Freud, Além da Alma: Reflexões sobre a contribuição do filme na formação teológica.

1 – Introdução

    O presente trabalho trata-se da identificação no conteúdo do filme “Freud Além da Alma”, exibido em sala de aula, da matéria Introdução à Psicologia, e tem por objetivo fazer Reflexões sobre a contribuição do filme na formação teológica.

    A metodologia utilizada foi a de análise do referido filme, anotação de dados principais que ajudaram na composição do presente trabalho aliados a minha vivência no contexto da igreja local, atuando em áreas de liderança da igreja. As dificuldades encontradas no presente trabalho devem-se ao fato de toda a história do filme ter se passado em uma época distanciada da realidade atual no que se refere ao tempo e ao ambiente de outro continente e pais. Evidentemente as percepções encontradas no presente trabalho não esgotarão de maneira alguma todas as nuances passíveis de serem encontradas no filme assim como na história a cerca da Psicologia, de Freud, da Psicanálise e da formação de um Teólogo.

 2 – A observação

    No que ser refere à observação dos fatos ocorridos, o que pode ser visto no filme “Freud: além da alma” é que há um interesse muito grande por parte de Freud por entender o que se passa no cotidiano das pessoas, e somente a partir dessa leitura do cotidiano, traçar uma forma de solucionar as dificuldades geradas na vida das pessoas que estão relacionadas com ele.

    Esta observação é sempre de forma a tentar entender a pessoa como ela é sem enquadrar a pessoa em algum estereótipo. A observação é feita a partir das experiências da própria pessoa, de forma que os resultados da observação relacionam-se com esta experiência. Sempre que possível, a experiência da pessoa, seja ela positiva ou negativa, é o motor para a observação e para a análise por parte de Freud, fazendo com que ele perceba a pessoa como ela é em sua essência.

    Os traumas psicológicos são tratados do ponto de vista da pessoa traumatizada, e independente de quais sejam os motivos, Freud procura buscar nos traumas a solução para os problemas de quem passou por eles.

    A postura de Freud é de alguém que observa, analisa, questiona, teoriza e finalmente trata o traumatizado, sem questionar se o que ele passa é certo ou errado, positivo ou negativo, relacionando o que se observa com as pessoas observadas e o contexto social desta pessoa. Isto sinaliza para o fato de que a formação Teológica deve encarar e vivenciar estes caminhos. Despindo-se de conceitos pré-estabelecidos, abandonando alguns dogmas, mais precisamente os mais modernos, o Teólogo deve encarar o ser humano com todas as suas complexidades e particularidades. Tal como Freud enxergava, o Teólogo deve enxergar além do que está patente aos olhos. Ele deve tentar rebuscar no interior da pessoa os elementos necessários para que se processe a melhora dessa pessoa, seja no nível físico ou no nível espiritual.

    Qualquer tentativa do Teólogo de olhar para uma pessoa e já expressar julgamento a respeito do que ela passa, sem que uma observação acurada seja realizada, poderá induzi-lo a encontrar posicionamentos onde a primeira impressão é: “os problema não é tão grande quanto se apresenta.” É preciso que o Teólogo entenda que a complexidade de um problema é real para quem vive o problema, mesmo para outras pessoas seja de fácil solução.

    Há um posicionamento de Freud em querer pesquisar profundamente todas as situações que envolvem a pessoa em seus problemas, investindo tempo para a percepção da pessoa em sua totalidade, analisando os fatos presentes e pesquisando no passado da pessoa algo que possa ter contribuído para o seu estado atual. É um trabalho meticuloso, detalhista, onde o esforço para se alcançar resultados se torna em muitos momentos maior que sua necessidade se afirmar como cientista pesquisador. Neste ponto de vista, podemos entender o Teólogo como aquele que está disposto a experienciar, pesquisar, desvendar, elucidar todos os tipos de dúvidas sejam elas existentes num grupo de pessoas ou até mesmo em uma pessoa isolada, tirando-os da escuridão da ignorância e colocando-as em posição do saber e da iluminação.

 3 – Aplicabilidades da observação em sua própria vida

    Freud começa a observar seus pacientes e os pacientes do Dr. Breuer, mas em dado momento ele percebe que o que o faz observar seus pacientes é também o motor da sua auto-observação. Da análise dos dados coletados em seus pacientes, Freud se auto-examina, se auto-observa, se auto-determina como pessoa com doenças de fundo psicológico e por fim se auto-trata e cura. Nessa perspectiva, podemos entender que o Teólogo precisa ser atingido por aquilo que é fonte de suas observações. Não basta somente observar pessoas e lidar com elas de modo que elas sejam alcançadas, é preciso que ele próprio seja alcançado por seus próprios ensinamentos e métodos, de forma que o que ele possa passar aos outros tenha primeiro um efeito nele mesmo como pessoa.

    Ao se defrontar com a própria incapacidade de solucionar alguns problemas, Freud se vê na necessidade de reflexão acerca deles e percebe a necessidade de teorizar sobre sua própria experiência. Ao teorizar sobre sua própria experiência, Freud consegue entender melhor a experiência de outras pessoas, pois consegue ter parâmetros de comparação entre o que viveu e o que a outra pessoa viveu ou vive. Nesse processo de troca de experiência, ele encontra parâmetros para definir causas de problemas relacionados com sua mente que antes estavam encobertos. A descoberta da causa desses problemas passa a ser fundamental para que os mesmos sejam solucionados, e a partir do momento em que ele consegue trazer pra sua realidade esses parâmetros, ele consegue entender melhor o que acontece com seus pacientes. Os instrumentos teóricos que o Teólogo adquire na sua formação teológica serão de grande valia, entretanto, os efeitos mais contundentes se darão na medida em que ele possa aplicar essas ferramentas na percepção da sua própria natureza, problemas, conflitos, enfim, no seu próprio ser. Foi da observação da sua própria vida, seu relacionamento afetivo com a mãe em contraposição ao relacionamento repulsivo do pai, que ele conseguiu teorizar acerca do complexo de Édipo e isso não teria acontecido com tanta eficácia se ele não tivesse a oportunidade da aplicabilidade em sua própria vida. Como Freud, o Teólogo deve sair do momento do crer por crer e passar ao um momento em que esse crer é reflexo da vivência do que se é crido e buscado entender.

 4 – Enfrentamento do antagonismo 

    Na sua caminhada cientifica, Freud encontrou diversos obstáculos desde seu mentor na instituição médica, seus pares de profissão e até mesmo seu mentor na hipnose. Há um momento em que ele se vê completamente sozinho, tendo que enfrentar todas as contrariedades acerca daquilo que ele acreditava ser a verdade para suas indagações a cerca do ser humano. Quando ele tem definido sua Teoria, ele se vê impelido por sua convicção a demonstrar diante de uma platéia tudo aquilo que ele vivenciou e teorizou. O enfrentamento na perspectiva de Freud era quase que uma luta sem chance de vitória, tendo em vista que nem mesmo seu amigo mais próximo, Breuer acreditava como ele acreditava. Mesmo assim, ele reúne argumentos e forças para colocar à mostra todo seu trabalho de campo, pesquisa, vivência, diante dos médicos e professores, de forma que o que importava pra ele não era receber louros de vitória, mas simplesmente contribuir para que, através de seus estudos fosse possível tratar do ser humano de forma a que suas dores, frustrações, psicoses fossem eliminadas.

    O enfrentamento com aqueles que não criam na sua teoria, poderia causar um afastamento de todos e a perda poderia ser tão grande a ponto dele ser levado ao ostracismo e ser relegado a um plano inferior no rol de pesquisadores. O Teólogo é aquele que, tendo recebido ferramentas em sua formação, fará dessas ferramentas um meio racional para defender suas idéias. Sua determinação em defender idéias concretas e sensatas deverá ser maior do que o receio de ser lançado no esquecimento pela comunidade de fé e até mesmo pela comunidade acadêmica. A defesa de sua fé, não será somente defesa da fé por fé, sem explicação, mas será uma defesa com bases concretas, mostrando de forma organizada e experimentada o que define sua fé, qual a dimensão, e os porquês dela. A fé há de ser questionada e até mesmo antagonizada e criticada, sem, contudo fazer com que o Teólogo se intimide nos momentos em que for preciso argumentar a favor dela. É possível que até os mais íntimos do Teólogo apresentem momentos de descrença e de julgamento sobre o que o Teólogo fala e pensa, mas é preciso que o Teólogo entenda que uma vez criado um pensamento e, tendo esse pensamento base consistente, os mesmo deve ser defendido até o fim

 5 – Conclusão

    Muito se tem que aprender com os conceitos de Freud que se aplicariam totalmente a formação Teológica. Seus conceitos e sua luta para explicar seus conceitos podem fazer com que o teólogo veja que, apesar de todo antagonismo diante de determinadas posturas, sobretudo as bibliocentricas, a demanda e esforço para compreensão e para pratica da defesa será necessária, mesmo que, em muitos casos possa ser custoso, porém nunca infrutífero.

 6 – referências

    Freud (Freud, além da alma, no Brasil), filme norte-americano de 1962 dirigido por John Huston, com trilha sonora de Jerry Goldsmith, exibido em sala de aula do seminário Teológico Batista de Duque de Caxias.

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