Tradução Almeida Revista e Atualizada: Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele. Provérbios 22.6
Tradução do Hebraico, interlinear, para o inglês e do inglês para o português: Quando treinares uma criança no caminho como ele deve ir não deixará nenhum quando for velho.
Introdução
Vamos refletir um pouco sobre o provérbio lido e a primeira coisa que precisamos pensar é o que de fato ele é: um provérbio. Muitas pessoas tem se frustrado ao interpretar erroneamente este texto como uma promessa. Para ser uma promessa, ele teria que ser uma realidade na vida de todas as pessoas que ensinaram o menino no caminho em que ele deve andar. Neste caso, teríamos dois problemas. O primeiro, quando os pais ensinam o menino no caminho em que deve andar, mas ele se desvia depois de velho. O segundo problema, se dá com pessoas que não fazem diferença sobre que tipo de caminho deva ensinar aos filhos. É possível que o caminho que você queira para o seu filho, seja diferente do caminho que outra pessoa queira.
Outra coisa importante está relacionada com o texto tal como ele foi escrito no hebraico. Enquanto no português há uma recomendação – Ensina – No hebraico há uma percepção de tempo ou de momento – Quando – Quando treinares uma criança no caminho como ele deve ir não deixará nenhum quando for velho. Parece-me que no contexto em que o provérbio foi utilizado, não havia ainda a aplicação desse tipo de ensinamento.
Vamos refletir, então, sobre algumas colocações do texto do provérbio.
1. Ensina
O provérbio que foi lido fala sobre ensinar. Ensinar não é uma das tarefas mais fáceis. Para que alguém ensine alguma coisa a outro alguém, é preciso primeiro ter aprendido. Uma pessoa que não aprendeu sobre determinado assunto, terá dificuldades para ensinar sobre esse assunto. Aprender, nesse caso, exige aplicação ao que foi ensinado, e ainda, fidelidade ao que foi ensinado. Quando nós aprendemos sobre a lei da gravidade, nós passamos a ser fiéis a esta lei. A lei da gravitação universal, ou mais conhecida como lei da gravidade, postula uma série de ensinamentos relacionados com a existência do universo. Mas destaco aqui uma pequena parcela da lei da gravidade que afirma que a atração gravitacional da terra confere peso aos objetos e faz com que caiam no chão quando soltos. Quando uma criança não tem conhecimento disso, possivelmente não dê tanta importância, mas a partir do momento em que passamos a conhecer, passamos a ser fieis ao que aprendemos. De outra forma, mesmo que discordemos da lei da gravidade, ela continuará sendo eficaz em seus postulados. Eu posso não acreditar na lei, mas se eu pular do vigésimo andar de um prédio, eu não flutuarei só por que não acreditei e fui fiel a lei da gravidade.
Não conseguiremos incutir no coração e na mente de nossos filhos, nenhum tipo de conhecimento dos quais não nos relacionemos bem com ele. Não se ensina honestidade, sendo desonesto. Não se ensina gentileza sendo rude. Não se ensina aquilo que não se aprende.
2. O menino/a criança
Quando o escritor descreve o objeto do nosso ensino (menino/criança), o que de fato ele pretende nos mostrar é que a tarefa de ensinar é algo que deve começar cedo. E não pensemos que esse cedo é quando a criança está apta para viver sua vida social em uma unidade de ensino. Para que tenhamos uma ideia, no contexto da vida judaica, ao completar 12 anos, idade que para nós ocidentais somos considerados como crianças, o menino participava de uma cerimônia chamada bar-mitzvah. Nessa cerimônia ele era considerado apto a responder por todas as responsabilidades de um homem judeu no que se referia a sua religião. Nesse sentido, o menino, a criança deste texto é muito mais nova que uma criança de doze anos. O que acontece hoje, é que temos deixado para muito mais tarde a tarefa de educar nossas crianças. E quando percebemos, já está na hora dela frequentar as cadeiras de uma escola e passará pelas mãos de profissionais que nem sempre tem o compromisso com o ensino de verdades que julgamos fundamentais.
3. No caminho
Talvez a parte mais crítica desse texto seja essa. Devemos ensinar, mas ensinar NO caminho. Ensinar NO caminho, nos mostra que não estamos dando instruções para que alguém trilhe um caminho. O que de fato o texto mostra é que esse ensinamento se dá DURANTE a caminhada. Ensinar o caminho é mais fácil, precisa apenas que se conheça como sair do ponto A e chegar ao ponto B. O que acontecerá entre os dois pontos, para quem ensina O CAMINHO, não é relevante. Entretanto, para quem ensina NO CAMINHO, as realidades são diferentes. Do ponto A ao ponto B há um percurso que nem sempre é reto. Haverá dificuldades NO CAMINHO. Haverá desejo de sair do caminho para seguir por atalhos. Haverá quedas, decepções, frustrações e quem ensina NO CAMINHO passará por isso tudo.
Ensinar NO CAMINHO é mais difícil do que ensinar O CAMINHO. Mas a diferença fundamental entre um e outro é que ensinando NO CAMINHO, você é um participante da caminhada, podendo ser um referencial nessa mesma caminhada e ensinando O CAMINHO você é somente alguém que fala, mas não interage, não vivencia, não experimenta. Quem ensina O CAMINHO, enxerga o início da caminhada, mas quem ensina NO CAMINHO enxerga a meta alcançada.
4. Em que deve
Há uma diferença crucial entre as expressões “EU TENHO QUE ANDAR” e “EU DEVO ANDAR”. A primeira, pré-supõe obrigação, destino certo, ao passo que a segunda denota sugestão, opção. No caminho em que deve andar, não é uma ordem a ser cumprida, mas uma sugestão.
5. Autoridade necessária/disciplina com afeto
Para que haja autoridade e disciplina com afeto é preciso que se tomem algumas decisões.
- Assumir a responsabilidade da educação.
A educação de uma criança, não é tarefa de ninguém a não ser de seus próprios pais. Delegar essa tarefa aos professores da escola, a uma babá, a uma creche, aos professores da Escola Dominical, é seguir um caminho para a geração de pessoas que serão contrárias a autoridade. Esses elementos existentes na vida de uma criança, não são os elementos principais, logo, não terão a efetividade dos elementos principais que são os pais. Rapidamente a criança perceberá que dizer “você não manda em mim, você não é meu pai” é um caminho para refutar qualquer tipo de ação delimitadora aplicada à criança.
- Estar presente na vida dos filhos
Estar presente é muito mais que estar no mesmo ambiente. Estar presente está relacionado com envolvimento, comprometimento, colaboração, percepção das dificuldades e necessidades de cada filho. Para estar presente, nesse sentido, é preciso dispor de tempo e de olhos e ouvidos abertos.
- Ter autoridade sobre os filhos
Vivemos hoje em uma crise de autoridade. Uma olhada rápida na situação dos professores e seus alunos mostrará isso claramente. Os pais devem ter autoridade sobre os filhos. Não devemos confundir autoridade com autoritarismo. Se a educação ao menino e no caminho, será possível mostrar aos filhos que os pais estão em uma posição de liderança, e , por conta disso, precisam ser respeitados como tal. Mas isso não acontecerá a partir da criança, e sim a partir dos pais que construirão isso na criança. Nesse processo, é fundamental que um parceiro não desautorize o outro na frente do seu filho. Uma família bem estruturada, gerará filhos e famílias bem estruturadas.
- Dar limites aos filhos.
Dar limites não significa prender. Dar limites significa mostrar para a criança que ela tem uma esfera de ação, mas que essa esfera não é tão ampla hoje, quanto poderá ser amanhã. Os pais que foram fortemente cerceados em seus limites e se sentiram constrangidos pelo autoritarismo de seus pais, tenderão a ser mais flexíveis com os filhos e, em muitos casos, flexíveis em extremo. O educador Içami Tima afirmou que: “”Um pai ou uma mãe que engole os próprios princípios e se cala a cada má criação dá um atestado de que não se respeita, e os filhos entendem isso como um sinal para que não o respeitem também.”
- Assumir os erros cometidos
Os pais ao se depararem com filhos que não correspondem às suas expectativas, tendem a colocar toda a culpa nos filhos. Na certeza de que ensinaram, acreditam que se os filhos erram a culpa é dos filhos. Precisamos perceber onde nós como pais erramos, retornarmos ao motivo que produziu em nossos filhos o erro do presente e sermos coerentes com aquilo que pregamos. Muitos pais acham que não precisam pedir perdão aos filhos. Nesse achismo, por vezes perpetuam uma situação de rebeldia familiar. Se os filhos erram, devem ser corrigidos. Mas se nós como pais erramos, precisamos cortar na própria carne e pedir perdão se necessário for.
Conclusão
Filhos precisam ser ensinados e disciplinados. Nossa tarefa é difícil, mas não deve ser delegada a outras pessoas, sob pena de gerarmos pessoas tão distantes de nós que não conseguiremos ensiná-los no caminho em que devem andar.
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