quando treinares uma criança no caminho como ele deve ir não deixará nenhum quando for velho.

Introdução

Vamos refletir um pouco sobre o provérbio lido e a primeira coisa que precisamos pensar é o que de fato ele é: um provérbio. Muitas pessoas tem se frustrado ao interpretar erroneamente este texto como uma promessa. Para ser uma promessa, ele teria que ser uma realidade na vida de todas as pessoas que ensinaram o menino no caminho em que ele deve andar. Neste caso, teríamos dois problemas. O primeiro, quando os pais ensinam o menino no caminho em que deve andar, mas ele se desvia depois de velho. O segundo problema, se dá com pessoas que não fazem diferença sobre que tipo de caminho deva ensinar aos filhos. É possível que o caminho que você queira para o seu filho, seja diferente do caminho que outra pessoa queira.

Outra coisa importante está relacionada com o texto tal como ele foi escrito no hebraico. Enquanto no português há uma recomendação – Ensina – No hebraico há uma percepção de tempo ou de momento – Quando – Quando treinares uma criança no caminho como ele deve ir não deixará nenhum quando for velho. Parece-me que no contexto em que o provérbio foi utilizado, não havia ainda a aplicação desse tipo de ensinamento.

Vamos refletir, então, sobre algumas colocações do texto do provérbio.

1. Ensina

O provérbio que foi lido fala sobre ensinar. Ensinar não é uma das tarefas mais fáceis. Para que alguém ensine alguma coisa a outro alguém, é preciso primeiro ter aprendido. Uma pessoa que não aprendeu sobre determinado assunto, terá dificuldades para ensinar sobre esse assunto. Aprender, nesse caso, exige aplicação ao que foi ensinado, e ainda, fidelidade ao que foi ensinado. Quando nós aprendemos sobre a lei da gravidade, nós passamos a ser fiéis a esta lei. A lei da gravitação universal, ou mais conhecida como lei da gravidade, postula uma série de ensinamentos relacionados com a existência do universo. Mas destaco aqui uma pequena parcela da lei da gravidade que afirma que a atração gravitacional da terra confere peso aos objetos e faz com que caiam no chão quando soltos. Quando uma criança não tem conhecimento disso, possivelmente não dê tanta importância, mas a partir do momento em que passamos a conhecer, passamos a ser fieis ao que aprendemos. De outra forma, mesmo que discordemos da lei da gravidade, ela continuará sendo eficaz em seus postulados. Eu posso não acreditar na lei, mas se eu pular do vigésimo andar de um prédio, eu não flutuarei só por que não acreditei e fui fiel a lei da gravidade.

Não conseguiremos incutir no coração e na mente de nossos filhos, nenhum tipo de conhecimento dos quais não nos relacionemos bem com ele. Não se ensina honestidade, sendo desonesto. Não se ensina gentileza sendo rude. Não se ensina aquilo que não se aprende.

2. O menino/a criança

Quando o escritor descreve o objeto do nosso ensino (menino/criança), o que de fato ele pretende nos mostrar é que a tarefa de ensinar é algo que deve começar cedo. E não pensemos que esse cedo é quando a criança está apta para viver sua vida social em uma unidade de ensino. Para que tenhamos uma ideia, no contexto da vida judaica, ao completar 12 anos, idade que para nós ocidentais somos considerados como crianças, o menino participava de uma cerimônia chamada bar-mitzvah. Nessa cerimônia ele era considerado apto a responder por todas as responsabilidades de um homem judeu no que se referia a sua religião. Nesse sentido, o menino, a criança deste texto é muito mais nova que uma criança de doze anos. O que acontece hoje, é que temos deixado para muito mais tarde a tarefa de educar nossas crianças. E quando percebemos, já está na hora dela frequentar as cadeiras de uma escola e passará pelas mãos de profissionais que nem sempre tem o compromisso com o ensino de verdades que julgamos fundamentais.

3. No caminho

Talvez a parte mais crítica desse texto seja essa. Devemos ensinar, mas ensinar NO caminho. Ensinar NO caminho, nos mostra que não estamos dando instruções para que alguém trilhe um caminho. O que de fato o texto mostra é que esse ensinamento se dá DURANTE a caminhada. Ensinar o caminho é mais fácil, precisa apenas que se conheça como sair do ponto A e chegar ao ponto B. O que acontecerá entre os dois pontos, para quem ensina O CAMINHO, não é relevante. Entretanto, para quem ensina NO CAMINHO, as realidades são diferentes. Do ponto A ao ponto B há um percurso que nem sempre é reto. Haverá dificuldades NO CAMINHO. Haverá desejo de sair do caminho para seguir por atalhos. Haverá quedas, decepções, frustrações e quem ensina NO CAMINHO passará por isso tudo.

Ensinar NO CAMINHO é mais difícil do que ensinar O CAMINHO. Mas a diferença fundamental entre um e outro é que ensinando NO CAMINHO, você é um participante da caminhada, podendo ser um referencial nessa mesma caminhada e ensinando O CAMINHO você é somente alguém que fala, mas não interage, não vivencia, não experimenta. Quem ensina O CAMINHO, enxerga o início da caminhada, mas quem ensina NO CAMINHO enxerga a meta alcançada.

4. Em que deve

Há uma diferença crucial entre as expressões “EU TENHO QUE ANDAR” e “EU DEVO ANDAR”.  A primeira, pré-supõe obrigação, destino certo, ao passo que a segunda denota sugestão, opção. No caminho em que deve andar, não é uma ordem a ser cumprida, mas uma sugestão.

5. Autoridade necessária/disciplina com afeto

Para que haja autoridade e disciplina com afeto é preciso que se tomem algumas decisões.

  1. Assumir a responsabilidade da educação.

A educação de uma criança, não é tarefa de ninguém a não ser de seus próprios pais. Delegar essa tarefa aos professores da escola, a uma babá, a uma creche, aos professores da Escola Dominical, é seguir um caminho para a geração de pessoas que serão contrárias a autoridade. Esses elementos existentes na vida de uma criança, não são os elementos principais, logo, não terão a efetividade dos elementos principais que são os pais. Rapidamente a criança perceberá que dizer “você não manda em mim, você não é meu pai” é um caminho para refutar qualquer tipo de ação delimitadora aplicada à criança.

  1. Estar presente na vida dos filhos

Estar presente é muito mais que estar no mesmo ambiente. Estar presente está relacionado com envolvimento, comprometimento, colaboração, percepção das dificuldades e necessidades de cada filho.  Para estar presente, nesse sentido, é preciso dispor de tempo e de olhos e ouvidos abertos.

  1. Ter autoridade sobre os filhos

Vivemos hoje em uma crise de autoridade. Uma olhada rápida na situação dos professores e seus alunos mostrará isso claramente. Os pais devem ter autoridade sobre os filhos. Não devemos confundir autoridade com autoritarismo. Se a educação ao menino e no caminho, será possível mostrar aos filhos que os pais estão em uma posição de liderança, e , por conta disso, precisam ser respeitados como tal. Mas isso não acontecerá a partir da criança, e sim a partir dos pais que construirão isso na criança. Nesse processo, é fundamental que um parceiro não desautorize o outro na frente do seu filho. Uma família bem estruturada, gerará filhos e famílias bem estruturadas.

  1. Dar limites aos filhos.

Dar limites não significa prender. Dar limites significa mostrar para a criança que ela tem uma esfera de ação, mas que essa esfera não é tão ampla hoje, quanto poderá ser amanhã. Os pais que foram fortemente cerceados em seus limites e se sentiram constrangidos pelo autoritarismo de seus pais, tenderão a ser mais flexíveis com os filhos e, em muitos casos, flexíveis em extremo. O educador Içami Tima afirmou que: “”Um pai ou uma mãe que engole os próprios princípios e se cala a cada má criação dá um atestado de que não se respeita, e os filhos entendem isso como um sinal para que não o respeitem também.”

  1. Assumir os erros cometidos

Os pais ao se depararem com filhos que não correspondem às suas expectativas, tendem a colocar toda a culpa nos filhos. Na certeza de que ensinaram, acreditam que se os filhos erram a culpa é dos filhos. Precisamos perceber onde nós como pais erramos, retornarmos ao motivo que produziu em nossos filhos o erro do presente e sermos coerentes com aquilo que pregamos. Muitos pais acham que não precisam pedir perdão aos filhos. Nesse achismo, por vezes perpetuam uma situação de rebeldia familiar. Se os filhos erram, devem ser corrigidos. Mas se nós como pais erramos, precisamos cortar na própria carne e pedir perdão se necessário for.

Conclusão

Filhos precisam ser ensinados e disciplinados. Nossa tarefa é difícil, mas não deve ser delegada a outras pessoas, sob pena de gerarmos pessoas tão distantes de nós que não conseguiremos ensiná-los no caminho em que devem andar.

A juventude cristã e o serviço cristão – Uma reflexão sobre que tipo de evangelho temos visto e vivido.

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Mateus 25 31-46

O texto de Mateus 25 31-46 trata de acontecimentos futuros e faz parte do que é conhecido com literatura apocalíptica.

É um texto com diversas interpretações e, por conta disso, gerador de algumas confusões. A intenção aqui, não é em hipótese alguma criar uma expectativa de que todas as nossas dúvidas a respeito do texto sejam elucidadas, pois de fato, estamos muito distantes da originalidade do texto para ousarmos definir desta forma.

Há, porém, algo que o texto nos aponta e que mesmo com toda distancia de sua escrita, podemos lidar com certa clareza. Há algo no texto que é muito claro: um julgamento que produzirá uma separação entre dois grupos de pessoas.

Gostaria de destacar algumas expressões encontradas neste texto, e que acredito estejam relacionadas com aqueles que já foram salvos por Jesus Cristo.

  1. Tive fome;
  2. tive sede;
  3. era estrangeiro;
  4. estava nu;
  5. adoeci;
  6. estive na prisão.

É importante perceber também, que esse texto não se destina a quem não tem conhecimento da salvação, mas é um texto que aponta para a ação eficaz de quem já é salvo. Isso é fácil de perceber, pois para as atitudes relacionadas a cada carência descrita nessas seis expressões, há uma recompensa que é ser chamado de “bendito do pai” e ainda “possuir por herança o reino que está preparado desde a fundação do mundo”. As obras aqui não apontam para a salvação dos jutos, mas para uma recompensa para esses justos por terem as praticado.

Não observar o texto dessa forma, é criar uma margem para a interpretação de que é possível existir salvação a partir das obras. As boas ações são então, a evidência externa do que já aconteceu no interior. São as declarações públicas de uma salvação que se processou no pessoal.

Mas como eu anunciei no princípio, quero discorrer sobre as expressões que considero impactantes nesse texto.

  1. Tive fome

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Fome é algo que só quem vivenciou sabe de fato o que é. Quando passa da hora de atendermos ao nosso relógio biológico costumamos dizer: “estou morrendo de fome” De fato, quando isso acontece, não estamos morrendo.

Entretanto, há no mundo milhões de pessoas que morrem de fome e não é de forma figurada. Segundo a FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, em 2015, 795 milhões pessoas passam fome no mundo. Embora nas estatísticas da FAO o Brasil já tenha saído do mapa da fome a realidade brasileira em relação a fome é bem diferente. Vale a pena lembrar que o gestor da FAO é um brasileiro, alinhado com o poder vigente e que em nenhum momento mostraria a realidade dos fatos, sendo ele mesmo o gestor de um órgão que tem por função erradicar a fome do planeta. Saia nas grandes metrópoles, após o fim de um dia, e veja quantas pessoas estão revirando as latas de lixo e comendo os restos alimentares de quem teve como comprar a comida. Ninguém come do lixo por prazer, mas porque tem fome.

No norte e nordeste do país, entre 40% e 46% da população enfrenta problemas com a fome. Segundo a última pesquisa do IBGE(2013), mais de 7 milhões de brasileiros estão em insegurança alimentar grave, um termo técnico para fome. O norte e o nordeste brasileiro vivem uma catástrofe de fome que não deixa nada a desejar aos países africanos, como uma agravante: a áfrica está convulsionada em guerras civis, disputas étnicas e religiosa e o Brasil não.

Aliado a esta situação de fome, temos algo que é muito grave também que é o desperdício de alimentos. Cerca de 40 mil toneladas de alimentos são desperdiçados, o que daria para alimentar, segundo o EMBRAPA cerca de 19 milhões de brasileiros.

Qual será a nossa resposta a este quadro caótico? Continuaremos creditando a má política nacional, aos políticos corruptos todo esse quadro? Essa talvez seja a forma mais fácil de nos livrarmos do problema. Mas, quando o Cristo se referiu aos seus discípulos, que viviam num mundo caótico, perverso, opressor, tanto quanto o nosso ele os chamou de sal da terra, luz do mundo. Ele não entendia que os discípulos comissionariam outras pessoas para fazerem a diferença, mas que eles próprios seriam a diferença na terra. A igreja não foi chamada para eleger políticos que farão a diferença, mas para ser a diferença. A reposta é óbvia para não enxergarmos. Tive fome e destes-me de comer.

  1. Tive sede

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Toda vez que bebemos uma água potável, não levamos em consideração milhões de pessoas que não sabem o que é isso. Em março de 2015 estimou-se que cerca de 740 milhões de pessoas passam sede no mundo. Mesmo dos que tem acesso a água, nem todos a tem na forma que temos nos grandes centros. Há regiões próximas aos grandes centros onde ainda se paga por carros pipas, para se ter água e nem é preciso falar do nosso nordeste onde a escassez de água aflige a população, impedindo-a de plantar, comer, manter o gado saudável. Ficamos chocados com os reservatórios chegando aos já conhecidos volumes mortos. Mas cabe uma reflexão sobre essa preocupação. Será que nossa preocupação é com a sede, ou com o fato de que sem água, não teremos eletricidade abundante para fazer funcionar nossos mimos tecnológicos?

Nossos “lava a jato”, nossas “vassouras de água” nossas “máquinas de lavar” estão desperdiçando a água que muita gente gostaria de ter. Assim como a fome, somente quem já passou por privação de água pode compreender o que é ter sede. Um organismo é considerado em processo de desidratação quando perde 400 ml de liquido. Precisamos fazer uma reflexão sobre isso também.  É um dever ético da igreja pensar melhor a questão da água e da ausência de água. De que forma podemos contribuir para que a fome e a sede sejam aplacadas de fato e não somente através de estatísticas da nossa realidade brasileira? Se não somos nós que vamos dar um ponto final no problema, cruzar os braços nos faz parte desse mesmo problema. É claro demais para não sabermos o que fazer.Tive sede, e destes-me de beber.

  1. Era estrangeiro.

era estrangeiro

O Brasil é conhecido mundialmente por sua hospitalidade. Mas até que ponto isso é uma grande verdade? Temos cuidado de fato daqueles que são de culturas diferentes que a nossa? Temos cuidado bem daqueles que estão sendo inseridos em nossa realidade por diversos fatores alheios à sua própria vontade? Essas perguntas precisam ser respondias.

Na realidade, não o fazemos com tanta eficácia quanto parece para todo o restante do mundo. Nós sequer tratamos bem os estrangeiros da nossa própria localidade. Com um país de dimensões continentais, não é difícil ver como os estrangeiros de nós mesmos são mau tratados. Por vezes agimos muito parecidos com os Judeus que rejeitavam os Samaritanos. Se for do nordeste e tem um sotaque cantado, chamamos de Paraíba, negando-lhes sequer o direito da naturalidade paraibana. E quando assim o fazemos é por puro pré-conceito, nos achando melhor que eles. Uma manobra mal feita, e dizemos que é uma baihanagem. Se é negro, chamamos de preto e mais uma vez quando vemos algo que não é bem feito dizemos que é coisa de preto.

E não sejamos hipócritas, pois fazemos isso, nós que somos cristãos, a quem o texto sagrado adverte que Deus faz chover sobre justos e injustos. Nós somos classistas e achamos que os que são da nossa classe são melhores dos que os que não são. De novo repito, Deus nos chamou para sermos diferença neste mundo e não para sermos excludentes deste mundo. Era estrangeiro e me hospedastes-me.

  1. Estava nu

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A nudez nem sempre foi um problema para o ser humano. Antes do pecado, andávamos nu e disto não tínhamos a menor vergonha. Não nos envergonhávamos pois como não havíamos conhecido o pecado, nossos olhos não enxergavam como agora. Depois do pecado, porém, a nudez se tornou um problema. Estar nu é estar em condição de fragilidade.

Não ter o que vestir ou o que calçar é incomodo. Quando estamos nus estamos numa condição de revelar o que passamos boa parte da nossa vida escondendo. O pecado nos tirou da nudez, mas não para uma realidade agradável.

Nós estamos acostumado a nos vestir e para tanto procuramos manter nosso guarda roupa com o que podemos ter de melhor. Nele colocamos nossas roupas adequadas para o frio e o calor. Além das roupas, que nos acompanham no dia a dia, temos as roupas de cama. No tempo frio, nos aquecemos com nossos cobertores, edredons e tudo que a tecnologia contra o frio inventou para nos aquecer.

Entretanto, precisamos pensar naqueles que não tem a mesma oportunidade que nós. Quantas pessoas, no lugar de edredons, tem usado jornais como cobertores. No Brasil, cerca de 130 pessoas morrem de frio, enquanto nós estamos no aconchego de nossas casas. O mesmo Jesus que morreu por você, que dorme bem agasalhado durante o frio, morreu pelo mendigo que se veste de jornal, deita-se para dormir, e nem sempre acorda para ver a luz do sol no dia seguinte. Precisamos repensar nossa forma de ver os desvalidos da sociedade opressora e lembrar que nós estamos inseridos nessa sociedade. Se não fizermos nada contra, em outras palavras estaremos admitindo que somos tão opressores quanto essa sociedade. Estava nu e vestistes-me.

  1. Adoeci

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Nunca estamos preparados para lidar com a doença. Ela muda nosso cotidiano e interfere na nossa boa maneira de viver. Ter saúde é algo que almejamos o tempo todo. Quando estamos doentes e temos que enfrentar a rede pública de saúde, nos deparamos com situações que fogem a nossa compreensão. Hospitais lotados, pessoas atendas nos corredores, dor, desespero, medo da morte, são ingredientes para fragilizar ainda mais a pessoa que está doente. O que nós, como igreja podemos fazer?

Há pessoas nos hospitais que não tem familiares para visitá-las. Pior que isso, há pessoas que tem seus familiares, mas estes, nunca vão visitá-las. Dentro dos hospitais, elas convivem com indiferença de alguns profissionais de saúde que já se anestesiaram diante de um quadro tão caótico quanto é a saúde brasileira. O que nós, como discípulos de Jesus estamos fazendo para mudar esse quadro caótico.  Não podemos agir como médicos, mas podemos agir como canal de benção em lugares como esse. Podemos nos envolver com a capelania hospitalar e ajudar a essa pessoas que estão ali, muitas vezes dependendo somente de ouvir falar de Jesus para que aceitem a mensagem do evangelho. Muitos estão ali para crerem na salvação em Jesus, e partirem em paz desse mundo. Mas como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? Já parou para pensar nisso? Adoeci e visitastes-me.

  1. Estive na prisão

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A realidade das prisões no Brasil é terrível. A prisão de um infrator tem, ou pelo menos deveria ter um caráter correcional e de socialização. Mas essa é a realidade do papel, pois na prática é totalmente diferente.

A sociedade envia os delinquentes para as prisões para cumprirem penas que os transforma em pessoas piores do quando entraram. É um sistema criado para destruir e não para construir. Como igreja, temos falhado duplamente com os encarcerados. Primeiro, quando não fazemos a diferença no mundo, e deixamos que crianças e adolescentes sejam capturadas pelo tráfico de drogas para servirem de escudos de menor idade para os atos dos que já atingiram a maioridade penal. Me causa náuseas saber que boa parte da dita bancada evangélica no congresso nacional investiu pesadamente para a redução da maioridade penal, como se isso fosse de fato a solução para o problema social da criminalidade. Como se de fato, a criminalidade começasse e terminasse nas favelas. Esta é de fato, só uma das muitas artimanhas políticas para esconder de vez quem são os grandes criminosos dessa nação. Temos que ser igreja, diferença vital no mundo para impedir que os criminosos se tornem criminosos. E uma das armas que temos para isso é o ensino do evangelho.

Nosso segundo erro como igreja, é depois de não conseguir reverter o quadro, abandoná-los nas prisões. Estamos nos agrupando em multidões para fazer o que do que aprendemos do evangelho? Em 2014, foram contabilizadas cerca de 500 mil pessoas na marcha para Jesus no Rio de janeiro. Se dividíssemos este numero somente no complexo de Gericinó que conta com 27 unidades prisionais, teríamos em média 18 mil crentes para visitar cada unidade. Quantas pessoas precisam estar reunidas em nome de Jesus para que ele esteja presente? Estive na prisão e foste me ver.

 Conclusão

O texto de Efésios 2 8-10 fala da salvação pela graça. Normalmente nós cristãos sabemos de cor, mas o recitamos até o verso 9. Não enxergamos que o verso 10 completa o que vem antes e afirma que o mesmo que nos preparou para a salvação, nos preparou para a prática das boas obras.

Somos salvos pela graça. Nada do que podemos fazer pode mudar isso. Mas a nossa salvação nos impulsiona a servir. Como filhos de Deus, nosso papel é servir. Como discípulo de Jesus, nossa missão é servir. O texto de Paulo nos ensina que somos criados em Cristo Jesus para as boas obras. Não somos igreja por que fazemos boas obras, mas se somos igreja, a evidência natural disso é fazer boas obras. Não ouviremos um “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” porque fizemos boas obras, mas por que fomos salvos. E exatamente porque fomos salvos temos a missão de saciar a fome do faminto e a sede do sedento. Temos a missão de acolher bem ao estrangeiro, mesmo os que são da nossa própria terra. Temos que nos preocupar com os que não tem o que vestir. Temos que ser sensíveis à dor do que está doente e visitá-lo levando palavras de vida eterna. Temos que compreender que o encarcerado precisa da nossa visita para quem sabe ser livre da prisão, se não a da carne, já que está pagando por seu crime, mas a espiritual, pois para libertar dessa prisão, Jesus já deu o seu sangue, tanto por nós, quanto por eles.

Marcando a nossa geração

Tiba – Manhã

“Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” Mateus 5:13-16

“Gerações vêm e gerações vão, mas a terra permanece para sempre”. Eclesiastes 1.s 1-4

INTRODUÇÃO:

Quanto dura uma geração? Algumas pessoas se dão ao trabalho de fazer cálculos, estudos, teorias sobre quanto tempo dura uma geração. Independente do número de anos que seja uma geração, o mais importante é que devemos passar por uma geração deixando algum tipo de marca. Nossa geração pode ser daquela que produz marcas, sejam elas positivas ou não, e ainda pode ser daquela que não produz nada, e nesse sentido é pior que produzir marcas negativas. Devemos deixar nossas marcas na nossa geração. As marcas podem ser positivas ou negativas. Nós sempre vamos influenciar a sociedade em que vivemos. A percepção do escritor de Eclesiastes é terrível, pois ele percebe que os tempos se passavam e nada mudava. Tudo permanecia igual, nenhum vestígio de mudanças, positivas ou não foi deixado.  Quero falar de três formas de se passar por uma geração. Essas formas são em linhas gerais, entretanto, em algum aspecto nos enquadraremos em alguma delas.

I – A GERAÇÃO QUE PASSA E NÃO DEIXA MARCAS

É a geração dos anônimos; dos que passam despercebidos pela sociedade em que vivem; é a geração dos que não querem se comprometer e que preferem ser totalmente alienados de tudo e de todos. Para eles, tudo está bom, mas quando tudo está ruim, eles também não fazem absolutamente nada para mudar a situação. Não há luta, não há esforço, não hã incômodo; Preferem se acomodar a buscar novas experiências. Essa geração é individualista, fria e egoísta.

O resultado de uma geração como esta é que ela passará e ninguém se lembrará dela, por um simples motivo: não há fatos que sejam dignos de se trazer a lembrança.

Essa geração está na contramão do que Paulo dia em Romanos 12: 2. Precisamos estar inconformados com o que o mundo nos apresenta, renovando nossa mente, para que então experimentemos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Nosso papel não é de conformismo. Nós fomos chamados para deixar uma boa marca, uma boa impressão através de nossas atitudes.

II – A GERAÇÃO QUE PASSA E DEIXA MARCAS NEGATIVAS

É a geração que escolheu a pior forma de deixar marcas. Suas marcas causam vergonha, dor, medo, desespero em quem se lembra delas.  É uma geração de marcas que não medem suas conseqüências e simplesmente agem como se a única pessoa que existisse no mundo fosse ele próprio.

Eles se embriagam se drogam, matam, roubam, seqüestram, traficam, se corrompem, são desonestos… A marca dessa geração pode ser resumida em três palavras: miséria, dor e sofrimento. Se essa miséria, dor e sofrimento fossem somente para quem deixou marca, seria ruim, mas se torna maior ainda quando percebemos que elas atingem a uma coletividade.

De que forma vamos marcar nossa geração? É preciso que marquemos de forma positiva. Devemos evitar a todo custo ser motivos de lembranças de vergonha dor e medo. Para isso precisamos repensar de que forma estamos sendo construídos e se for preciso, sermos desconstruídos e feitos novamente.

III – A GERAÇÃO QUE PASSA E DEIXA MARCAS POSITIVAS.

É a geração dos que não se conformam com a mesmice. Estão insatisfeitos, de forma positiva, no desejo de que o que está ruim se transforme para o melhor. Quando há um erro, há uma reação a este erro. Quando percebe que algo é desagradável, não conseguem ficar inertes diante da situação, mas se transformam em agentes de mudanças. Tratam as coisas santas com zelo. Mesmo tendo medos e receios, eles partem para a luta franca e travada, pois sabem que não serão derrotados.

Há nessa geração uma busca total pela sabedoria, sonhando e planejando de forma a construírem o que seus sonhos descrevem. Essa geração cuida bem do tempo de modo que o tempo é visto como uma ferramenta de transformação. (Efésios 5: 15-16). Essa é uma geração comprometida e preocupada com sua própria geração.

Essa geração tem um propósito, uma meta, um alvo. Não lutam sem estratégias, pois sabem que para chegar ao final da carreira devem estar preparados. (1 Coríntios 9: 24-27). Devemos correr e lutar com alvos, às vezes com o sacrifício do corpo para não ser reprovado.

CONCLUSÃO

O que Deus quer é que deixemos marcas e boa impressão na nossa geração. Nós fomos chamados para influenciar. Somos sal ta terra e luz do mundo. Estamos sendo desafiados a não entender que nossa história já está escrita, mas a sermos agentes de mudanças na nossa sociedade.

O amor que resiste a tudo

29/05/2011 – Tiba  – Noite.

“Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado? Debaixo da macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu à luz. Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas. As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam.” Cantico dos canticos de Salomão.

Introdução

O mês de maio no meio evangélico, precisamente no meio Batista, trata sobre a familia. Além de ser esta uma realidade das nossas comunidades de fé, a sociedade também marca suas datas relacionadas a familia: Dia das mães, Dia Internacional das Familias, Dia Nacional da Adoção. No meio Batista, é comum que durante todos os domingos do mês se fale sobre assuntos relacionados à familia. Nesse mes ouvimos falar sobre Ação social e aprendemos que sempre há oportunidade de ajudar alguem. Aprendemos como a criação de um filho pode ser passada de gereção em geração. Aprendemos a como criar filhos do jeito de Deus. Aprendemos sobre a comunidação na familia e de como é perigoso a falta de comunicação e por fim aprendemos a como lidar com as Leis dos homens e a Lei de Deus no que se refere à criação dos filhos.

Escolhemos o último domingo do mês de maio para uma cerimônia que chamamos de “Renovação de votos matrimoniais”, e neste momento quero compartilhar sobre duas fases do amor: O amor no seu inicio, na sua formação e o Amadurecimento do amor.

1. Considerações sobre os escritos de Salomão

Há no antigo testamento um grupo de livros chamados de Sapienciais. Neste grupo estão inseridos três livros importantes: Provérbios, Eclesiastes e Cantico dos canticos. Se fizermos uma redução dos textos, vamos descobrir que os trê tratam da vida do ser Humano. Provérbios descreve orientações de conduta. Neles somos ensinados a como proceder diante de várias circunstâncias. Eclesiastes declara de forma clara que, não importa se está abaixo dos céus ou acima da terra, tudo é vaidade. E mesmo que se ponha em prática tudo que se pode aprender em Próverbios, o final é: tudo é vaidade. Cânticos dos Cânticos fala do relacionamento entre o amado e a amada. De seus encontros, de suas paixões, de seus desejos e de como saciar esses desejos.

Há duas divisões em Cânticos dos cânticos: a primeira parte (1-4) fala do início do amor e a segunda parte (5-8) fala do amadurecimento do amor. É sobre essas duas fases do amor que quero discorrer.

2. O amor apaixonado

O amor em seu início é o amor do tipo apaixonado, onde se vive com toda intensidade. Este tipo de amor não resiste ao tempo, não resiste  as circunstâncias adversas. Mesmo que seja um amor de aproximação e necessário ao seu tempo, ele precisa evoluir e atingir patamares mais seguros. O amor apaixonado não é o amor que tudo sofre, tudo espera, tudo suporta. Este amor deve durar o tempo que deve durar até que um amor consistente e seguro se estabeleça. E é exatamente aqui que temos um grande problema. Tanto homens quanto mulheres, em uma grande parte, acreditam firmemente que o que sentiam ou sentem por suas amadas/amados deve ser igual para o resto de suas vidas. Por mais frustrante que isso possa parecer, este amor apaixonado não durará para sempre. Se esse amor durar para sempre, será problemático, com todos os traumas, dores e dissabores que a paixão tem. Esse amor apaixonado tem prazo de validade e deve deixar de ser quando seu prazo termina.

Me impressiona como na literatura “evangélica” (as aspas aqui servem para dizer que de fato não são Evangélicas) e nas “canções evangélicas”  a palavra apaixonado ocorre como prova de um amor duradouro. Há várias definições para paixão, uma delas é “Perturbação ou movimento desordenado do ânimo”. De fato algumas reações do meio evangélico moderno são tal como a definição do dicionário. Atingem o ânimo de forma desordenada. Um sentimento assim não pode durar para a vida toda.

3. O amor amadurecido

A fase do amor amadurecido não é nem de longe uma fase sem problemas. Muitas vezes, por acharmos que os amor amadureceu, nos esquecemos que ele precisa ser cultivado, cativado e conquistado a cada dia. Há um valor que precisa ser considerado. O escritor do texto enfatiza que não há águas que apaguem, rios que afoguem ou dinheiro que se pague por este amor. Justamente por ser assim, em alguns momentos desconsideramos o que é básico para a sobrevivência desse amor. Nessa fase de consistência, o amor pode ser a grosso modo comparado ao que o Eterno sente pela humanidades. Muitas águas de pecados, rios de ingratidão, valores inigualáveis, são considerados pelo criador como nada, quando ele decide olhar para a humanidade e amar a mesma humanidade que lhe dá as costas. Esse amor é amadurecido, consistente e duradouro. Este amor é do tipo que resiste as mais difíceis situações. Quando Deus decide doar-se através da natureza humana de Jesus, seu único filho, seu maior valor, ele dá provas concretas de que seu amor por todos os homens é maior do que tudo que se possa imaginar.  Não é um amor exigente. Ele sequer exige que o homem aceite esse amor, mas o convida a aceitar. Não há imposições. Ele somente convida e aguarda que se aceite o convite.

4. Conclusão

Deixaremos de lado o amor apaixonado? De forma alguma. Ele tem sua função de gerar interesse, aproximação, desejo ardente de se estar junto. É preciso saber viver o amor amadurecido com todas as característica de um amor que resiste a tudo, sem contudo perder o que o amor apaixonado tem de bom para oferecer.

Retornando ao caminho da verdadeira adoração

13/02/2011 – Terceira Igreja Batista em Anchieta – Manhã

Texto: João 4: 19-26

19. Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta. 20. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. 21. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. 23. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. 24. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. 25. A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. 26. Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.

Introdução

06/06/2006 – Dia do louvor violento.

Parece um tanto quanto absurdo, mas esse dia de fato aconteceu. Um grupo de evangélicos alardeou pelos quatro cantos que esse dia deveria ser um dia diferente, onde um exército de adoradores se levantaria por toda a face da terra para que, através do louvor frustrassem as intenções do diabo. Nesse dia também, em três horários estrategicamente escolhidos, segundo esses evangélicos, Deus exigiria que três toques de shofares fossem ecoados por toda a terra a meia noite, as três horas e as seis horas da manhã,  em seus respectivos fuso horários. Sendo assim, milhares e milhares de shofares estariam sendo tocados trazendo assim alegria ao coração de Jesus. Triste ilusão pensar que as artimanhas de satanás podem ser frustradas com louvores, toques de trombetas, o que mais quisermos fazer. Em Mateus 4.4, encontrarmos Jesus, após ter orado e jejuado por quarenta dias e quarenta noites e, sendo tentado pelo diabo, vencendo o mesmo através da Palavra. “… Está escrito: nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus.”

    Qual é então, o caminho da verdadeira adoração? O que significa retornar ao caminho da verdadeira adoração?

    O caminho da verdadeira adoração passa pelo sofrimento

Uma das coisas que mais incomoda o ser humano é o desprezo. Queremos de alguma forma ser notados, ser amados, ser necessários a alguém ou alguma instituição. Por mais tímidos que nós sejamos, entrar e sair de um ambiente sem que ninguém sinta a nossa presença é no mínimo constrangedor. Pessoas mais suscetíveis em receber no seu emocional a tristeza do desprezo, podem entrar bem em um ambiente e sair muito mal dele, se perceber que foi desprezada de alguma forma. Algumas procurarão o pastor da igreja e desaguarão suas mágoas; outras procurarão um profissional de psicologia e através de um processo de cartase, purgar o sentimento que foi criado e outras simplesmente desaparecerão como se nunca tivesse existido.

Havia um profundo desprezo dos judeus para com os samaritanos e tentava-se justificar isso pelo fato de que os samaritanos terem se deixado influenciar e se misturar com povos de outras nações. Nesse orgulho religioso nacionalista, os judeus mantiveram-se afastados de seus próprios irmãos, samaritanos. Podemos imaginar o sofrimento que esse tipo de desprezo tenha causado tanto na esfera emocional, quanto na esfera espiritual daquele povo segregado na sua própria terra. Muitas vezes, somos levados por caminhos de sofrimento para conseguirmos enxergar o verdadeiro motivo da adoração a Deus. Outras vezes, somos levados a caminhos que desconhecemos para poder adorar. Isso aconteceu com Abraão, que tendo saído da sua terra, vai para uma terra que nem mesmo Deus havia dito onde era. Quem já se mudou, sabendo onde seria a nova casa, sabe de toda ansiedade que uma mudança de bairro, ou de cidade, ou de pais pode causar. Imagine mudar de lugar, sem saber qual o lugar para onde ir. Mesmo com todo esse desconforto, Abraão foi, e pode adorar ao Senhor naquela terra.

O caminho do sofrimento é um dos meios pelos quais, Deus tem nos ensinado a reconhecer o seu cuidado para conosco.

Não há aqui nenhuma conotação masoquista ou autopunitiva, ou ainda nenhuma idéia de se pagar algum preço, mas a certeza de que em meio a qualquer sofrimento, Deus jamais nos abandona, e mesmo que sejamos desprezados por todos, ele não nos desprezará

    O caminho da verdadeira adoração quebra preconceitos e valoriza o ser humano.

A atitude mais natural de Jesus seria de desprezar aquela mulher. Afinal de contas, Jesus era Judeu, e os judeus desprezavam os samaritanos. Ao ver a mulher chegando, ele simplesmente poderia se levantar e sair dali sem sequer dar conhecimento de que a havia visto. Provavelmente ela estava acostumada a este tipo de tratamento. Isto pode ser observado, quando, Ele tendo pedido água para beber, é retrucado por ela que diz “como, sendo tu judeu, pedes de beber Amim que sou MULHER SAMARITANA”. É interessante como o texto deixa duas coisas que mereciam o desprezo naquele tempo: ela era MULHER e ela era SAMARITANA. Na sociedade judaica a mulher era desprezada pelo simples fato de ser mulher. O desprezo era tanto, tendo sido necessário que Moisés legislasse a respeito da mulher que era desprezada e abandonada pelo marido – Mateus 19:8. Mesmo assim, a mulher não obteve seu espaço como pessoa, até que Jesus viesse a este mundo e resgatasse o valor da mulher. Mesmo assim, não é difícil encontrar em nossas próprias igrejas, uma sociedade machista que despreza a mulher, pelo simples fato dela ser mulher. Tal como a mulher que fora pega em flagrante adultério, e levada a julgamento sem a presença daquele que adulterou com ela, infelizmente ainda ouvimos em situações como essa que “ele, coitado, cometeu esse deslize porque não era bem cuidado por sua mulher”, mas quando o deslize acontece com ela, “é porque ela é uma desavergonhada”, isso pra não dizer outros adjetivos que, sem a menor clemência, são proferidos em situações como essa que descrevo.

Jesus, no entanto, não segue o senso comum daquele povo. No lugar de desprezo, se mostra dependente em certo sentido daquela a quem supostamente deveria desprezar. Toda carga de preconceitos exercidos sobre aquela mulher pelo fato de ser mulher e pelo fato de ser samaritana, passa por Jesus como se não existisse e Ele simplesmente pede para logo depois poder dar. “se conhecesses quem é que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias e ele te daria água viva”. Jesus quebra os preconceitos da raça pura, da religião pura, da adoração no lugar certo para convidá-la a verdadeira adoração e ainda termina dizendo “eu o sou (o messias) que falo contigo”.

    O caminho da verdadeira adoração ignora formas, moldes e lugares de adoração.

Estamos acostumados a pensar que adoração é aquilo que fazemos em nossas igrejas. Cantamos, erguemos os braços, movimentamos os corpos, batemos palmas e nos derramamos em lágrimas, acreditando sinceramente que isso é que move o coração de Deus. Depois disso, muitos sequer têm um mínimo de paciência, pra não dizer devoção de ouvir a palavra de Deus sendo pregada. Outros sairão das igrejas e viverão suas vidas cotidianas na mesma perspectiva vazia e sem sentido não tendo mudado em nada daquilo que era quando entrou na igreja. É preciso então, encontrar o verdadeiro caminho da adoração.

Para aquela mulher, o lugar da adoração era o monte Gerizim. Era isso que seus pais haviam ensinado. Provavelmente, tal como nós, ela também possuía uma forma específica para adorar a Deus. Tal como nós, ela tinha formas, moldes e lugares de adoração. Possivelmente ela tinha até seu posicionamento quanto as pessoas que adoravam diferente da forma dela. Nós também somos assim. Jesus então, numa atitude firme, mas sem querer ser exclusivista, mostra-lhe a verdade sobre a adoração: “os verdadeiros adoradores, adorarão o Pai em espírito e em verdade.” Adorar o Pai em espírito e em verdade, não passa pelas nossas formas, moldes e lugares de adoração, pois tudo isso é fruto da nossa religiosidade e não da nossa religião. Nossa religiosidade pra Deus é como esterco, ao passo que nossa religião é Cristo o seu filho amado. Adorar o Pai em espírito e em verdade leva-nos a romper com nossa existência e se preciso for morrermos em vida para que o Pai seja glorificado em nossas vidas, mortas para o pecado e vivas para Deus.  Quando adoramos o Pai em espírito e em verdade, sequer nos preocupamos, se os instrumentos estão afinados ou se o microfone está funcionando, pois quando retornamos ao caminho da verdadeira adoração, guitarras, baixos, baterias, teclados deixam de ser importantes e nós passamos a ser os instrumentos na adoração. Quando adoramos o Pai em espírito e em verdade, ainda que não saia som das nossas bocas, Ele, o Pai, receberá o nosso louvor, pois somente Ele pode interpretar tudo que queremos expressar em adoração antes que haja em nós palavras.

Uma igreja a beira do poço

13/02/2011 – Terceira Igreja Batista em Anchieta – Noite

Texto: João 4: 16-18

16. Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. 17. A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; 18. Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.

Introdução

Nunca se viu na história da igreja tanta aberração como temos visto agora. Hoje o nome evangélico se vulgarizou de tal forma que para algumas pessoas dizer que é evangélico soa tal como dizer que é católico. Pode-se dizer que existe hoje uma classe de evangélico a quem chamo de evangélico estatístico. Se alguém pergunta qual é a religião do individuo em um senso, ou em uma entrevista de emprego, ou em uma repartição pública, ou em qualquer outro lugar, ele não pensa duas vezes e diz: “sou evangélico”. É um evangélico nominal, mas não o é na sua pratica do evangelho e ser evangélico é efetivamente ter uma vida de prática dos conceitos do evangélico. Evangélicos desse tipo, estão a beira de um poço e provavelmente, quando ele menos esperar, cai nesse poço e corre risco de lá nunca mais sair, salvo se Deus estender sua mão de misericórdia.

Assim como a mulher samaritana a beira do poço apresentou sua história de multiplicidade de maridos, pois cinco maridos ela tivera e o que ela tinha no momento que encontrou Jesus não era dela, a igreja está à beira do poço, e presa a seis maridos que não são maridos verdadeiros.

Religiosidade

A religiosidade nos faz soberbos. Faz-nos pensar que somos o produto de nós mesmos e que somos auto-suficientes. O religioso é alguém que constrói sua idéia de Deus e dela não se separa, mesmo que seja para viver ao lado do verdadeiro Deus. O religioso se basta a si mesmo. Um religioso se contenta em ser somente ovelha e um pastor de religiosos, evidentemente, fica feliz em pastorear ovelhas e não pessoas. Há um número muito grande de pessoas contentes em vir a igreja, orar, ler a bíblia, cantar, seguir a liturgia do culto e depois irem para suas casas e dormirem tranqüilas com a sensação de dever cumprido. Para um religioso, alcançar o sagrado é alcançar a idéia de sagrado que ele mesmo formou pra si. Um exemplo clássico de religioso na bíblia é descrito em Mateus 19.16-22, onde o evangelista fala de um jovem rico, que guardava todos os mandamentos. Jesus então dizendo que só faltava uma coisa. Ele precisava deixar tudo e seguir a Jesus. Outro exemplo clássico de religiosidade é a mulher samaritana que declara “nossos pais adoravam neste monte…” Muitos têm servido a um deus de seus pais e não a um Deus pessoal. Meu relacionamento com Cristo não deve estar baseado nas tradições e nas práticas hereditárias que trazemos na nossa existência. Nosso relacionamento com Cristo deve estar baseado em vivencia diária, de comunhão e de entrega. Se eu perguntasse numa igreja, por qual motivo eles fecham os olhos e baixam suas cabeças na oração, provavelmente muitos diriam que foi assim que aprenderam. A religiosidade nos priva de, deixando tudo pra trás, seguirmos as pisadas do mestre. Os lugares que o mestre anda, não são lugares onde os religiosos andam e se quisermos segui-lo, não podemos ser religiosos. A religiosidade é um dos maridos falsos da igreja.

Tradicionalismo

O tradicionalismo talvez seja o irmão mais achegado da religiosidade. É possível que boa parte dos tradicionalistas sejam religiosos em suas essências. E quando eu digo tradicionalista é uma tentativa de diferenciá-los dos tradicionais. O tradicionalista não aceita mudanças. Está sempre preocupado em manter o padrão herdado de seus pais, avós, bisavós, etc. A frase preferida do tradicionalista é “sempre fizemos desta forma”. Seguimos a tradição por que não mudar é mais cômodo do que mudar. É mais cômodo levar uma vida do mesmo jeito, na nossa zona de conforto. Nas nossas igrejas, muitos não aceitaram ainda o HCC porque o hinário da sua salvação era o Cantor Cristão. Muitos se incomodam porque numa ordem de culto não se começa com uma oração, como se Deus para agir no meio da igreja precisasse seguir uma ordem de culto. Deus não age na igreja porque ela segue uma ordem de culto, mas age quando a igreja segue a ordem de Deus. Certa vez, um cristão evangelizando Gandhi, o pacifista indiano, ouviu dele a seguinte frase: “no seu Cristo eu creio, mas eu não consigo acreditar no seu cristianismo”. O tradicionalista consegue enxergar que a salvação está na igreja, quando na realidade a salvação está em Cristo Jesus.

Negação do Real

“Eu não aceito essa doença”. “Eu não aceito essa circunstância na minha vida.” Esse tipo de frase tem sido base de uma falsa teologia que tem encontrado lugar em muitas igrejas, sobretudo as neopentecostais, mas com alguma guarida em igrejas históricas. Algumas canções e algumas pregações ensinam isso, chocando-se frontalmente com o ensino de Jesus sobre as circunstancias: “no mundo tereis aflições, mas tende bom animo, eu venci o mundo”. Parece-me que alguns querem viver a vida como se fossem super-homens, isentos de quaisquer problemas, como se a conversão fosse um processo de embalagem a vácuo, onde não pudesse existir contaminação. Esquecem-se estes da poderosa declaração do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 4:16,17 “Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia.Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória;” Paulo na sua carta aos Romanos nos ensina que devemos nos gloriar não somente na esperança de vermos a glória de deus, mas devemos nos gloriar na tribulação, que produz a perseverança, que produz a experiência, que produz a esperança e esta não desaponta.

Determinação

Determinação é falsa teologia que ensina que podemos determinar a Deus, tudo aquilo que queremos que aconteça conosco. “Determine a sua benção” é normalmente a frase mais usada. Parece-me que esta forma de pensar vai totalmente de encontro ao que Jesus disse em Mateus 9.58 “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. Não seria este o caso de, sendo verdade a teologia da determinação de Jesus determinar e ensinar a determina casas grandes e mansões tanto para ele quanto para seus discípulos? O erro mais absurdo desta falsa teologia é fazer de Deus o seu mero escravo, quando na realidade ele é Senhor. Todas as determinações dos que adotam esse pensamento espúrio são relacionadas com coisas a ter ou a se conseguir. Ninguém há que tendo esse tipo de comportamento nas igrejas determine “quero ser mais humilde”, ou “quero ser mais honesto” ou quero ter mais intimidade com Deus”.Todas as determinações são fundamentadas em pensamentos egoístas que satisfaçam o próprio ser. Pregadores dessa teologia, manipulam textos bíblicos para justificarem seus pensamentos e muitos sequer dão o trabalho de manipular. Lêem um texto qualquer e falam o que vier a mente.

Confissão positiva

A confissão positiva é a cópia evangélica de um movimento chamado de movimento do pensamento positivo. Como cópia de um pensamento humanista já devia ser o suficiente para não fazer parte de nossas igrejas. A confissão positiva alega que não podemos pedir a Deu para cumprir a sua vontade. A Expressão “seja feita a sua vontade” é, segundo os positivistas, uma demonstração de fraqueza na fé. Devemos confessar positivamente que algo vai acontecer e acontecerá. Em última análise, a minha vontade e não a vontade de Deus é que faz a diferença. Eles distorcem trechos da palavra de Deus para dar base às suas bobagens teológicas, como por exemplo, dizer que Deus teve fé ao dizer “haja luz”, afirmando eles que precisamos ter a fé de Deus e não a fé em Deus. Outro texto muito usado é o texto de é o que conta a história da mulher que tinha um fluxo continuo de sangue. Os positivistas alegam que a mulher ao dizer “se somente eu tocar, ficarei curada” usou de uma confissão positiva, mas se analisarmos bem o texto que se encontra nos três evangelhos sinóticos, vamos perceber que Jesus diz que fora a fé daquela mulher que a salvou. A confissão positiva aniquila a soberania de Deus e enaltece o homem. A confissão positiva valoriza mais a palavra falada do que a própria palavra de Deus. A confissão positiva reduz a um simplismo barato a verdadeira mensagem da cruz, que é de negação de si mesmo, de renuncia, arrependimento.

Prosperidade

Em 2006 o IBGE fez uma pesquisa e chegou à conclusão de que os evangélicos brasileiros são os que mais contribuem com suas igrejas e que ainda que contribuam, continuam cada vez mais pobres. Bastava isso para que eu terminasse meu sermão e desse como totalmente equivocada a teologia da prosperidade. “Se você quer colher, tem que semear” é a frase preferida dos teólogos da prosperidade. Acontece que muitos semeiam e não colhem nada. Nesse caso essas pessoas são tidas como pessoas que não tiveram fé. Não conheço um representante da teologia da prosperidade que ensine que se queremos colher frutos de arrependimentos, temos que semear arrependimento. Tudo gira em torno do dinheiro e nada mais. A teologia da prosperidade valoriza o ter e não o ser. Nós fomos chamados para ser e não para ter “ser-me-eis testemunhas…” foram as palavras de Jesus. A teologia da prosperidade é idólatra e materialista, pois coloca os bens acima de tudo que Deus pode ser para o ser humano. “Aquele que tem é abençoado, o que não tem, deve estar em pecado” é outra máxima desta teologia fraudulenta. Há nas livrarias evangélicas uma série de livros que sustentam essa teologia e o melhor lugar para eles seriam as casas de artigos religiosos e em alguns casos, a lojas que vende material para cultos afro-brasileiros. Autores como T. L. Osborn, Oral Roberts, Morris Cerullo, Benny Hinn e tantos outros brasileiros que me abstenho de citar nomes por motivos éticos. Uma das melhores definições bíblicas para prosperidade é a que encontramos no salmo de número 1. Isaías no seu capitulo 53.10 afirma que o bom prazer do Senhor prosperará após ele, o Senhor ter sido moído, enfermo e feito expiação pelos pecados.

Finalizando

Tal como aquela mulher a beira do poço que tinha seis maridos que não eram verdadeiros, a igreja moderna está a beira do poço, casada com pelo menos esses seis conceitos que não são verdadeiros. O que Jesus, o verdadeiro esposo espera é que a igreja reconheça-o como o único e viva sob os seus conceitos.

Como bom esposo, ele não espera que a igreja seja religiosa, mas espera que a igreja o tenha como única religião.

Ele deseja que saiamos do nosso tradicionalismo e vivamos uma vida de liberdade com ele.

Jesus espera que aceitemos a realidade das nossas vidas, seja essa realidade boa ou ruim, sabendo que sejam quais forem as circunstancias, ele estará conosco.

O mestre sabe que a nossa vontade, por melhor que pareça ser não é a vontade dele que sempre será melhor.

Jesus espera que a única confissão que saia de nossas bocas é que ele é Rei dos reis e Senhor dos Senhores

E por último, Ele quer que saibamos que seremos prósperos, não a medida da nossa conta bancária, mas a medida da nossa intimidade com ele. Seremos prósperos na medida em que, quando não tivermos nem o que falar, Ele de tão intimo e amoroso para conosco entenderá e nos dará tudo que o que nós precisarmos para viver bem com ele.