Livros Sapienciais e Poéticos – Resumo e Crítica.

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Resumo

O termo sábio, tal como o conhecemos, não descreve em um melhor sentido os sábios encontrados no texto bíblico. Os sábios não são pessoas retraídas, absortas em sua ciência e que se afastam das preocupações diárias, antes, são pessoas que fazem parte de um grupo que vai desde o educador até o filosofo e teólogo, sendo dessa forma, parte de uma elite do conhecimento, mas também é composto de pessoas simples,  detentoras de uma sabedoria popular, produto da observação e experiencias vividas ao longo de anos.

O que o sábio discute passa por temas como a origem e a natureza da sabedoria, o problema do mal, o sentido da existência humana, mas também trata de níveis mais simples e quotidianos, como a educação de filhos, amizade, orgulho, formas de governo, domínio próprio, uso do dinheiro. A resposta a todos esses problemas, não é encontrada em busca em arquivos e bibliotecas, mas em uma busca experiencia humana geral, iluminada em muitos casos pela fé. O sábio não diz “oráculo do Senhor”, mas contenta-se com um simples “filho meu, preste a atenção…”

A experiencia de séculos se fundem na pessoa e na missão do sábio de Israel. O conhecimento não está isolado na própria época e cultura, mas é construído também através do contato com povos vizinhos. Mesmo tenha sido construído dessa forma, foi-se impondo com toda evidencia que “toda sabedoria vem do Senhor”, contudo, o fato da sabedoria vir do Senhor, não implica em anular a personalidade de cada autor sapiencial. Por conta disso, vamos encontrar vários estilos de personagens, de ancião sensato e modesto até o ancião desencantado com a vida; otimistas e pessimistas, serenos e apaixonados, refinados e de escassa cultura.

Mesmo antes de Israel existir como povo, a sabedoria já era um fenômeno comum no oriente. Egito, Mesopotâmia e Síria, possuíam vasto material sapiencial. Alguns escritos sapienciais da bíblia, recolhe alguns desses testemunhos de outros povos, citando, inclusive suas fontes. Muitos textos compilados no Livro de Provérbios, são conceitos que eram propagados no âmbito das famílias e clãs. Ensinamentos simples sobre amizade, educação dos filhos, hospitalidades e outros temas, foram inseridos em Provérbios a partir do conhecimento difundido entre o povo, não perdendo seu valor como palavra de Deus.

Um enfoque pouco percebido ao leitor moderno é o fato de que foram inculcados princípios de conduta através de personagens históricos ou fictícios, que colocados em situações instrutivas trouxeram, por suas experiencias ensinamentos ao povo. Dessa forma percebemos que a literatura sapiencial em Israel não se limita aos cinclo livros chamados sapienciais, mas aparece também nos livros narrativos e proféticos, além dos salmos.

Houve um período de crise nos séculos V-III e nesta época foram produzidos duas obras de grande importância para o movimento sapiencial: O livro de Jó e o livro do Eclesiastes. A diferença desses dois escritos em relação aos outros que são otimistas em sua essência é que faz com que exista esse momento de crise da sabedoria. O inicio dessa crise talvez tenha antecedentes na pergunta de Jeremias, quando questiona a prosperidade dos impios e a paz dos traidores. A crise sapiencial é uma crise da ideia de Deus. Anteriormente, este Deus era um elemento que servia para corrigir e explicar, sem que existisse experiencias pessoais, a partir de Jó, o conhecimento de Deus deixa de ser superficial – “antes eu te conhecia de ouvir falar”, para um conhecimento mais profundo – “agora meus olhos te veem”. Para o Eclesiastes, a crise começa não a partir da dor, mas do fastio. Ele busca a sabedoria, percebe que essa busca é loucura e tolice e começa a experiencia do prazer, da alegria, da frivolidade e da riqueza. Ele duvida de tudo, da justiça, da capacidade dos governantes, do esforço humano, do ensinamento tradicional, da reta ordem do mundo. Somente a realidade da morte é que elimina de maneira absoluta qualquer sentido da vida. O Eclesiástico e Sabedora, livros admitidos somente pelos católicos, formam a etapa final dos livros sapienciais.

Critica

O texto é claro e de fácil leitura, o que propicia um entendimento rápido e a percepção dos objetivos do autor.

            A forma como o autor apresenta o livro de Jó é extremamente atraente, fazendo com que a leitura flua com a naturalidade de quem lê uma entrevista em uma revista de grande circulação. É interessante perceber que ao contrário como se ensina sempre nas nossas comunidades de fé, a personagem Jó está muito mais para um justo rebelde do que para um justo paciente. Este mesmo Jó paciente não exista sem ser sarcástico, rebelde, blasfemo quando perde tudo.

            O autor também mostra com grande maestria que uma atitude puramente religiosa pode levar a uma série de ideias errôneas sobre Deus. Essa atitude pode produzir uma teologia extremamente frágil.

            A construção em Jó, de um personagem chamado satanás, sem a visão cristianizada, leva a pensar se esse personagem tem mesmo todo o poder, ou quase todo, como se é apregoado em muitas comunidades de fé. Por ser colocado como um elemento da corte celestial, é perceptível sua limitação como alguém que tem acesso ao Eterno, mas depende totalmente dele para tomar quaisquer decisões. Qualquer visão diferente dessa, descrita em Jó, empobrece totalmente uma das mensagens principais do livo: Do Eterno dependem todas as coisas e tudo está sob o seu controle.

            Outro fato interessante é a explicação que o autor, na pessoa da personagem Jó, emite sobre a composição da narrativa bíblica. A estrutura principal do texto teria sido escrita por quem escreveu Jó, mas isso não significa que não tenham existido interferências externas e acréscimos ao texto original, na tentativa de se contribuir para a construção final da narrativa.

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