Pensando sobre as definições do que é ser igreja, as conclusões não são muito boas.
Lugar de santidade, lugar de perfeitos, lugar de comunidade, lugar saudável. As definições são boas, a realidade, nem tanto.
Já houve um tempo no Brazil (com Z mesmo, pois já faz muito tempo), em que a igreja desfrutava de certo prestígio na sociedade. De alguns anos para cá, essa realidade mudou sensivelmente.
Para ficar em um exemplo bem simplório, eu já ouvi a frase “não diga palavrão perto do fulano, pois ele é crente” ou uma variação onde se ouvia “respeite o fulano, pois ele é da igreja”.
Hoje o fulano continua crente e da igreja, mas por conta de tantos outros fulanos que foram vistos fazendo o que “fulanos” não deveriam fazer ninguém mais tem esse tipo de cuidado.
Esse é o lado bom da história. O lado em que a sociedade enxergou o que é e sempre foi obvio: a igreja é feita por humanos. Humanos erram.
O que há de ruim, é que por muito tempo, a igreja, na pessoa de alguns fulanos, se colocou como bastião da moral. Ser a reserva moral do mundo não é, de fato, uma coisa ruim. O que é muito ruim, e isso aconteceu com a igreja por causa dos fulanos, é bater no peito dizendo que é, sem a menor condição de cumprir com o que foi dito.
Nesse sentido, os fulanos criaram um padrão de santidade, perfeição, certo e errado que não é possível de se alcançar e é certo que não são os fulanos-criadores que conseguem alcançar aquilo que propõem aos fulanos-oprimidos. De fato, o padrão criado pelos fulanos-opressores, é, em grande maioria, criado a partir daquilo que não conseguem fazer.
Esse modelo de igreja-opressão, nunca foi pensado a partir da ideia de Reino de Deus, propagada por Jesus.
O que se faz hoje é criar uma atmosfera, onde todos se sintam tão culpados e vigiados que não consigam viver a liberdade propagada por Jesus, quando falou sobre a verdade.
A contrapartida dos fulanos-oprimidos é fazer de conta de que seguem as diretrizes dos fulanos-opressores. Fazem isso, em grande maioria, por um instinto de sobrevivência, sem o qual, seriam o tempo todo julgados e incriminados pela instituição-igreja, pagando na vida a culpa criada pelos opressores.
A busca da perfeição deixa de ser alvo para ser imposição. E se a perfeição, não a bíblica, mas a proposta pelos opressores não é atingida,
Os que criam os padrões de perfeição se apressam a apontar o dedo acusador, quando alguém não atinge a perfeição imposta, mas não se permitem ser condenados nas suas próprias podridões, chamando para si o título de Ungido do Senhor, que não pode ser tocado.
“Hipocrisia” é a expressão para esse tipo de gente. Do passado, mas não ultrapassada, a expressão é “sepulcro caiado”, limpo por fora, podre por dentro.
Com essa cultura da busca pelo perfeito, cria-se uma atmosfera onde é preciso aterrorizar o ser humano, para que se possa depois dominá-lo.
Isso começa cedo. Primeiro começamos a cantar para as crianças:
“Boi, boi, boi, boi da cara preta
pega essa criança que tem medo de careta”
O próximo passo na formação do medo dominador é cantar para essa mesma criança:
“Cuidado olhinho o que vê, cuidado boquinha o que fala,
cuidado mãozinha o que pega, cuidado pezinho onde pisa,
O salvador do céu está olhando pra você.”
A história de medo terror, tem acréscimos futuros de soberba e a criança, que já não suja as fraldas, mas mancha o cristianismo com as defecações verbais, começa a cantar o canto de medo e soberba:
“Quem te viu passar na prova e não te ajudou, quando ver você na benção, vão se arrepender
Vai estar entre a platéia e você no palco, vai olhar e ver Jesus brilhando em você”
E depois queremos falar da “pensadora contemporânea” Valeska Popozuda quando canta:
“Desejo a todas inimigas vida longa pra que elas vejam a cada dia mais nossa vitória
bateu de frente é só tiro, porrada e bomba aqui, dois papos não se cria e nem faz história
acredito em Deus, faço Ele de escudo, late mais alto que daqui eu não te escuto
do camarote, quase não dá pra te ver, tá rachando a cara, tá querendo aparecer”
Já que falei do que dizem ser música, melhor olhar para isso tudo e cantar:
Me cansei de lero-lero dá licença, mas eu vou sair do sério
quero mais saúde, me cansei de escutar opiniões, de como ter um mundo melhor,
mas ninguém sai de cima, nesse chove-não-molha, eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim.
Como vai? Tudo bem? Apesar, contudo, todavia, mas, porém as águas vão rolar, não vou chorar,
se por acaso morrer do coração é sinal que amei demais
Mas enquanto estou vivo e cheio de (da) graça Talvez ainda faça um monte de gente feliz
Me cansei do “lero-lero” de dizer que temos que ser santo porque Deus é santo. Não há um erro em buscar a santidade. Mas a busca dessa santidade nunca passou pelos padrões criados pelos fulanos-opressores, do tipo: não toques, não proves, não manuseies. Aqueles que de fato foram alcançado pelo evangelho, estando mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, não se deixam ser dominados por ordenanças, como se vivessem no mundo.
Depois de tanto tempo e de tanta observação, o que eu sinto é um cansaço, mesmo que não seja físico. Um cansaço que por vezes me faz questionar o que o cristianismo será no futuro e como a igreja será vista pela sociedade.
Estou cansado desse pseudo-cristianismo que tira a culpa da cruz e insere a culpa na vida.
1 comentário
Exelente reflexāo sobre o assunto.
Infelismente devemos isso ao processo de secularizaçao da igreja diante do forte movimento que a humanidade esta fazendo de globalizar as relações. Tempo esse de relaçœs “fit” que ao menos as vivemos de forma frontal, no entanto, vamos indo tateando os raquiticos perfis que ainda restam de nossas relaçœs cristās.
Um dia creio eu que esta “perfialidade” das relaçœs serà restaurada, e ai seremos de fato corpo integral de Cristo.