Estamos vivendo um momento de esperança, mas de uma esperança que não se senta para esperar. Esperança que pinta o rosto, carrega faixas, grita, caminha, mas se precisar, corre para continuar sendo esperança.
Não é mais uma esperança conceitual, mas uma esperança que se humaniza, vira gente, vira povo, que grita suas dores, seus temores, falando do que não aguenta mais esperar.
O grito de esperança não sai somente da boca, mas brota da alma, do coração. Não é um grito de vários grupos, mas é o grito de uma nação, que se recusa a calar-se diante do que se fez e faz com o país.
O grito não se restringe aos jovens, que mesmo sendo a maioria, leva consigo pessoas que já estão com os cabelos brancos e muito mais cansados de toda a injustiça. É o grito dos pais com os filhos, dos avós com os netos, dos tios com sobrinhos.
O grito não é novo, nem é o grito da época da ditadura, mas é o grito de eras, daqueles que nunca aceitaram injustiça, seja ela de que forma for.
O grito já foi também do homem simples, marginalizado, que cansado de ver seu povo pagando pelo que deveria ter de graça, invade o templo, algo como que o Senado de sua época, e grita “fora daqui, você que transforma a minha casa, casa do povo, em esconderijo de ladrões”, e se fosse hoje completaria, “você não nos representa”.
Esse grito também não foi por uma causa só, por alguns centavos pagos ao templo, mas era o grito de quem viu a fome de perto, a degradação de homens e mulheres, vendidos como escravos para pagar o que deveria ser de graça, podridão onde deveria existir santidade, enfim, era o grito por várias causas que já estavam entaladas na garganta, sufocando mais que o corpo, sufocando a própria esperança.
Essa esperança, me lembra a esperança na ação do Cristo, que não se rebelou, mas que revolucionou e o fez de forma dinâmica. Se Jesus fosse feito Cristo hoje, liberaria seu sinal wi-fi, iria para as ruas e gritaria #vemprarua, e diria que ele morreria pela esperança, mas ressuscitaria vitória sobre a injustiça.
Esse é também o momento dos que se comprometem com o verdadeiro evangelho, não o anátema, que se acomoda, ou que luta uma luta de ódio a grupos específicos, mas o evangelho de boas novas, de esperança, de alguém que sabe até que pode sofrer, correr, cheirar gás, morrer, mas que no fim de tudo, tal como o mestre, terá feito parte da história de esperança de vida deste país.
É a hora dos cristãos, que não se sentem representados por líderes religiosos vendidos, tal como nos dias de Jesus, irem para as ruas e gritar o grito que não lhes cabe mais no peito. Gritar contra a fome, o preconceito e a injustiça, pois o testemunho que se dá com a vida, se dá também com ação a favor da vida.
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