Vergonhosamente vivendo a mesma história

Por orientação do Mestre José Magalhães, da faculdade de Teologia, assistimos um filme que contava a história de Martin Lutero. Não era o filme atual recentemente lançado no mercado, mas um mais antigo. A história, porém era a mesma. Este mesmo mestre solicitou que fizéssemos uma crítica do filme. O texto que aqui se segue é a minha crítica que faço do filme relacionando o mesmo com a história da igreja atual.

Só para orientação dos leitores deste blog, que não estão familiarizados com a história da igreja e a história da reforma protestante enumero a grosso modo o que se segue.

1. Jesus Cristo edificou uma só igreja. A pluralidade de igreja que se tem hoje é fruto da nossa incompetência de gerir o que o mestre havia deixado: a unidade do seu corpo.

2. Com o passar dos anos, aquela pequena igreja fundada por Jesus, cresceu e desviou-se do propósito principal do mestre. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” já não eram pontos importantes na igreja que crescia. Basta dar uma olhada básica nos livros de história e verificar essa realidade.

3. A partir do imperador romano Constantino, o cristianismo passa ser a religião oficial do império.

4. Instigado pelo Papa Leão X, Johann Tetzel começa a vender perdão de pecados (indulgências) para pessoas que estavam vivas, podendo essas comprar para seus queridos que já haviam morrido. As indulgências eram um dos meios utilizados pela igreja para angariar fundos para construção da basílica de São Pedro, em Roma.

5. Em 1517, Matin Lutero, monge agostiniano, publica 95 teses que feriam frontalmente os conceitos de Tetzel, do Papa e expunha este à realidade de que era incompetente para perdoar os pecados dos homens. Dessas 95 teses, surgiu o que conhecemos hoje como igreja protestante, ou reforma protestante.

Assistindo a história contata no filme, fui levado a questionar não aquele momento, pois já é história, mas o momento atual da igreja. É claramente perceptível que muito pouco mudou, e arriscaria dizer que muita coisa piorou de lá pra cá. Assim como se dizia que ao tilintar de moedas nos cofres da igreja, uma alma era liberta do purgatório, hoje, os líderes evangélicos, em sua maioria, que negam o dogma do purgatório passam pela mesma vergonha de valorizar muito mais o que a pessoa tem no lugar de valorizar a pessoa em si. No lugar de um documento que livrava a alma do pagante de todos os pecados (ou de quase todos, dependendo do valor pago), hoje se exibe outros tipos de artifícios para coletar dos fiéis o número máximo de valor monetário. Estamos vivendo dias de um verdadeiro mercado onde a mercadoria principal chama-se graça.(com letra minúscula para diferenciar da Graça de Cristo)

Uma passada rápida pelas principais denominações, e cada qual ao seu modo, relaciona a quantidade de moedas tilintando nos cofres da igreja com a paz e a prosperidade que Deus pode dar a quem dá a Ele primeiro. É uma desvirtuação total do que diz a oração atribuída a São Francisco “pois é dando que se recebe”, esquecendo os mercadores das indulgências modernas de que a referida oração está tratando do relacionamento interpessoal e não de bens materiais. “Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna.” Esquecem os modernos vendedores de indulgências que o mais importante e fundamental da Graça de Cristo é que ela é exatamente isso: de graça. Se faço parte de uma associação, é claro que vou contribuir com o desenvolvimento financeiro dela, mas daí a pensar que sou mais abençoado a medida que dou mais, existe um abismo gigantesco. Nessa perspectiva, pessoas são diariamente trituradas, torturadas, espancadas em suas consciências por não poderem dar mais e são constantemente taxadas de homens de fé débil.

É de uma incoerência total criticar a igreja antes da reforma e elogiar a igreja que surgiu com a reforma protestante se o que vivemos agora é a mais pura, se não pior, expressão da realidade daquela época instauradas nos nossos dias.

O que fazer então? Aguardar o próximo Lutero e esperar sua reforma?

Esse próximo Lutero não virá nunca. Está nas mãos daqueles que compreendem a Graça de Cristo como algo realmente oferecido sem custas ao homem, fazer esta mudança, sem querer ter a pretensão de uma nova reforma religiosa. De reforma religiosas já estamos fartos e com ânsia de vômito. Não precisamos que se reforme a religião, mas que se transforme os corações, libertando-os do jugo de homens enganadores, vendedores de toda espécie de bugigangas espirituais.

Precisamos nos libertar dos famosos “compre o meu livro e você terá sua vida transformada”, “compre meu cd e seu louvor será um cântico novo”, “compre minha apostila e você será um homem de Deus aprovado”.

Basta! Não compremos falsas idéias e joguemos o que não presta fora! Despojemo-nos de toda sorte de mesquinharia pseudo-evangélica pra viver o que o verdadeiro evangelho é: vida com Cristo e vida em Graça e de graça.

O ser humano não estás a venda. Já fomos comprados por um alto preço. Não precisamos mais pagar por nada, nem por nossos pecados. Todos eles foram pagos na morte do Filho.

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