O presente trabalho trata-se da observação no texto de livro “O futuro da humanidade” de Augusto Cury, de três aspectos que podem auxiliar na formação de um líder religioso. Há muito que se falar sobre o papel da liderança religiosa, e, mais precisamente da liderança religiosa no contexto evangélico, não tendo este trabalho o intuito de esgotar todo o assunto. A metodologia utilizada foi a de pesquisa no texto do referido livro aliado a minha própria vivencia no contexto da igreja local. As dificuldades encontradas no trabalho referem-se ao contexto do ser humano com todas as suas características particulares e singulares.
2 – Primeiro aspecto: o homem como revelador de si mesmo.
O interesse do aluno na sala de anatomia em desvendar a história anterior dos Cadáveres que estavam prestes a ser dissecados mostra-nos a necessidade que temos em entender o ser humano como ele é. Perceber cada ser humano com sua história própria, suas dores, seus sonhos, seus temores, sua essência, é algo que a liderança religiosa deve por em prática. A percepção da vida do homem, no contexto do ambiente religioso, muitas vezes é colocada em segundo plano. Boa parte da liderança religiosa se contenta em ensinar o novo participante do grupo religioso a conviver neste grupo, deixando de lado toda a história pregressa deste novo participante de lado e não se interessando por quase nenhum aspecto de sua vida. As experiências anteriores podem determinar o modo como o novo participante do grupo religioso assumirá sua vida em grupo. Se antes, ele sofreu traumas que estão relacionados com a sua área emocional, é possível que levante algumas barreiras, no intuito de que esses traumas não sejam revelados e vivenciados novamente. Por vezes, esses traumas, por não serem totalmente tratados a fim de que deixem de ser objeto da dor e do desconforto, e se tornem parte saudável da vivencia do homem, são novamente evocada nas reuniões fazendo com que todo processo de sofrimento possa ser desencadeado. No contexto evangélico, é possível que a ignorância por parte da liderança de traumas dessa magnitude, possa conduzir a liturgia, cânticos, sermões em que se toque em assuntos que os liderados prefiram deixar de lado, para que não se viva a experiência traumática. É o homem que de fato se revelará, mas caberá ao líder religioso o interesse em perscrutar com todo cuidado a fim de não ser invasivo, e entender as razões para o modo de ser de cada liderado. É preciso que o líder, diante das experiências traumáticas dos liderados, não se atenha aos jargões existentes, tais como: “isso é coisa do passado”, “o que passou, passou”, “o Senhor fez nova todas as coisas” ou qualquer coisa desse nível. É importante que o líder seja sensível a ponto de perceber que o resgate de uma vida em ruínas pode exigir um trabalho árduo no sentido de trazer dessas ruínas o desejo de viver. É preciso ainda, aprender e apreender com essas experiências que no passado causaram dores, de modo que elas sirvam de parâmetros para o auxilio de outras pessoas.
3 – Segundo aspecto: quebrar preconceitos
A postura tanto do Poeta da Vida, quanto de Falcão de não se importar com os padrões estabelecidos, fazendo de suas dores o motor para a superação delas próprias e sem se importar se em meio a discursos para um público muitas vezes inexistente, abraços em árvores, conversas com Divindades, a leitura que se faziam deles era de total loucura e demência, nos leva a pensar até que ponto o padrão estabelecido por algumas lideranças, padrões esses muitas vezes adquiridos de contextos antagônicos ao contexto da igreja evangélica brasileira, servem para fazer com que os liderados cresçam e tenham suas vidas estabelecidas de forma saudável e consistente. Todavia, é mais fácil seguir uma tendência do que quebrar com o padrão estabelecido e despir-se do preconceito em favor daqueles que realmente precisam de solidariedade, encorajamento e solução. Repensar o modo de liderar é por vezes custoso. É preciso por vezes, estar próximo do viver de um mendigo para entender a vida de um mendigo. É preciso sentir dores, para entender o que é sentir dor. Esta realidade, entretanto, é desprezada, não obstante ser a realidade encarada por Jesus Cristo, homem experimentado em dores. É mais fácil não vivenciar essas coisas, mantendo os liderados no mesmo processo de vida sem crescimento. Romper com preconceitos e padrões preestabelecidos é um desafio, pois fará com que o líder, em alguns momentos tenha que se contrapor com a sociedade religiosa, o que poderá levá-lo a críticas dessa mesma sociedade religiosa.
Outro ponto importante visto sob essa ótica da quebra de preconceito é o fato de permitir que o liderado tenha sua própria experiência com o Divino sem que essa experiência seja ditada por um modelo. Permitir-se enxergar na criação, tal como o salmista enxergava, a soberania do Divino é ter a percepção pessoal desse, sem a interpretação pré-moldada por outra pessoa.
4 – Terceiro aspecto: Quebrar o gelo
Por quebrar o gelo, quero definir a mudança de postura da liderança, que na maior parte do tempo se coloca como acima dos liderados, algo parecido com a inexistente divisão de pátio, lugar santo e santo dos santos da antiga aliança. Esta postura faz da liderança pessoas frias, que evitam o contato, o diálogo e o envolvimento. A liderança não pode ser fria. Não pode pressupor que o remédio que os liderados precisam é simplesmente o aprendizado de ser crente. Não podem contentar-se em ver que seus liderados são por vezes ludibriados com uma promessa de oração, quando na realidade o que eles precisam não é uma conversa com o Divino, mas um diálogo com o humano. Tratar os transtornos de fundo psicológico, emocional, sentimental como se fosse todos de um mesmo contexto, o espiritual, é no mínimo fazer com que o liderado sofra muito mais por receber o “remédio” na dose errada e no tempo errado. Algumas perdas e decepções nunca serão solucionadas com oração, mas o diálogo poderá ser o determinante na cura do individuo que sofre. Por vezes, a frieza da liderança em relação a dor do liderado evoluirá para uma insensibilidade que fará do liderado alguém a ser evitado e questionado em sua liderança.
5- Conclusão
Os três aspectos citados, se vivenciados, produzirão uma experiência de liderado e liderança muito parecida com a vivenciada nos tempos de Jesus, que convivia com pessoas de vivências complicadas para a sociedade religiosa da época, mas Permitia que essas pessoas se mostrassem tal como eram. Ao perceber como eram, não emitia simplesmente juízo de valor, mas os entendia nas suas dores e interagia com eles. A experiência do livro mostra um relacionamento entre o médico Marco Polo e os seus pacientes numa perspectiva semelhante, onde o médico já não se posiciona como alguém acima, mas como alguém que pode conviver e dividir experiências e aprendizados.
6 – Bibliografia
CURY, Augusto Jorge. O Futuro da Humanidade. Brasil, Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2005 4ª edição.
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