Por acreditarem que Jesus voltaria logo, os primeiros discípulos não se preocuparam em sistematizar ou relatar suas experiências como comunidades de fé. Mesmo que o tempo se passasse e a volta de Jesus não se concretizasse, no pensamento dos primeiros cristãos ainda existia, ainda que distante, a perspectiva de uma volta repentina. Os textos existentes e consultados pelos primeiros cristãos faziam parte dos mesmos textos utilizados pelos judeus, com uma lente analógica que se baseava na experiência que eles tinham com o Cristo, ou com aquilo que receberam daqueles que tiverem experiências com ele. Quando a demora do regresso de Jesus é acentuada e percebida como realidade, começa-se a produzir escritos que serviriam para expor e defender a nova fé nas comunidades. Este número grande de relatos, depois de depurados, deixando de lado os que eram duvidosos, juntou-se aos já conhecidos pela religião Judaica, formando posteriormente o cânon das escrituras sagradas.Do ponto de vista da missão de anunciar os ensinos de Jesus, a demora de seu retorno propiciou a oportunidade de aumentar o espaço destinado a esta missão, tendo em vista que se Ele ainda não regressara, haveria espaço para se pregar seus ensinos. Esta missão alongada acaba por estabelecer também um confronto mais sério e profundo com outras culturas.A problemática que surge então é que para defender suas idéias, os cristãos assumem uma posição defensiva, caso sintam que suas convicções estão sendo atacadas por outras culturas e religiões. Nesse sentindo, ao anunciar o evangelho, as primeiras comunidades cristãs, entendiam que a prática adequada para se receber a salvação passava pela repetição de textos, leis, rituais, acreditando que os elementos dessa salvação já estavam definidos, vindo essencialmente do além.
Entendendo que “guardar o depósito” consistia basicamente nessas ações, os primeiros cristãos vivenciavam a presença de Deus através da sua Palavra, em seus Sacramentos e na Autoridade exercida em seu nome. Esse posicionamento animou os primeiros cristãos a serem fiéis de forma inteligente, e a prática quanto ao ritual, promovendo uma audácia missionária fazendo com que o evangelho fosse anunciado com arrojo.
Em relação a outras religiões, entretanto, ao assumir uma atitude defensiva de suas crenças quando atacadas por práticas diferentes, os cristãos acabavam por ignorar e por vezes destruir as culturas que são alheias ou opostas à mensagem e eventualmente substituir essas culturas por outra considerada como fruto do cristianismo. Anunciar que só Jesus Cristo salva e ponto final, empobrece a mensagem da salvação, tendo em vista que os que precisam ser salvos possuem carências definidas que precisam de uma resposta mais ampla. Muitos precisam ser salvos da fome, da miséria, da ignorância e da nossa percepção do que é certo e errado.
Há uma verdade que se deve perceber: ao evangelizar, os cristãos promovem uma mudança e nessa mudança é capaz, ou deveria ser capaz de fazer intercâmbios entre as religiões e outros saberes, a fim de que tanto o cristianismo quanto as outras religiões e saberes pudesse receber informações importantes a ambos os contextos. Essa possibilidade, entretanto, não tem se mostrado real.
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