Sobre gastronomia, pássaros e liberdade.

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. João 14:6

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. João 8:32

Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais. João 8:10,11

Passarinho_gaiola

Depois que meu pai foi ao encontro do Eterno, me apeguei a algumas coisas que eram da realidade dele. A primeira experiência foi com a gastronomia.  O primeiro arroz que fiz, nem minha cachorrinha conseguia comer: duro e salgado. O segundo, pastoso e sem sal. Do terceiro em diante, consegui acertar a mão. Nas duas primeiras tentativas, fiz por obrigação e acho que isso explica o fracasso. Há coisas que precisam de desejo, vontade, em sem querer “sazonificar” o texto, precisa de amor. Passada a fase da obrigação, e com inclusão dos ingredientes que faltavam, passei de um cozinheiro medíocre para alguém que conseguiu arrancar alguns elogios.

A segunda experiência foi com a criação de pássaros. Meu pai dedicava um devotado tempo para cuidar dos dele. Confesso que ainda não me aventurei. Tive vontade, mas todas as vezes que chegava nas lojas onde são vendidos, pensava que ao comprar algum pássaro, estaria contribuindo para que um mercado de venda de vidas fosse perpetuado. Eu que sou a favor da vida livre, onde um ser não pode ser carcereiro do outro, não gostei muito da ideia de ser um carcereiro de pássaros. Sei que quem cuida de pássaros dedica, como meu pai, todo cuidado, mas ainda não me vi como alguém que seria capaz de aprisionar.

Neste feriadão, tive tempo de pensar sobre isso e fui iluminado com uma ideia. Talvez nem seja tão original assim, mas foi um lampejo que me ocorreu e me fez bem. Ocorreu quando vi um pequeno pardal, timidamente se aproximando para comer  da comida da minha cachorrinha.

Então decidi. Vou comprar um viveiro de pássaros, com tudo que tem direito. Lugar para comer, beber água, pousar, descansar. A única diferença é que removerei a parte da frente para que os pássaros venham, comam, bebam, descanse e partam em liberdade.

Entendi que a melhor forma de amar é deixar livre, sem amarras, sem horas para ouvir o canto, sem exclusividade para raças, cores, tipos.

A ideia é antiga. Um dia um homem, diante de quem estava para ser aprisionado pela morte, no lugar de consentir  com esta prisão,  resolveu deixar livre. Da mesma forma que disse de si mesmo ser o caminho, a verdade e a vida, disse também “vá e não peques mais”. E disse ainda que quem conhece a verdade, é liberto pela verdade.

Pelo que fez, poderia ter exigido a vida toda de quem perdoou. Poderia ter exigido que ficasse por perto, para que pudesse monitorar, mandar, dizer aonde ir, como ser, o que fazer, o que comer e o que beber.  Mas quem ama de fato deixa livre. Não cria gaiolas. Religiões são gaiolas! São criadas por pessoas que, dizendo amar, escraviza, no lugar de libertar. Um amor que não liberta, jamais poderá ser considerado amor.

Começo com pássaros, no desejo de que outras vidas também venham, comam, bebam, pousem, descansem, mas no fim de tudo, sejam de fato livres.

1 comentário

  1. Perfeito.

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